Repercutiu nacionalmente, a fala recente de uma estudante do curso de relações internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) que denunciou publicamente um professor, por assédio moral contra ela e por assédio sexual contra outras colegas de curso. A denúncia aconteceu durante a cerimônia de abertura de um fórum internacional realizado no campus V da UEPB, em João Pessoa, da qual a estudante, que pediu para não ser identificada, foi a cerimonialista. O evento foi transmitido ao vivo pelo YouTube, na última quarta-feira (22).
“Eu gostaria muito de deixar claro que dentro da UEPB há acontecido alguns casos de assédio oriundos de um professor específico, o professor dr. Paulo Kuhlmann. Eu fui uma das alunas assediadas. Paulo sugeriu que eu, como mulher, não poderia participar e estar ativa no FoMerco (Fórum Universitário Mercosul, evento no qual aconteceu a denúncia) porque eu sou mulher e estaria tendo um caso com o coordenador do curso”, disse a estudante na abertura do evento.
Paulo Kuhlmann é professor da UEPB no curso de relações internacionais e mestre e doutor em ciência política, com estudos focados na diminuição de violência e construção de paz a partir do âmbito local. Além de ser professor, ele também atua em um trabalho de palhaço social.
Ainda de acordo com a estudante, após a fala do professor, ela procurou a ouvidoria da UEPB para denunciá-lo, mas a denúncia não foi acatada. “A ouvidoria disse que era a minha palavra contra a do professor, e que como eu não tinha provas, não tinha como provar o que ele disse. Ele [o professor] perguntou se eu estava na lista de peguetes do professor Carlos Enrique, e a ouvidoria não acatou as minhas denúncias, então eu entrarei com um processo jurídico e um boletim de ocorrência contra o dr. Paulo Kuhlmann”, afirmou.
Ainda durante a fala, a estudante relatou outros casos de assédio, desta vez sexuais, e que teriam acontecido contra outras colegas. “Eu falo por todas as vítimas do Paulo, foram muitas vítimas, muitas meninas que vieram até mim e que vieram denunciar esse professor que é um assediador. […] Eu não mereço ter que ouvir um professor dizer que eu estaria tendo um caso com o coordenador do curso no meio do meus colegas; um professor que sai dizendo, para uma menina que apresentou um trabalho, que ele iria gozar depois da apresentação dela; de virar para uma outra menina e dizer que tem tesão nela; e de sugerir o uso de vibradores com alunas. Isso é inaceitável e a UEPB foi omissa, porque foi denunciado”, relatou.
Vídeo da aluna:
Veja a carta escrita por alunos do projeto de extensão do professor:
João Pessoa, 23 de novembro de 2023,
Escrevemos esta carta para expressar confiança e nosso firme apoio ao Professor Paulo Kuhlmann. Paulo é um professor que há anos está engajado na produção de um conhecimento crítico que ultrapassa os muros da universidade pública. Com projetos de ensino e extensão, como o PUA (Projeto Universidade em Ação), que opera uma luta incessante no combate à violência estrutural que cerca nossa sociedade.
O papel que Paulo exerce no ambiente acadêmico é ímpar e exemplar. Um professor compromissado com o ensino de qualidade, com uma extensão ativa e que, de fato, utiliza o conhecimento científico para combater problemas sociais. Além disso, um exemplo de pessoa, aberta ao diálogo, defensor das pluralidades e das lutas contra todos aqueles e aquelas que foram e são marginalizados.
É diante desse cenário que externamos com grande preocupação e empatia àqueles e aquelas que lutam contra todas as formas de violência o que se viu, ontem, na abertura do FoMERCO.
O atual cenário brasileiro observa a emergência de grupos que por questões políticas e ideológicas perseguem professores que desenvolvem um senso crítico e que produzem um saber que ultrapassa os muros que cercam as universidades públicas brasileiras. Por isso, é com grande consternação que vemos a disseminação de acusações que podem causar danos significativos às pessoas envolvidas e à integridade da comunidade acadêmica.
Acreditamos firmemente nos princípios da verdade, justiça e respeito mútuo. Nossa comunidade deve ser um lugar onde a honestidade e a transparência são valorizadas e onde todos sejam tratados com dignidade e a partir de princípios constitucionais. Reiteramos, por isso, a preocupação diante das acusações recentemente feitas e afirmamos que somos a favor de uma investigação completa e imparcial, que revele a veracidade da situação.
É vital às instituições de ensino público, que prezam pela sua qualidade, garantir que a verdade prevaleça e que medidas adequadas sejam tomadas para corrigir qualquer dano causado e contra aqueles e aquelas que, no fervor vintage, maculam a honra, a credibilidade e o trabalho de décadas de professores e agentes da educação pública.
Ressaltamos revolta ao não acolhimento institucional direcionado à aluna declarante. A postura da atual organização FoMerco foi irresponsável em oportunizar abertura pública, online e presencial, para um membro de sua própria organização – cuja estudante é também vinculada à UEPB, com acesso constante à coordenação do curso de Relações Internacionais (RI) e demais membros envolvidos na organização do evento, inclusive, vinculados ao departamento de RI -, não a instruindo quanto às possíveis tratativas cabíveis, que lhe são de direito. Um palco acadêmico jamais será um espaço para tratar os meandros de uma questão dessa magnitude. Desejamos que haja um processo investigativo e que ocorra com coerência, agilidade e, sobretudo, responsabilidade.
Porquanto, encorajamos e reiteramos a necessidade de transparência e cooperação total durante esse processo, a fim de restaurar a confiança e a integridade de todas as partes envolvidas. Acreditamos que, ao abordar esse problema com seriedade, podemos fortalecer nosso compromisso coletivo com a justiça e com o combate à perseguição.
Redação
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