No momento em que foi derrubada, em meados de fevereiro deste ano, a pirâmide financeira paraibana Braiscompany possuía uma carteira de R$ 1,1 bilhão e 18.570 clientes. Os números fazem parte de uma planilha de controle interno da própria empresa que foi encontrada durante as investigações da Polícia Federal.
A documentação serviu de base para o Ministério Público Federal fazer na terça-feira (8) uma denúncia – aceita pela Justiça – contra 13 integrantes da companhia.
Os documentos mostram também que a Braiscompany dedicava muito mais atenção à captação de novos clientes do que à gestão de recursos arrecadados.
A empresa possuía 459 brokers e consultores (pessoas que vendiam contratos) frente a apenas 21 traders (profissionais que supostamente fariam os investimentos que possibilitariam os recursos que eram pagos aos clientes).
“O papel central dos brokers em detrimento dos traders revela-se também pela análise das remunerações pagas a essas duas categorias de profissionais. Pela lógica, quem multiplica o capital e proporciona o lucro necessário para pagamento dos rendimentos mensais deveria receber remuneração maior e ser mais prestigiado do que quem apenas atrai novos clientes e celebra novos contratos. No caso da Braiscompany, os valores eram invertidos. Os vendedores eram supervalorizados, enquanto que os operadores eram escanteados”, diz o MP no processo apresentado à Justiça.
Antonio Neto e Fabrícia Campos, criadores da Braiscompany, estão foragidos da Justiça. A denúncia do MPF afirma que ambos fugiram para a Argentina, usando os passaportes de parentes.
Como a pirâmide ruiu
O MPF incluiu na denúncia um gráfico para mostrar como ocorreu o colapso da pirâmide do ponto de vita financeiro. Na imagem abaixo, a linha azul representa os repasses feitos aos clientes; já a linha laranja representa a quantidade de Bitcoins que a Braiscompany comprava para pagar os rendimentos prometidos.
Em agosto de 2022 a empresa para de conseguir comprar os bitcoins, mas seus repasses seguem aumentando até dezembro daquele ano. Já no início de 2023 ambos os indicadores vão a zero.
Segundo as autoridades, a partir de novembro, a Braiscompany iniciou uma série de compras de Bitcoin (BTC) utilizando um saldo em stablecoins da Tether (USDT) acumulado ao longo dos anos para evitar um declínio ainda mais acentuado do saldo e manter a realização dos pagamentos devidos.
Porém, com a desvalorização do Bitcoin, a empresa não chegou nem perto de ter saldo suficientepara pagar.
“Entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, a reserva de 4.2 milhões de USDT foi consumida para adquirir um total de 254 bitcoins, equivalente a R$ 23 milhões no período. Valor insuficiente para manter os pagamentos mensais que passavam do triplo deste valor”, aponta a denúncia.
Donos e funcionários da Braiscompany viram réus
A 4ª Vara Federal da Seção Judiciária da Paraíba acatou na terça-feira (8) a denúncia do Ministério Público Federal na ação penal contra os sócios da Braiscompany, suposta pirâmide financeira com criptomoedas que deixou de pagar os clientes no final de 2022.
Na sua decisão, o juiz federal responsável pelo caso, Vinícius Costa Vitor, aponta que o fato de o casal líder da Braiscompany, Antônio Neto Ais e Fabrícia Campos, estar foragido, torna necessário a citação deles como réus na ação penal.
Na denúncia do MP vista pelo Portal do Bitcoin, além do casal, outras 11 pessoas ligadas ao esquema da Braiscompany também se tornaram réus na ação, incluindo: Victor Hugo Lima Duarte, Mizael Moreira Silva, Sabrina Mikaelle Lacerda Lima, Arthur Barbosa da Silva, Flávia Farias Campos, Fernanda Farias Campos, Clélio Fernando Cabral, Felipe Guilherme da Silva Souza, Gesana Rayane Silva, Fabiano Gomes da Silva e Deyverson Rocha Serafim.
A dupla de criadores da pirâmide também foi recentemente intimada a prestar depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras instaurada na Câmara dos Deputados para investigar os esquemas que usam criptomoedas para enganar investidores brasileiros.
Fonte: Portal Bitcoin