O perigo de dar mídia a assassinos – Massacres como o que deixou ao menos dez mortos e 11 feridos em uma escola em Suzano, na Grande São Paulo, na quarta-feira, costumam ser seguidos por dias de cobertura intensa da mídia, muitas vezes com foco específico nos autores.
Para a americana Jaclyn Schildkraut, professora de Justiça Criminal da State University of New York (Universidade Estadual de Nova York) em Oswego, nos Estados Unidos, que há vários anos estuda massacres em escolas e universidades do país, esse excesso de atenção acaba recompensando os atiradores, ao torná-los famosos, e pode inspirar novos ataques.
"Tipicamente, a cobertura da mídia é centrada no atirador, em vez de focar nas vítimas ou nos heróis que responderam ao ataque", diz Schildkraut à BBC News Brasil. "Isso recompensa essas pessoas por matar outras pessoas e incentiva outros ataques semelhantes", afirma a especialista, autora do livro Mass Shootings: Media, Myths and Realities ("Tiroteios em massa: Mídia, Mitos e Realidades", em tradução livre). Schildkraut e outros especialistas ressaltam que uma das motivações desse tipo de massacre é a busca de atenção, fama e notoriedade.
"(Com o foco no atirador) você está dizendo àqueles com ideias semelhantes que também serão recompensados com fama se fizerem algo parecido, ou até pior", observa. “Efeito imitação” Diversos estudos nos Estados Unidos analisam o fenômeno no qual autores de tiroteios buscam alcançar ou superar a fama de atiradores anteriores, matando ainda mais pessoas, no que é chamado de "efeito imitação".
A cobertura intensa da mídia sobre os autores, o número de vítimas e a magnitude da tragédia, com termos como "o maior" ou "o pior", acaba colaborando para esse ciclo. As razões por trás do ataque na escola paulista ainda estão sendo investigadas pela polícia, que busca pistas para entender o que levou os dois ex-estudantes a entrarem atirando na escola, atingindo vítimas aparentemente aleatórias.
Mas, segundo o delegado-geral encarregado do caso, Ruy Ferraz Fontes, a motivação parece ser uma busca por reconhecimento de parte da comunidade. "Eles queriam demonstrar que podiam agir como (no massacre de 1999) em Columbine, com crueldade", disse ele à imprensa.
Em geral, "existe, de fato, um roteiro seguido em ataques desse tipo", diz à BBC News Brasil Gabriel Zacarias, que é professor de História na Unicamp e estudioso de casos recentes de extremismo islâmico na França (abordados no livro No Espelho do Terror: Jihad e Espetáculo; ed. Elefante, 2018). "A escola muitas vezes é identificada como um lugar de opressão e ressentimento, e atiradores costumam ter alguma relação traumática não elaborada com aquele lugar. Existe, muitas vezes, uma dificuldade (dos perpetradores) de se inserir no normalmente aceitável."
Zacarias é autor de livros e artigos que analisam esses massacres sob a ótica da espetacularização, ou seja, da busca dos perpetradores por atenção e reconhecimento midiáticos.
Redação com BBC brasil
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