Como mais de dez anos de exercício profissional muitas vezes me deparo com situações que testam nossa paciência e experiência no trato social. Mas, advogar é tolerar!
Nos últimos meses a Justiça entrou em um dos maiores ciclos de letargia, onde a inércia e a paralisia processual é o tom das marchas processuais. Como apreendi desde cedo, o processo só anda com a diligência do advogado, já que o “impulso oficial” esta em desuso há décadas.
Em minhas passagens pelos diversos cartórios me deparei com uma situação de flagrante desrespeito as prerrogativas e direitos advocatícios.
Eis que certo servidor da justiça comum da Paraíba, que acabou de ser empossado, me dispensou tratamento de desprezo e desrespeito.
Naquele momento estava tratando de processo de idosos, que litigam contra empresa grande porte, e solicitava o cumprimento de despacho judicial, com a simples publicação de nota de foro.
Contudo, em tom petulante e superior recebi a negativa do serventuário, sob o argumento de que o processo já havia tramitado muito rápido nos últimos dias, não podendo ser tratado diferentemente dos outros processos.
De plano, retruquei dizendo que se tratavam os autores de pessoas pobres, além de serem idosos, que gozam de direito a tramitação prioritária. E que como estava no cartório, deveria ser atendido. Como senhor de tudo e de todas as coisas o novel servidor simplesmente disse: “Só farei amanhã, Doutor! É muito serviço!”
No outro dia, religiosamente estava lá no mesmo Cartório a rogar a compreensão do autoritário servidor, que mais uma vez veio com a mesma desculpa: “Doutor seu processo já andou demais, o momento é de descansar um pouco. Só tramitarei amanhã!”
No terceiro dia, a mesma cantilena do desavisado e preguiçoso servidor, que sempre em tom de superior, como se fosse, o grande “Guga”, premiado em Roland Garros, sentenciou dizendo que não seria o momento de tramitar o processo.
Quase tomei medias judiciais e administrativas cabíveis, mas tolerantemente aguardei a prepotência e a arrogância se dissipar, já que o jovem servidor, recém-empossado, teria muito a aprender com a vida.
Na verdade, tolerância é a capacidade de aceitar o diferente!
Conta a parábola que um pregador reuniu milhares de pessoas para pregar-lhes a verdade. Ao final da pregação, em vez de aplausos houve um grande silêncio. Até que uma voz se levantou ao fundo: “O que o senhor disse não é a verdade”. O pregador indignou-se: “Como não é verdade? Anunciei o que me foi revelado pelos céus!” O objetante retrucou: “Existem três verdades. A do senhor, a minha e a verdade verdadeira. Nós dois, juntos, devemos buscar a verdade verdadeira”.
Só o intolerante que se julga dono da verdade, assim ocorre com o inexperiente servidor, em estado probatório, se mantém intransigente e não cumpre seu DEVER em assegura o direito de idosos.
Pode-se aplicar ao tolerante o perfil descrito por São Paulo na 1ª carta aos Coríntios (13, 4-7): “é paciente e prestativo, não é invejoso nem ostenta, não se incha de orgulho e nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita nem guarda rancor. Não se alegra com a injustiça e se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
Ser tolerante não significa ser bobo, nem tão pouco é sinônimo de tolice. O tolerante não faz tempestade em copo d’água, não gasta saliva com quem não vale um cuspe. Contudo, o tolerante, jamais cede quando se trata de defender a justiça, a dignidade e a honra, sempre agindo com seus princípios e conforme a sua consciência.
Aos jovens advogados, lembre-se que a tolerância é uma dos principais pilares do exercício da advocacia, contudo, nunca deixem de reivindicar seus direitos, nem se humilhem diante de pessoas inescrupulosas e arrogantes. Assim é a arte de advogar!