A eleição deste ano entra para a história política da Paraíba escrevendo uma página nada agradável. Acusações pessoais, brigas partidárias e insultos à parte, o que mais vai chamar a atenção dos que vivem a política é mesmo o processo de aproximação entre políticos que, em outras épocas, nem pensariam em subir num mesmo palanque, mas que, agora, esqueceram as diferenças e o que disseram durante toda uma vida política.
Alguém pode dizer que, numa democracia, as pessoas tem o livre arbítrio de estar com quem quiser e defender qualquer ponto de vista. Mas não estou falando dessa liberdade, mas dos impedimentos éticos, morais e de caráter que evitariam tais uniões.
Foi nesta campanha que vimos adversários históricos, que no passado se digladiavam, um chamando o outro de ‘ultrapassado’, ‘corrupto’, ‘ladrão’, ‘mal-caráter’, dentre tantos outros adjetivos – a maioria, impublicáveis – que eu mesmo já ouvi da boca dos que, hoje, se juntaram em nome de um punhado de votos e em detrimento da manutenção de suas posições morais e éticas.
Falar de moral e de ética na política sempre foi um complicador nas rodas de conversas. E, agora, o eleitor poderá ter mais claramente a idéia de quem, realmente, merece esse conceito. Quem, nesta campanha, manteve-se coerente? Quem manteve o discurso? Quem continuou do lado onde sempre esteve em nome de sua honra e de sua postura político-partidária? Poucos…
O pior é que essa mudança de postura e de pensamentos acarretou uma série de traições nunca antes vista na política paraibana. Até bem pouco tempo, era raro ver, no horário eleitoral gratuito, um político aparecer no tempo pertencente à sua coligação defendendo outra idéia ou outro candidato que não os de seu grupamento político. E, quando isso ocorria, era visível o constrangimento a que se submetia.
Esse ano foi bem diferente. Ver políticos na TV defendendo a ética e, no mesmo dia, abraçando-se a quem sempre criticou foi o mínimo. Mais que isso, vimos candidatos que, no período pré-eleitoral, defendiam ardorosamente o seu partido e sua coligação, mas que na campanha depravaram-se – permitam-me o uso do termo.
Se a traição e a incoerência política ajudaram uns tantos, também prejudicaram alguns. E posso dizer que o mais prejudicado foi o senador Vital do Rêgo, candidato a governador pela Coligação Renovação de Verdade.
Vital entrou na disputa depois de um longo processo de traições ocorrido já na pré-campanha, responsável pela saída de seu irmão Veneziano do processo sucessório estadual, até então o nome mais forte do partido para disputar o Governo do Estado. Veneziano sai e, para evitar que o PMDB se esfacelasse, ante a ameaça de candidatos se entregarem de mão beijada a Cássio ou a Ricardo, Vital tomou a decisão de se candidatar.
Mas para que isso ocorresse, ele contou com o apoio do seu partido, dos candidatos a deputado estadual e federal, do presidente do PMDB José Maranhão, dos diretórios do PMDB em todo o estado e dos 58 prefeitos peemedebistas. Se as palavras empenhadas tivessem sido cumpridas, o PMDB estaria em situação bem mais confortável hoje.
Mas veio a eleição e os prefeitos peemedebistas – com exceção de dois heróis – entregaram-se a acenos impublicáveis. Da mesma forma, fizeram os presidentes dos diretórios, que seguiram o mesmo caminho. E, o mais grave, os próprios candidatos à Câmara Federal e à Assembléia Legislativa.
Como o povo vai reagir a isso tudo, não se sabe. Mas dessa campanha tiramos uma certeza: a de que se torna urgente a discussão de uma reforma política mais dura, que evite esse verdadeiro festival de arruaças político-partidárias que tomou conta de nossa Paraíba. O futuro da ética e da coerência na política da Paraíba depende disso. Caso contrário, em 2016 a coisa tende a feder ainda mais. Se é que tem como…