O pedido de exoneração do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, no início da tarde desta sexta-feira (15) desencadeou uma onda de choque similar aos efeitos colaterais de terremotos ou de uma erupção vulcânica submarina. Ou seja: uma vasta e furiosa tsunami política e econômica que assolou novamente o Brasil. O quadro já não era promissor, e agora pode ser chamado de catastrófico.
Para piorar a “tempestade perfeita”, todos sabem que existe (isso é fato) uma pandemia causada pelo novo coronavírus que já ceifou milhares de vidas em todos os continentes. No Brasil foram registradas 14.455 mortes provocadas pela Covid-19 e 212.198 casos confirmados da doença em todo o país até esta sexta (15).
E no meio de todo esse caos, de repente, o presidente Jair Bolsonaro acordou de mau humor na manhã de hoje e resolveu intimar Nelson Teich para uma reunião de emergência. Nela, o ex-ministro entregou o cargo mostrando tristeza por não ter cumprido sua missão. A missão de salvar vidas como médico e chefe do Ministério da Saúde.
Teich praticamente entrou mudo e saiu calado da pasta que comandou por breves 28 dias. Além do mau humor de Bolsonaro, contribuiu para o desgaste do ex-ministro seu embate direto com o presidente da República.
Opiniões divergentes, Bolsonaro exige o uso quase indiscriminado da cloroquina nos pacientes acometidos pela Covid-19, além do desejo de flexibilizar, ou até aniquilar o isolamento social por entender que tal expediente é devastador para a economia do país.
Teich, como seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, foram contra e seguiram as orientações de especialistas e da própria Organização Mundial da Saúde. Existe, também, um protocolo avalizado pelo Conselho Federal de Medicina que só é aconselhável o uso da cloroquina em pacientes graves, mesmo assim após um parecer médico e a assinatura do paciente.
Bolsonaro e seu castelo de areia
O problema central de Bolsonaro é que ele, como chefe de Estado, não consegue dialogar com seus ministros, auxiliares diretos, prefeitos e governadores. “Exijo e ponto final!”. Ele gosta dessa frase imperativa.
E aí tudo azeda, chegando ao ponto do castelo de areia que estava quase sólido desabar. Tudo isso acontecendo em meio à pandemia que o presidente sempre busca minimizar.
As reações após a saída de Teich
As reações após o pedido de exoneração de Nelson Teich foram de surpresa, perplexidade e certo amargor ou desespero. Diferente do “E daí?” de Bolsonaro sobre as mortes provocadas pelo novo coronavírus, o que se ouviu, inclusive de muitos que apoiam o [mito] no Congresso e nos altos escalões do governo foi um silencioso: “E agora?”.
Julian Lemos
Preciso nos seus comentários, o deputado federal Julian Lemos (PSL), antes defensor do projeto de Bolsonaro, disse após a saída de Teich : “Na realidade não me surpreende. Eu já havia falado que alguém que fosse assumir essa pasta na gestão Bolsonaro teria que fazer duas coisas: primeiro, se anular como pessoa, porque não iria poder opinar, e segundo seria rasgar seu diploma de médico”.
Geraldo Medeiros
Após a saída do ministro da Saúde Nelson Teich, o secretário de Estado da Saúde, Geraldo Medeiros, demonstrou preocupação com a instabilidade do cargo em meio à pandemia do novo coronavírus.
Diante da possibilidade de indicação do general Eduardo Pazuello para a pasta, Medeiros acredita que, por ser militar, ele possa ter uma melhor relação com o presidente da República.
Atualmente Pazuello ocupa a função de secretário-executivo do Ministério da Saúde. “Esperamos que ele adote essa interlocução fácil e célere no sentido em que os estados possam ser supridos com insumos e respiradores, além de todos os instrumentos que possam melhorar a assistência à saúde dos brasileiros”.
Luciano Cartaxo
O prefeito Luciano Cartaxo também reagiu com perplexidade à troca de ministros na pasta da Saúde em meio à pandemia do coronavírus. Ele revelou em sua página no Twitter preocupação: “Em menos de um mês, o Brasil assiste à segunda mudança no Ministério da Saúde, que deveria liderar o combate à pandemia. É muito preocupante esta situação, justo em um momento tão grave, de crescimento da propagação do vírus.”
Efraim Filho
O deputado federal Efraim Filho (Democratas) foi outro que lamentou a saída de mais um ministro da Saúde em meio à pandemia. Disse ele: “Nelson Teich parte sem deixar saudades. A impressão é de que ele nunca assumiu realmente. Foi praticamente um mês perdido de Ministério da Saúde no ponto mais crítico da pandemia”.
João Azevêdo
O governador João Azevêdo também mostrou preocupação com o pedido de exoneração de Teich. O chefe do executivo estadual se perguntou onde o Brasil irá chegar, sem avanços federais no combate à proliferação do novo coronavírus. “Infelizmente um mês sem avançarmos e agora mais um vácuo que será criado na gestão da Saúde no país, no pior momento da crise sanitária vivida no Brasil. Onde iremos parar?” questionou.
Eliabe Castor
PB Agora