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Árvores condenadas: obra da ciclovia da PMJP mata paisagem e ignora até pedestres

É durante a madrugada que a “matança” é iniciada. No breu da noite não há testemunhas. É praticamente um crime perfeito. Esse é o relato de um morador, que pediu para não se identificar, para falar sobre a morte de dezenas de árvores que embelezavam a paisagem por toda a Avenida Beira Rio, em João Pessoa, uma das mais movimentadas da cidade.

Segundo ele, o responsável pelo desmatamento é a prefeitura municipal da Capital que realiza, no local, a construção de ciclovias. No trajeto, além das árvores, os pedestres também são penalizados, pois, literalmente, perderam espaço para os pneus.

A reportagem do PB Agora percorreu todo o trajeto da Avenida, nesta terça-feira (16), e comprovou a denúncia. Por lá vários troncos de árvore são expostos como provas do que o morador tachou “crime”. Muitas das árvores tinham mais de 60 anos e agora ninguém sabe seu paradeiro, nem para que fim foi destinada a madeira cortada pela prefeitura.

“Essa obra da prefeitura de João Pessoa, em toda a Beira Rio, tem árvores enormes que estão sendo cortadas, umas com mais de 60 anos. Entre 22h e 23h uma equipe da prefeitura vai lá e corta com a motosserra e o local amanhece sem árvore, só com o tronco. Pedestres em determinadas áreas não terá vez, pois os dois lados são para os carros e o meio para a ciclovia. Se o pedestre quiser atravessar tem que ficar em cima do meio fio, pois se vier uma bicicleta, ou várias bicicletas dá zebra. Pé mesmo só no acelerador ou no pedal”, lamentou o morador.

Apesar de árvores representarem mais qualidade de vida, seja no ar, seja na temperatura, em João Pessoa, que é reconhecida como uma das cidades mais verdes do mundo, esse posto perde posições a cada ano.

 

O que se vê na Capital paraibana é o verde cedendo lugar ao concreto e, em consequência, sensação térmica nas alturas. Árvores suprimidas não são repostas e a cidade, conhecida por abrigar resquícios de Mata Atlântica, vai perdendo sua cobertura vegetal.

Em entrevista publicada no jornal Correio da Paraíba, ainda no ano passado, o chefe da Seção de Previsão do Tempo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Ednaldo Araújo explicou a importância desses arbustos para João Pessoa, e alertou para problemas futuros.

“As árvores são essenciais porque absorvem maior quantidade de água e reduzem a poluição das grandes cidades, e quanto menos árvores, mais calor. Isso contribui muito para o aumento do calor, somado à grande concentração de poluentes que piora quando há pouca chuva e o sol está mais próximo da Terra. João Pessoa ainda é protegida porque não se faz construções altas na praia, que impediriam a expansão das correntes de ar. A cidade ainda tem verde, mas se continuar perdendo, ficará mais calor na região”, analisou.

Na mesma entrevista a ambientalista e bióloga Socorro Fernandes, que é membro da Associação de Amigos e Protetores da Natureza (Apan), disse que tem percebido que a prefeitura de João Pessoa é uma das principais autoras do desmatamento. Ela lembrou a luta pela arborização da Beira Rio, mas, passados alguns meses, o esforço parece que não foi suficiente e as árvores continuam sendo retiradas.

“A Prefeitura, ultimamente, tem sido um dos contribuidores para a supressão de árvores. Nossa grande luta é a conservação para arborização da Beira Rio. A prefeitura quer retirar em detrimento da saúde da população. Além da beleza, a maioria das arvores é nativa, como ipê, pau brasil. Retirar é um crime, e a resistência do povo é manter a arborização”, declarou.

Para a ambientalista, o município deveria ter um programa de reflorestamento. Porém, nem mesmo o viveiro municipal, conforme observou, tem condições de garantir isso. “Como é que vai reflorestar se o viveiro que a prefeitura possui não atende à demanda?”, questionou.

O morador ainda alerta e diz que até o final da obra da Beira Rio, mais árvores devem desaparecer.

 

 

 



PB Agora

Fotos: Erinaldo Silva

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