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Cartaxo terá mais sorte que Veneziano na audiência com RC?

A Paraíba viu esta semana o Governador Ricardo Coutinho (PSB) dizer que tem disponibilidade para receber o Prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT), em audiência. Aliás, mais que isso, ele frisou bem que nem precisava Cartaxo oficializar um pedido, bastando, apenas, um simples telefonema.

Como todos sabem, Cartaxo e Ricardo não são aliados. Numa política centrada em preceitos democráticos, nem precisaria a imprensa paraibana estar criando tanta ansiedade como tem criado, pois seria natural o governador de um estado receber, em audiência, o prefeito da principal cidade deste estado.

Mas não foi assim que ocorreu com Veneziano, no início de 2011, logo após o Governador ser empossado no cargo. Prefeito da segunda mais importante cidade da Paraíba, Veneziano preparou uma pauta com 12 itens, propondo parceiras como a realização do São João e de projetos de mobilidade urbana, e solicitou o encontro.

Audiência marcada, Veneziano convocou auxiliares para acompanhá-lo ao Palácio da Redenção. Na época, exercendo a função de Coordenador de Comunicação da Prefeitura de Campina Grande, integrei a comitiva, junto com o então Secretário de Planejamento, Ricardo Pedrosa; o de Desenvolvimento Econômico, Gilson Lira; e o vereador Rodolfo Rodrigues, então líder do governo na Câmara.

A audiência estava marcada para as 17 horas. Chegamos ao Palácio da Redenção exatamente às 16h54. Na entrada, o senhor num birô, que nos atendeu, disse que o Governador não estava, pois tinha ido participar de uma solenidade na periferia de João Pessoa, marcada pra o mesmo horário.

“Será que o governador esqueceu?”, perguntei? “Não, esta solenidade está marcada há dias na agenda dele”, respondeu o senhor do birô. Ali, descobrimos que, na verdade, a audiência tinha sido confirmada pelo governador na teoria, mas na prática tínhamos recebido um verdadeiro pitu.

“Vamos esperar”, disse o cauteloso Veneziano. “Não podemos sair. Se o governador voltar, vai dizer que nós é que fomos precipitados”, completou. Esperamos. Suco de Acerola… suco de cajá… suco de goiaba… cafezinho… rondamos o Palácio, apreciamos a galeria de ex-governadores, jogamos paciência no celular… deu 18h, 19h, 20h e nada.

Exatamente às 20h15, com três horas e quinze minutos de chá de cadeira, finalmente um homem aparece e diz: “o Governador ‘já chegou’ e vai receber vocês”. Em 10 minutos entramos na sala, onde estavam o Governador e o à época Secretário de Comunicação Nonato Bandeira. O mandatário estadual não achou que devesse pedir desculpas pela descortesia, mas seria esperar demais.

Sentamos. Fotógrafos e cinegrafistas entraram e, em 10 segundos, Ricardo sentenciou. “Tá bom, pode tirar todo mundo”, acenando com as mãos para o ajudante de ordens, num gesto, por mim, que sou jornalista, considerado de extrema grosseria com os profissionais que, igualmente, tinham levado um tremendo chá de cadeira.

Veneziano agradeceu a oportunidade da audiência, entregou o convite para que o Governador participasse do São João de Campina Grande daquele ano (é claro que ele não pisou no Parque do Povo durante o evento) e apresentou a pauta de sugestões para parceiras entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Campina Grande: 12 itens.

Aliás, na época Ricardo disse que não tinha sido convidado para o São João de Campina, razão pela qual não tinha ido à cidade no mês de junho. A pedido de Veneziano, para não criar polêmica, não publiquei, na época, as fotos de Ricardo recebendo o convite das mãos do próprio prefeito. Hoje publico, por dever de justiça e em nome da verdade.

Quando Veneziano terminou de falar, pediu para que Gilson Lira fizesse a defesa do São João de Campina Grande e da necessidade de parceria com o Estado. Gilson falou uns 15 a 20 minutos sobre a importância turística do São João, que gera receita – inclusive para o Estado, através do aumento do ICMS – e da importância do evento para a cidade que tinha sido decisiva para a vitória do então candidato Ricardo Coutinho.

Ricardo começou a falar. Inicialmente, negou peremptoriamente apoio ao São João. Gilson pediu licença, interrompeu e fez mais um apelo. “O senhor poderia, por exemplo, não disponibilizar verba para o São João, já que alega não ter recursos disponíveis. Então, devolva a Campina o ICMS gerado a mais para o Estado, fruto do aumento no consumo de bens e serviços no mês de junho”.

Aí veio a parte mais decepcionante para mim, como testemunha ocular daquele encontro: “O aumento do ICMS não é lá essas coisas não. Você está muito enganado com essa festa de vocês”. É, Ricardo disse assim, com estas palavras, que nunca haverei de esquecer.

Com todos perplexos e sem ação, Ricardo continuou. Disse estar decepcionado com os números que tinha sobre a Saúde e a Educação de Campina. Que a gestão de Veneziano era falha, principalmente nestas duas áreas e que estava propondo um pacto ali. Veneziano melhorava os índices e, a partir de então, o Estado conveniava em alguma parceria daqueles 12 itens. Considerei aquilo mais uma descortesia, constranger o prefeito de uma cidade tão importante como Campina Grande, como foi feito.

Final da reunião, pegando o carro, voltamos. Pelo celular, mesmo sendo tarde da noite, Veneziano ligou para o então Secretário de Educação, Flávio Romero; e para a então Secretária de Saúde, Tatiana Medeiros, pedindo explicações sobre o constrangimento que havia passado. Ele não tinha conhecimento daqueles números que o governador, em ofício, havia lhe entregue.

Do outro lado da linha, os dois auxiliares de governo negaram que os números fossem verdadeiros. “Então me mostrem os números reais e expliquem de onde ele tirou isso aqui que eu tenho em mãos”, disse Veneziano, a ambos. Na manhã do dia seguinte, a farsa do constrangimento estava desmontada.

Flávio Romero, na qualidade de membro do Conselho Estadual de Educação (hoje ele preside o órgão), tem acesso a documentos do Governo do Estado e conseguiu relatório do próprio governo indicando que aqueles números que o Governador havia utilizado para constranger Veneziano eram, na verdade, dados referentes às escola estaduais de Campina Grande (índices de repetência elevados, de aprovação baixíssimos, etc).

Por outro lado, Tatiana conseguiu relatório junto ao Ministério da Saúde mostrando que os dados eram incompletos, alguns criados, outros desvirtuados, já que o Ministério sequer havia fechado os índices daquele ano. A farsa foi desfeita no dia seguinte e, até hoje, o Governador não contestou a versão apresentada, durante entrevista coletiva, por Veneziano. Nem contestou, nem negou. E, antes que eu esqueça, até hoje Veneziano espera a parceria da Prefeitura para algum item daquela pauta. Aliás, até Romero, que é aliado, ainda não viu a sinalização do governo para nenhum dos itens.

É bom que esse registro histórico possa servir de exemplo para que o Governador reveja seus conceitos. Que o exemplo das ruas, que rejeitou por completo qualquer questão política nas manifestações que pipocaram pelo Brasil, de Norte a Sul – inclusive aqui na Paraíba – sirva pra que Ricardo deixe de lado o ranço velho da política mesquinha e aja como um democrata na audiência com Cartaxo. A Paraíba quer e, hoje, também exige isso.


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