O senador Cícero Lucena, do PSDB paraibano, ganhou evidência com a sua ascensão ao cargo de primeiro secretário da Casa, na atual legislatura. O cargo é um dos mais cobiçados, fora a presidência, nas mãos do peemedebista José Sarney. Foi ocupado no período anterior por outro paraibano, Efraim Morais, do Democratas, que não se reelegeu e ocupa a secretaria de Infraestrutura do governo Ricardo Coutinho (PSB) no estado.
Efraim sofreu bombardeio da mídia devido a supostas contratações irregulares de servidores e a favorecimentos, o que ele contestou, disponibilizando a quebra dos sigilos bancário e telefônico. Esta semana, a petista Marta Suplicy (SP), que ocupa a primeira vice-presidência do Senado, utilizou o "twitter" para enaltecer os primeiros atos de Lucena, como o adiamento de um concurso programado para o segundo semestre com vistas ao preenchimento de 180 vagas no quadro de pessoal e a formação de um cadastro de reserva. Também foi determinada a reavaliação danecessidade de novas contratações. O Senado paga altos salários, e alguns ocupantes de cargos da sua estrutura chegam a ter vencimentos superiores a R$ 20 mil.
Pagamentos de horas extras a diretores e contratações de emergência foram cortados por Cícero, até que haja uma reestruturação administrativa, prometida pela enésima vez por José Sarney. A primeira secretaria é uma espécie de prefeitura do Senado, e tem um orçamento estimado em cerca de R$ 3 bilhões, contando com um quadro de mais de seis mil servidores. Depois de Efraim, chegou a ocupar o posto o senador Heráclito Fortes, do DEM do Piauí, que, no entanto, não foi reeleito.
Marta Suplicy manifestou a esperança de que a ascensão do paraibano produza mudanças significativas, em proveito da imagem da própria instituição, que sofreu profundo desgaste nos últimos anos. Cícero aceitou a indicação correndo o risco de se expor ao patrulhamento da mídia. Jornais de Brasília e São Paulo começam a fazer referências a processos a que ele vem respondendo em segredo de Justiça por alegado envolvimento na "Operação Confraria".
Sua participação, no caso, diria respeito a prováveis irregularidades em obras públicas, no período em que foi prefeito de João Pessoa (por duas vezes). Cícero Lucena respondeu apenas que a maioria dos processos havia sido arquivada e que estava com a consciência tranquila. Com mandato até 2015, ele tentou se viabilizar em 2010 como candidato do PSDB ao governo da Paraíba. Fez maratona por municípios do interior, mas esbarrou na resistência do ex-governador Cássio Cunha Lima, eleito senador mas sub judice em virtude da Lei Ficha Limpa, que defendia o apoio à candidatura do socialista Ricardo Coutinho, como manobra para derrotar o governador José Maranhão (PMDB).
Coutinho sucedeu a Cícero na prefeitura de João Pessoa em 2004 e foi reeleito em 2008. Eleito governador contra Maranhão, sinalizou para uma distensão com Cicero em nome do interesse da Paraíba. O senador garantiu que não será obstáculo a entendimentos que tenham esse objetivo em pauta.
Ainda no comando estadual do PSDB, Cícero Lucena tem procurado evitar atritos com Cássio Cunha Lima. Ele sempre foi bastante ligado à família Cunha Lima. Em 90, foi indicado do bolso do colete por Ronaldo, pai de Cássio, para ser seu vice. A escolha causou impacto, já que Cícero não militava politicamente. Na época, sua atuação era conhecida junto a entidades da construção civil. Posteriormente, quando da desincompatibilização de Ronaldo para concorrer ao Senado, Cícero assumiu por dez meses a titularidade do Executivo. Também chegou a ser secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo Fernando Henrique Cardoso. Na época, era vinculado a José Serra, ministro do Planejamento. Em 2006, Lucena candidatou-se a senador para a única vaga em disputa, enfrentando o empresário Ney Suassuna, então filiado ao PMDB, hoje no PP, que era conhecido como "trator", pela sua capacidade de liberar recursos junto ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mandato parlamentar em Brasília, Cícero integrou várias Comissões, uma das quais voltada para temas climáticos, e participou de congressos parlamentares no exterior tratando do melhor aproveitamento e reciclagem do lixo.
Jornal O Norte