Que muitos criticam o governador Ricardo Coutinho (PSB) por seus atos e palavras, disso todos os paraibanos sabem. Mas poucos fazem como o vereador Pádua Leite (PT), de Piancó, que teve a coragem de dizer, cara a cara, o que pensa do governador. E disse não porque quis ser desrespeitoso. Mas porque foi provocado pelo próprio governador.
A história é contada pelos moradores de Piancó e foi confirmada pelo próprio Pádua, com exclusividade, ao Blog Carlos Magno. Ricardo Coutinho esteve recentemente na cidade para mais uma edição daquelas audiências do Orçamento Democrático – OD, elogiado pelos aliados do governador, que afirmam ser um instrumento democrático de investimento dos recursos públicos; criticado por opositores, que dizem ser um grande engodo da Administração Estadual, uma peça de ficção científica.
Antes da audiência, marcada para a noite, houve um almoço na residência do prefeito Sales Lima (DEM). Presentes ao almoço, correligionários do prefeito – a exemplo do próprio vereador – e a imprensa do Vale do Piancó. Ricardo Coutinho falava aos presentes, informalmente, sobre suas pretensões para a região.
De repente, Pádua tomou a iniciativa de pedir a palavra. Ele se dirigiu ao governador e o questionou sobre a promessa de campanha de Ricardo Coutinho de implantar um campus da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB em Piancó. Na frente de todos, o seguinte diálogo foi travado:
Vereador Pádua Leite – Governador, me dê notícias sobre a UEPB em Piancó.
Governador Ricardo Coutinho – Em Piancó não. No Vale do Piancó.
Vereador Pádua Leite – No Vale não, governador. Em 2010, na campanha, o senhor subiu no palanque aqui na cidade e, durante comício, prometeu que a universidade seria instalada aqui em Pianco. Em 2012, na eleição municipal, o senhor veio aqui de novo e prometeu a mesma coisa. O senhor mudou de discurso porque sua candidata a prefeita aqui em Piancó perdeu a eleição? (Pádua se referia a Neguinha, do PSB, derrotada na eleição de 2012)
Ricardo Coutinho – Se você quiser, amigo, se candidate a governador e implante a universidade em Piancó.
Antes que Pádua pudesse esboçar reação diante de tão inesperada resposta, a turma tratou de evitar que o diálogo se prolongasse, anunciando o almoço. A resposta do governador foi uma prova de que ele não gosta, realmente, de ser contrariado. Poderia ter tergiversado, desconversado, mudado de assunto. Mas não. Preferiu uma resposta ríspida e sem nexo. Mas o vereador não se deu por vencido. O melhor, ele preparou para a noite…
Veio a audiência do Orçamento Democrático. E, se tem o nome de ‘democrático’, os organizadores não poderiam negar a palavra ao vereador. Ele pediu, esperou sua vez e iniciou a fala:
“Quero dizer a Vossa Excelência, governador Ricardo Coutinho e aos demais presentes a essa plenária, que eu vou acatar a sugestão que o senhor me deu hoje à tarde, na casa do prefeito, de ser candidato a governador. Vou acatar porque quero prometer e cumprir. Porque se eu fosse governador, teria palavra, diferente do senhor. Quero me candidatar a governador para, quando eu subir num palanque e prometer, não esquecer o que prometi.”, disse o parlamentar.
E falou mais: “Quero dizer também, governador, que o povo do Vale do Piancó está cansado das suas promessas. Esse Orçamento Democrático, até agora, não gerou nada de positivo para o povo do Vale. Já estamos no terceiro ano de seu governo e todas as demandas, como vocês dizem; ou promessas, como o povo daqui diz, até agora não foram cumpridas”.
E começou a citar: “cadê o campus da UEPB? Cadê o núcleo da Unidade de Medicina Legal? Cadê a sede do Corpo de Bombeiros? Cadê a UTI prometida para o hospital de Piancó? Digo, sem medo de errar, que o Orçamento Democrático do Vale não vale nada”.
E emendou: “eu sempre falo pras pessoas, governador, sobre a ‘via crucis’ que um morador de uma das vinte cidades do Vale do Piancó tem que sofrer, se por acaso ele for vítima de um acidente automobilístico. Se ele ficar preso às ferragens, tem que esperar de duas a três horas por uma guarnição do Corpo de Bombeiros que vem de Patos; depois disso, se o estado for grave tem que esperar uma ambulância do SAMU e ir para Patos ou Campina Grande, porque aqui não tem UTI. Em Patos, geralmente o hospital está lotado, porque tem que receber pacientes de todo o Sertão. Aí, ele vai pra Campina Grande. Lá, muitas vezes, também é difícil, aí tem que ir par João Pessoa. Por outro lado, se ele morrer no acidente, a família vai demorar a velar o corpo, porque aqui não tem UML, só em Campina Grande. Quando o velório começar, já é hora de enterrar, não dá nem para prestar as homenagens”.
A esta altura, toda a plateia presente fazia um silêncio sepulcral, ouvindo atentamente o desabafo do vereador. Pádua Leite finalizou com a sentença final: “o Vale do Piancó deveria ter vergonha na cara para aguentar um governador que acha que, dando esmolas, convence a todo nós”. Foi aplaudido. De pé. Desta vez, não teve tréplica.