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Cunha foi inocentado por CPI com sete meses de antecedência

 Brilhante, independente, corajoso, dono de uma grande história, escolhido para ser investigado, uma luz que há de brilhar neste país, inocente, um homem de Deus. Essas foram apenas algumas das expressões utilizadas por 28 deputados para se referir ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante seu depoimento à CPI da Petrobras, em 12 de março. Naquele dia, Cunha foi espontaneamente ao colegiado para falar sobre a inclusão de seu nome, seis dias antes, na lista de políticos investigados da Operação Lava Jato. Diante de uma maioria de aliados, o peemedebista foi recebido com elogios e declarações de apoio – o que era para ser um interrogatório virou um ato de desagravo.

“Nosso presidente sai muito maior do que entrou aqui”, resumiu um deles, o deputado Izalci (PSDB-DF). O “engrandecimento” de Cunha foi repetido por outros parlamentares. Na ocasião, o que estava em questão ainda não eram as contradições e omissões do deputado, mas as declarações de um policial federal preso acusado de distribuir propina a agentes políticos a mando do doleiro Alberto Youssef. As divergências no depoimento do policial Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, sobre os repasses a Cunha foram utilizadas pelos deputados para absolver sumariamente o presidente da Câmara. “Se não há razão, vamos encerrar essa novela e vamos para o passo seguinte”, defendeu o líder do PT, Sibá Machado (AC).

De lá para cá, Cunha virou alvo de uma avalanche de acusações, que resultou numa denúncia no Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República e numa representação no Conselho de Ética. Citado por quatro delatores como beneficiário do esquema de corrupção na Petrobras, o deputado é acusado de manter na Suíça contas bancárias não declaradas às autoridades brasileiras com o propósito de receber propina. Durante o depoimento à comissão de inquérito, ele negou ter contas no exterior. Mentir a uma CPI configura quebra de decoro. Mas esta não foi a única contradição de Cunha em seu depoimento, como mostrou o Congresso em Foco.

Apenas seis deputados mantiveram a postura crítica na reunião da CPI: Chico Alencar (Psol-RJ), Ivan Valente (Psol-SP), Eliziane Gama (então no PPS, hoje na Rede-MA), Maria do Rosário (PT-RS), Afonso Florence (PT-BA) e Jorge Solla (PT-BA). “Quero aqui expressar que a postura do presidente da Casa é uma postura que está à altura do cargo que ele exerce no Parlamento brasileiro, para que não pairem dúvidas acerca do envolvimento do nome dele nesse episódio”, declarou o relator, Luiz Sérgio (PT-RJ).

Na semana passada, sete meses após o depoimento de Cunha, Luiz Sérgio apresentou um relatório final sem qualquer sugestão de indiciamento contra políticos, e sequer uma menção à suposta mentira do peemedebista sobre as contas bancárias no exterior. Embora o colegiado tivesse 26 membros titulares, cerca de 40 parlamentares fizeram intervenções na concorrida reunião. Embora tivesse prometido a voltar a qualquer momento à comissão, o deputado não retornou ao colegiado após o agravamento de sua situação.


Congresso em Foco

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