A reportagem do PB Agora manteve contato telefônico na tarde desta sexta-feira (31) com a delegada Maria Soledade de Souza, titular do Núcleo Especializado de Polícia Comunitária na Ilha do Bispo, que confirmou ter apreendido diversos títulos de eleitores e santinhos do candidato a vereador Felipe Leitão (PP), na residência do traficante ‘Mago Lila’, preso durante a operação Liberdade, realizada hoje de manhã pela Polícia Civil.
Ao ser questionada pelo PB Agora sobre a autoria do material, a delegada foi enfática:
“Realmente é do Felipe Leitão mesmo!”, contou a autoridade policial.
Segundo a delegada Maria Soledade, responsável pelo flagrante, todo o material apreendido na casa do ‘Mago Lila’ na comunidade Renascer será encaminhado na próxima segunda-feira (2) para a Polícia Federal, que iniciará o processo de investigação sobre a existência de crime eleitoral.
A AÇÃO DA POLÍCIA:
Durante a realização da Operação Liberdade, realizada hoje de manhã pela Polícia Civil na região metropolitana de João Pessoa para combater o tráfico de entorpecentes, foram encontrados outros materiais suspeitos, além de drogas. Na casa do acusado de ser o chefe do grupo, um deficiente físico identificado como Esteves Williams da Silva, de 49 anos, mais conhecido como "Mago Lila", residente no bairro do Renascer, em João Pessoa, foram encontrados vários títulos eleitorais e farto material de campanha do candidato a vereador de João Pessoa Felipe Leitão (PP).
O objetivo da ação, que envolveu 180 policiais civis, foi cumprir mandados de busca e apreensão e encontrar drogas, armas, entorpecentes, celulares e veículos utilizados por traficantes para a operacionalização do tráfico.
No final, 13 pessoas foram presas e quatro câmeras de segurança apreendidas. Os equipamentos seriam utilizados pelo comando do tráfico para observar a movimentação da área próxima ao Renascer. A Polícia Federal inicia na próxima segunda uma investigação sobre os títulos eleitorais e o material do candidato Felipe Leitão.
É válido lembrar que o ex-vereador Felipe Leitão já teve o mandato cassado nesse ano, por compra de votos no escândalo batizado de caso “Votinho de Ouro”.
OS FATOS
Nas eleições municipais de 2008, um engenhoso esquema de captação de votos foi coordenado por Iomar Rodrigues dos Santos, também conhecido por "Votinho de Ouro" comprando votos nos bairros de João Pessoa para Felipe Leitão, ao preço unitário de R$ 70,00. Os votos saíram, porém centenas de eleitores não receberam o dinheiro prometido e se mobilizaram para cobrar publicamente, com grande repercussão na televisão, rádio, jornais e portais de notícias, num estrondoso escândalo sem precedentes. Muitas das pessoas pobres e ingênuas que venderam seus votos foram ouvidas na instrução processual.
O CASO VOTINHO DE OURO
O promotor Amadeus Lopes, da 64ª Zona Eleitoral, ouviu, oito lideranças das comunidades Taipa, Bela Vista e Mandacaru. São eleitores que acusam o vereador eleito, com 4.846, Felipe Leitão (PRP) de ter comprado voto e não ter ‘honrado’ com o compromisso, dando calote nos eleitores. Nos depoimentos, as lideranças confirmaram que Iomar Rodrigues dos Santos, que ficou conhecido como ‘Votinho de Ouro’, se apresentava como Rodrigo e se dizia assessor de Felipe Leitão. Os depoimentos aconteceram no Cartório da 64ª Zona Eleitoral.
Uma das lideranças contou ao promotor eleitoral todos os detalhes do processo. Ela disse que o ‘Rodrigo’ aparecia no bairro quase todos os dias. “Ele sempre estava em contato com a gente. Às vezes, ia num carro preto e, outras vezes, aparecia em uma moto. E prometeu que pagaria R$ 200 por cada 25 pessoas que a gente arranjasse e mais R$ 100 pelo nosso voto. A comunidade é pobre. Todos precisam de dinheiro”, disse a liderança.
Outra liderança que chegou a entregar ao promotor uma gravação de áudio feita através de um aparelho celular. “A gente desconfiou, porque ele (Iomar Rodrigues) foi na nossa casa à noite e pediu para apagar as luzes mais fortes e também foi logo dizendo que a gente não filmasse a reunião, porque poderia causar problemas para a gente. Então, tive a idéia de gravar a conversa”, contou a liderança, revelando que o Iomar havia dito que a Polícia Federal havia apreendido R$ 8 mil, porém, havia R$ 700 mil guardados em sua casa.
Na gravação, percebe-se que um homem pede votos, oferece dinheiro e ainda, por cima, diz que tem como rastrear o voto de cada eleitor. Ao ser questionado sobre as provas, Amadeus Lopes comentou que tudo está sendo averiguado cuidadosamente e ressaltou que os indícios levam a crer que o vereador eleito Felipe Leitão está envolvido no esquema de compra de voto.
É válido lembrar que a Justiça Eleitoral já puniu eleitoralmente o ‘hoje’ senador Cássio Cunha Lima (PSDB), sob a acusação de ter distribuído cerca de R$ 3,5 milhões em cheques para eleitores dentro de um projeto assistencial. Vale lembrar que foi o juiz Fabiano Moura de Moura cassou o mandato do vereador pessoense Sérgio da Sac (PRP), pelo mesmo motivo. Na sentença o juiz Fabiano Moura de Moura impôs a aplicação de uma multa e inelegibilidade por 8 anos, baseado em dois artigos da lei 9.504 (Lei das Eleições).
JUSTIÇA
Após quase três anos e meio de espera, saiu a sentença do caso envolvendo o vereador Felipe Leitão, hoje filiado ao PP, mas eleito pelo PRP, acusado de compra de votos no pleito de 2008, aqui na capital. Decisão, prolatada pelo juiz Eslú Elói Filho, não só cassou o mandato do vereador, como aplicou-lhe uma multa de 50 mil UFIRs e o tornou inelegível.
Felipe Leitão respondia a uma Ação de Investigação Eleitoral, proposta pelo Ministério Público, desde que foi denunciado como tendo sido beneficiado por um esquema organizado por um cabo eleitoral conhecido por “Votinho de Ouro”, que teria aliciado eleitores em várias comunidades carentes de João Pessoa para sufragar o nome do então candidato em troca de dinheiro, cujo pagamento seria feito depois de conhecido o resultado da eleição.
Só que o compromisso não foi cumprido e as pessoas enganadas terminaram por fazer um protesto em frente ao Forum Eleitoral, chamando a atenção da mídia e das autoridades. Á época, o grupo denunciou que cada voto valeria 70 reais. O processo passou pelas mãos de três juízes, antes de cair nas mãos de Eslú Elói, que terminou por dar a sentença desfavorável ao vereador, que teve afastamento imediato da Câmara Municipal. Mesmo com problemas na justiça, Felipe Leitão conseguiu registrar o seu nome na lista de candidatos do PP nas eleições 2012.
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