A Revista Veja desta semana traz uma ampla matéria sobre a troca de mandato, imposto pelo Tribunal Superior Eleitoral, no Governo do Maranhão, sob o título “A Perpetuação da Miséria”, assinada pelos repórteres Leonardo Coutinho e Sandra Brasil. Concluída a leitura da reportagem, é impossível não se deter em algumas reflexões e traçar alguns paralelos entre as realidades dos dois estados nordestinos alvos das decisões dos sete cavalheiros da corte superior.
Algumas semelhanças são inevitáveis: os atuais governadores peemedebistas José Maranhão e Roseana Sarney chegaram ao poder da mesma forma – contra o resultado das urnas e pelas mãos do TSE. Roseana e Maranhão são acusados de cometer abusos na campanha de 2006, e ainda não foram julgados.
Semelhanças
As famílias Maranhão e Sarney, aliás, vão muito bem. Patrimônio (visível) de Sarney e seus parentes: uma ilha particular no Maranhão, com duas mansões; quatro emissoras de TV, 17 emissoras de rádio e o jornal O Estado do Maranhão; cotas do Shopping Jaracati, em São Luis; uma mansão de 20.000 metros em São Luis, e duas outras no Lago Sul, em Brasília; um apartamento no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro; uma casa de veraneio em Búzios, no Rio de Janeiro, 19 propriedades no interior do Maranhão, casas e lojas em São Luis, Rio de Janeiro e Macapá. Total estimado: R$ 125 milhões.
Patrimônio (declarado ao TRE em 1998 e 2006) de José Maranhão: três aviões, dois apartamentos em João Pessoa, uma casa em Araruna, duas casas em João Pessoa; 11 propriedades rurais na Paraíba; uma propriedade rural no Tocantins; várias ações de empresas, oito veículos, dinheiro em espécie e 28.990 cabeças de gado (com valor zero!). Total declarado: 7,5 milhões de reais. Total estimado, computando as cabeças de gado: R$ 37 milhões.
A governadora Roseana Sarney, em menos de dez dias, já entupiu a máquina pública de apaniguados. O novo secretário de Saúde, por exemplo, é Ricardo Murad, seu cunhado. A titular da Secretaria da Mulher, Paulinha Lobão, é nora do ministro Edison Lobão, principal aliado dos Sarney.
O governador José Maranhão, em pouco mais de 60 dias e sob a batuta da primeira dama, Fátima Bezerra, já nomeou além de vários parentes, a mulher do ministro do STJ, Francisco Falcão; a mulher do senador Roberto Cavalcanti, exonerada em seguida por denúncia de nepotismo; familiares dos desembargadores Júlio Paulo Neto, Luiz Silvio Ramalho e Marco Souto Maior, Nilo Ramalho (presidente do TRE); o filho do ex-juiz do TRE e advogado da família Maranhão, Nadir Valengo, além de instalar na máquina administrativa dezenas de pessoas que, diretamente, contribuíram com sua luta para retornar ao Palácio da Redenção.
Diferenças fundamentais
Segundo a Veja, a vida dos maranheses não tinha mudado na gestão do ex-governador Jackson Lago. Seus dois anos de governo foram de inoperância total, e o nepotismo alcançou o paroxismo. Ele chegou a ter 23 parentes no governo. Aqui na Paraíba, Cássio Cunha Lima, bem antes de o Supremo Tribunal Federal proibir o nepotismo, foi o primeiro governador do Brasil a criar a lei, mais dura que a própria do STF, proibindo nomeação de parentes do governador, secretários, diretores e gerentes em até terceiro grau.
O estado do Maranhão vai mal. O pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, segundo a ONU; a taxa de analfabetismo é de 21,5 %, mais que o dobro da média nacional; apenas 12,5 % dos domicílios têm acesso a esgoto, a mortalidade infantil é de 39 bebês a cada mil nascimentos – a segunda mais alta do país, perdendo apenas para Alagoas.
A Paraíba até ia bem. Os índices da mortalidade infantil, longevidade, redução da pobreza e IDH estavam melhorando. O Estado teve a maior redução da pobreza no Nordeste: 22,06 %. O Maranhão, para se ter idéia, teve o pior desempenho da região, com apenas 9,73 %. Até 2010, o planejamento indicava que mais de 80% do Estado estaria coberto com rede de saneamento e mais de 90% seriam atendidos com água de qualidade. As contas estavam equilibradas e a Paraíba era usada como padrão nacional de ajuste fiscal conquistado ao longo de seis anos, apresentando superavits primário e nominal. Na área de Educação, foi apontado também em reportagem da Veja como o Estado que mais alcançou metas.
Coincidência?
Finalmente, na reportagem de Veja, é citado um sermão do padre Antonio Vieira, feito em 1554, em São Luis. Ele atribuiu ao M de Maranhão algumas qualidades que permanecem inabaláveis: M de murmurar, M de motejar, M de maldizer, M de malsinar, M de mexericar e, sobretudo, M de mentir: mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos.
A história política e administrativa da Paraíba mostra que o M do Maranhão daqui, nesse sentido, é semelhante ou diferente?
Em tópicos
• O Sagres, eficiente serviço de acompanhamento das contas das administrações públicas, continua sem prestar qualquer informação sobre o ano de 2009 no site do TCE da Paraíba…
• A atriz Glauce Cunha Lima, mais conhecida como Gal, está atuando em “Tudo que Deus Criou…”, primeiro longametragem urbano filmado em Campina Grande, do jovem diretor André da Costa Pinto.
• O procurador geral do Estado, Marcelo Weick, assinou termo de inscrição no Fórum de Combate à Corrupção no Estado da Paraíba (Focco). Era o que faltava para consolidar o que já se suspeitava: a entidade ficou “cega” para as irregularidades do Maranhão III.
• A jornalista Olga Barros, há muitos anos instalada em Brasília, ganhou ainda mais poderes no Governo Maranhão III. Apenas nomeado, o advogado Vital do Rêgo ainda não assumiu a titularidade da Secretaria de Articulação Governamental, tendo o secretário executivo Edme Tavares acumulado as atribuições. Passou a gestão da pasta para Olga.
• Um ponto de destaque para o senador Roberto Cavalcanti (PRB): até o momento, não há registro de que ele tenha usado, uma só vez, a verba indenizatória da Casa, disponibilizada para que os parlamentares banquem custos, via ressarcimento, de despesas, com aluguel, manutenção de escritórios, locomoção, entre outras diretamente relacionadas ao exercício do mandato parlamentar.
As imagens comprovam. O abdomen do governador reflete bem o que está ocorrendo em alguns setores do governo: Maranhão está empurrando muita coisa com a barriga…