O início da nova legislatura e as negociações para a definição dos líderes de partidos no Congresso Nacional evidenciam a ascensão do senador Aécio Neves (PSDB) como um dos grandes destaques da oposição e a derrocada do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB). Apesar do tempo que ainda falta para a disputa presidencial de 2014, Aécio já é apontado como virtual candidato ao Palácio do Planalto. Do outro lado, Serra, derrotado duas vezes na corrida pela Presidência da República, perde cada vez mais espaço dentro do próprio ninho tucano. O cenário ficou evidente no início dos trabalhos do Congresso e envolveu não só o PSDB, mas também o DEM, os dois maiores partidos da oposição.
Com um discurso claro de provável candidato e disposto a liderar a oposição, Aécio e seus apoiadores impuseram duas derrotas à turma serrista. Uma já foi selada: a eleição do deputado federal ACM Neto (BA) para a liderança do DEM na Câmara dos Deputados. A outra ainda não se concretizou, mas parece estar a caminho com a assinatura quase que por unanimidade da bancada do PSDB na Câmara de uma moção de apoio à recondução do ex-senador e agora deputado federal Sérgio Guerra (PSDB-CE) ao comando do partido. Nos bastidores, o nome de Serra, agora sem mandato, era um dos cotados para a Presidência nacional do PSDB.
ACM Neto foi eleito com vantagem para a liderança da bancada democrata na Câmara dos Deputados. Por trás da vitória, apareceu o ex-governador mineiro, que, além de virar votos a favor do baiano, articulou que o deputado federal Marcos Montes (DEM), seu ex-secretário de estado, desistisse da disputa em favor de ACM. A candidatura do deputado baiano à liderança teve o aval do presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), que nunca escondeu sua preferência por Aécio Neves, desde as longas idas e vindas que culminaram com a indicação de Serra como candidato à Presidência. ACM Neto derrotou por 27 a 16 o deputado Eduardo Sciarra (PR), candidato ligado ao democrata e serrista Paulo Bornhausen (SC). Essa vitória abre caminho para a eleição em março do senador José Agripino (RN) — também ligado à cúpula aecista dos Democratas — para comandar o DEM.
Marcos Montes nega que haja interferência de Aécio Neves nas discussões internas do DEM. Segundo ele, a sua desistência da disputa e a escolha de ACM Neto com 11 votos de vantagem nada mais é do que um posicionamento claro do partido em torno de um projeto nacional. “Serra é uma página virada para o projeto do Democratas”, afirma. Para ele, é natural que a movimentação de Aécio Neves “cause ciúmes” em figuras ligadas ao ex-governador José Serra. “Terminamos a legislatura passada com uma oposição sem rumo, esfacelada. E temos agora a expectativa de um trabalho mais articulado, tendo o senador Aécio Neves como liderança.”
Moção espontânea
Também causou desgaste entre os serristas e aecistas o imbróglio em torno da possível recondução de Sérgio Guerra ao comando do PSDB. A turma ligada ao ex-governador mineiro alega que a moção pró-reeleição de Guerra foi espontânea, tanto que contou com o apoio de quase toda a bancada paulista, e que nada tem a ver com um eventual embate entre Aécio e Serra. Nega ainda que a escolha de Duarte Nogueira (SP), para a liderança do PSDB na Câmara. e do mineiro Paulo Abi-Ackel, para o cargo de líder da minoria na Câmara, faça parte de uma estratégia para isolar Serra e fechar as portas do comando nacional da legenda para o grupo ligado a ele. Nogueira é aliado de primeira linha do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), enquanto Abi-Ackel é ligado ao ex-governador de Minas Gerais.
Também aliado de Aécio, o ex-senador Tasso Jereissati (CE), que não conseguiu se reeleger, é dado como certo na Presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), outro cargo no comando nacional do PSDB que também poderia ser assumido por Serra. Se não houver nenhuma reviravolta, outro aecista de primeira linha, o deputado federal Rodrigo de Castro, deve continuar ocupando um dos postos-chaves do comando tucano: a Secretaria-Geral do partido.
Com um discurso bem mineiro e tucano, Rodrigo de Castro nega que haja qualquer estratégia para neutralizar a influência de Serra dentro do comando da legenda. Para ele, todas essas decisões recentes foram tomadas com o apoio dos parlamentares e governadores da legenda e “representam nada mais que a consolidação de um grande momento de renovação do partido”. “Não tanto pelos seus quadros, mas pela maneira de agir e pensar o papel da oposição.”
Castro afirma que a aprovação da recondução de Guerra, segundo ele, “completamente alinhado ao senador Aécio Neves”, e a indicação de Jereissati, também simpatizante do ex-governador mineiro, para o ITV, foram feitas de maneira democrática e com a participação de toda a bancada. Sobre a possibilidade de permanecer no cargo de secretário-geral, o deputado desconversou. “Não é o momento para essa discussão.”
Correio Braziliense