Ninguém se salva, ao menos por ora. Todos os candidatos a presidente da República vêm cometendo erros que reduzem as chances de passar para o segundo turno ou, no mínimo, reduzem a vantagem de quem está nas melhores posições, apontam analistas. Alguns desses problemas são estruturais — até mesmo intrínsecos à própria personalidade de cada um. Outros, não menos difíceis, têm origem em decisões tomadas no início da campanha. Há ainda os que podem ser resolvidos. Afinal, restam 18 dias para o pleito.
“É muito tempo na política, ainda mais em uma campanha eleitoral de 45 dias”, assinala o cientista político Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Para o especialista, é preciso que os candidatos deem mais atenção ao que as pessoas que vão às urnas em 7 de outubro desejam de fato. “O que o eleitor busca não é um salvador da pátria, mas alguém que não piore as coisas”.
Mesmo Jair Bolsonaro (PSL), o candidato mais bem posicionado nas pesquisas, tem com o que se preocupar, de acordo com as análises. “Ele é uma onda, não está ancorado em programa”, aponta Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Acompanhamento Parlamentar (Diap). “Conquista as pessoas por coincidência de diagnóstico, apontando os problemas. Depois arruma um culpado para aquilo, não uma solução”, avalia.
Segundo Queiroz, esse tipo de comunicação tem sido eficiente, mas tende a perder força no segundo turno, ou mesmo ser desconstruída. Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, o candidato do PSL ainda está na preferência da parcela que é esperada para o eleitorado de direita, que, ele nota, vem crescendo em todo o mundo. “Bolsonaro conversa com parcela da população. Não surpreende que um quarto do Brasil pense assim”.
Ricardo Ismael, da PUC-RJ, afirma que o capitão reformado terá de adaptar o seu discurso a fim de ganhar mais adeptos em um eventual segundo turno. “Ele apoia o uso mais amplo de armas de fogo pela população. Talvez isso seja necessário para chegar aos 20 pontos, mas é preciso falar para o eleitor de centro, mais moderado”, destaca. Na opinião de todos os especialistas, o deputado precisa atenuar o que diz para se aproximar dos moderados.
Fernando Haddad tem desafio semelhante, o que, no seu caso, significa ir mais para a direita. Melo acha que o desafio não é trivial diante da atual situação do PT. “Quem Haddad pode dizer que será seu ministro da Fazenda? Não dá para chamar o Antonio Palocci”, diz ele, em referência ao chefe da equipe econômica do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ambos presos. Além de carregar o radicalismo petista, Haddad precisa dar explicações o tempo todo sobre os escândalos de corrupção e ainda mostrar que será o presidente de fato. “Haddad precisa ter brilho próprio e independência”, destaca Ismael.
No caso de Ciro Gomes (PDT), a maior parte dos problemas dizem respeito a ele mesmo. E está longe de ser fácil mudar a própria personalidade. “Ele é de uma sinceridade desconcertante”, diz Queiroz. “Ciro tem bom conhecimento dos problemas do país, mas perde a mão nas declarações”, nota Ismael. Um problema é ofender eleitores. Outro, a falta de norte em algumas situações. “Ele ficou ziguezagueando pelas alianças”, critica Ismael, problema também apontado por Queiroz: “Diz que quer revogar a reforma trabalhista e, ao mesmo tempo, convida para vice o empresário Benjamin Steinbruch, que gostaria de ampliar a reforma”.
Geraldo Alckmin (PSDB), como Ciro, enfrenta uma série de dificuldades para chegar ao segundo turno da eleição. Se faltam propostas concretas no caso de Bolsonaro, no caso do tucano há excesso, nota Ismael. “O eleitor não está muito interessado no que ele fez como governador e poderá fazer como presidente. Não há muita demanda por suas ideias. A campanha, às vezes, é assim: o vento muda”, explica o cientista Ricardo Ismael.
Sem notar isso, os programas de tevê ficam repetitivos e pouco atraentes. E o pior é que teve um custo alto, já que é o resultado de o PSDB ter trazido para a aliança partidos com ônus moral. “Alckmin trocou o centro pelo Centrão”, critica Melo. Na avaliação dele, poderia ter sido mais proveitoso ficar apenas com o PPS e buscar Marina para a chapa. “Além dos erros próprios, ele carrega os do partido, que participou do governo de Michel Temer”, nota.
Marina Silva (Rede), que vem perdendo adeptos, enfrenta problemas que, na visão dos analistas, parecem muito difíceis de serem enfrentados a partir desta etapa da campanha. “Ela tem dificuldade de comunicação. Não se entende o que diz”, nota Queiroz. Para ele, parte disso é problema da dicção e da voz, o que deveria ser trabalhado por um fonoaudiólogo. Mas outra parte deriva da própria personalidade da candidata. “Ela raramente mostra firmeza”.
Para Ismael, Marina tem um perfil inadequado para o que o eleitor busca hoje. “A sociedade espera um discurso mais forte e combativo. Ela quer ser uma espécie de Gandhi brasileiro, o que não é esperado nos dias atuais”, destaca. Melo, do Insper, diz que ela desperdiçou chances de crescer. “Falta determinação e energia”, afirma.
Redação
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