Nas últimas semanas, virou mania no país a busca por um candidato de centro. Em tese, esse nome serviria para se contrapor aos extremistas que atualmente lideram as pesquisas: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro, recém-filiado ao PSL. Para ocupar esse vácuo, são citados nomes como do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O debate, no caso brasileiro, é inócuo. Em nossa história recente pós-democratização, não importa quem seja o vitorioso nas urnas: para governar, o político, inevitavelmente, migra para o centro. A novidade, desta vez, é que esse movimento está acontecendo já durante a campanha eleitoral.
“O nosso modelo impede que o desfecho seja diferente. Existe uma fragmentação partidária e o presidente necessita formar uma maioria no Congresso se quiser governar. O centro político, no caso do Brasil, não é ideológico. É a capacidade do governante de compor com a maior parte das correntes políticas possíveis”, explica Cristiano Noronha, cientista político da Arko Advice.
Esse mix acaba prevalecendo também na sociedade. O eleitor de centro defende uma rigidez fiscal, mas não dá as costas à necessidade de programas sociais que beneficiem os mais carentes. Nada daquele perfil sisudo, que combina mais com a direita, de alguém avesso aos direitos humanos e/ou liberal econômico a ponto de defender o Estado mínimo. Ele tem medo de ser assaltado quando sai à rua, evidentemente. Mas não é adepto da cultura de que bandido bom é bandido morto.
“O eleitor brasileiro é de centro e não ideológico. E por que isso? Porque, tirando alguns integrantes de movimentos sociais, filiados aos partidos ou quem participa do movimento estudantil, a única preocupação do cidadão comum é com o dia a dia: emprego, segurança, escola para os filhos. Ele só vai pensar em política às vésperas da eleição, quando para para escolher em quem vai votar”, justifica o professor de ciência política do IBMEC-MG, Lucas Azambuja.
Para ele, no caso dos candidatos, é natural a migração de uma posição mais ideológica ao longo da campanha para um tom mais conservador quando chegam ao poder. “Durante a campanha, eles estão em busca do eleitor. Começam mais radicais, vão amansando o discurso para ampliar o número de apoios. Quando chegam ao Planalto, têm de negociar com a política e os partidos. O tom radical gera embates que paralisam a administração”, completa o professor.
O especialista em marketing digital Marcelo Vitorino afirma que esse discurso centrista dos candidatos está sendo antecipado por uma questão de conveniência: a percepção de que os votos brancos, nulos e a abstenção vão aumentar no próximo pleito eleitoral. “Os candidatos perceberam que não existe mais espaço — e isso vem crescendo desde o escândalo do mensalão — para discursos radicalmente ideológicos, porque o eleitor está desencantado com a política”, resume.
Memória
FHC, Lula e Dilma
À exceção de Fernando Collor, que, em 1989, foi eleito com um discurso claramente de centro, especialmente do ponto de vista econômico — foi o responsável pela abertura do nosso mercado, sobretudo no setor automotivo —, todos os demais presidentes eleitos no período de redemocratização tiveram de ser mais conservadores no governo do que eram antes de chegar ao Planalto.
Eleito em 1995 e 1998, Fernando Henrique Cardoso era um dos ícones do PSDB, partido formado após o rompimento de alguns políticos com o PMDB de Orestes Quércia, considerado fisiológico demais. Mesmo ancorado no sucesso do Plano Real, FHC precisou, para ser eleito e governar, aliar-se ao PFL (hoje DEM) comandado pelo baiano Antônio Carlos Magalhães e que dava as cartas nos grotões brasileiros.
Em 2002, desgastado após perder três eleições, Luiz Inácio Lula da Silva não apenas criou a figura “Lulinha paz e amor” para provar que não era radical. Foi obrigado a escolher um vice empresário — José Alencar —, redigir a carta ao Povo Brasileiro para acalmar o mercado e ainda fez um governo, sobretudo no primeiro mandato, com Antonio Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, extremamente fiscalista. Tanto que os radicais petistas abandonaram o navio e fundaram o PSol. Lula acabou reeleito em 2006.
Até Dilma Rousseff, que foi guerrilheira e presa durante o regime militar, teve de se alinhar ao PMDB de Michel Temer para ser eleita e reeleita. Mas não soube lidar com o Congresso e implantou uma linha econômica desastrosa, pouco simpática ao mercado. Acabou sendo afastada do poder pelo impeachment.
Redação
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