As chuvas que atingem o Sul e Sudeste do Brasil desde o início da primavera no ano passado foram devastadoras: pelo menos 180 mortes e mais de 70 mil pessoas que tiveram que deixar suas casas, de acordo com a Secretaria Nacional de Defesa Civil, subordinada ao Ministério de Integração Nacional. Só na semana passada, nove pessoas morreram em consequência das chuvas na Grande São Paulo.
Se não todas, pelo menos parte dessas mortes poderia ser evitada.
Para o chefe do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres da secretaria, Armin Braun, as ações preventivas e emergenciais são prejudicadas pela falta de verba que os Estados deveriam repassar aos municípios. A falta de dinheiro impede que as defesas civis municipais implementem, por exemplo, programas preparativos para evitar desastres.
Segundo Braun, essas ações minimizariam danos materiais, ambientais e, sobretudo, poupariam diversas vidas perdidas em desastres. “Medidas simples, como a instalação em áreas de risco de pluviômetros de baixo custo, feitos de garrafas pet, surtem efeito e diminuiem as consequências das fortes chuvas junto às comunidades”, explica.
Outra ação que pode salvar vidas, segundo Braun, são os planos de evacuação com sistema de alarme, em que moradores de encostas manteriam um sinal de aviso e seguiriam um plano de evacuação pré-preparado. Esse esquema de segurança poderia ser também elaborado e supervisionado pelas defesas civis municipais.
Braun adverte que muitas cidades não são preparadas para trabalhar com medidas pré-desastre. “Normalmente, as grandes cidades e as capitais trabalham com esse tipo de medida normalmente. Já as menores, não possuem estrutura para esse tipo de trabalho”, disse.
População é alertada, mas não sai
As medidas pré-desastre, no entanto, sofrem resistência de parte da população que vive em encostas e regiões que correm risco de deslizamentos.
Angra dos Reis (RJ), por exemplo, onde 53 pessoas morreram vítimas do deslizamento de terra na madrugada de Réveillon, possuia medidas de preparação para desastres, segundo a Defesa Civil local. A área da comunidade do morro da Carioca – onde 21 pessoas morreram – era monitorada por meio de pluviômetros. Esses aparelhos, embora não fossem instalados no próprio morro estavam próximos à localidade.
Mas, segundo Francisco Júdice, relações públicas do órgão, eles não foram suficientes para evitar as mortes. “Na noite da tragédia, nossa equipe foi até o morro fazer o alerta, mas muitas pessoas nem sequer abriram as portas. Nós conseguimos fazer a retirada de três pessoas”, disse. “Nós não podíamos retirar as pessoas pela mão, né?”, lamenta.
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