O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) divulgou texto em sua página no Facebook em que nega ter pedido qualquer análise sobre um eventual pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). FHC também contesta a análise de articulistas que o associaram a uma tentativa de “golpe paraguaio”, em referência à intervenção da Justiça do Paraguai para depor o ex-presidente Fernando Lugo, em 2012.
“Diante desse disparate, sou obrigado a reiterar o óbvio: sou e sempre fui intrinsecamente um democrata. Não será aos 83 anos que mudarei esta convicção”, rebateu o ex-presidente. “Não há ameaças golpistas, a não ser na imaginação de partidários do governo que sentindo o descalabro procuram justificativas jogando a responsabilidade em ombros alheios”, acrescentou.
O advogado José de Oliveira Costa, que integra o Instituto Fernando Henrique e trabalha para o tucano, encomendou um parecer ao jurista Ives Gandra para saber se há fundamentos jurídicos para um eventual pedido de impeachment de Dilma, como revelou a Folha de S.Paulo esta semana. FHC diz que não sabia do pedido de parecer do advogado, que diz ter agido por conta própria.
No texto, Fernando Henrique afirma que se opôs a qualquer tentativa de afastamento do ex-presidente Lula em 2005, no auge da crise do mensalão. Em artigo publicado no último domingo (1º), o tucano escreveu que, “no momento”, o impeachment não é “matéria de interesse político”.
No Facebook, FHC diz que seria incoerente se apoiasse, agora, o impedimento da petista. “No caso do mensalão (com razões suficientes para responsabilizar Lula), opus-me a qualquer impeachment por julgar que derrubar um presidente eleito (coisa que o PT tentou comigo; lembram-se do Fora FHC?) pode fazer mal para a formação da cultura democrática. Tal iniciativa só se justifica quando há razões políticas e criminais comprovadas. Por que mudaria agora o modo de pensar?”
Segundo o ex-presidente, a saída para a crise do governo é política. “Se eu estivesse na Presidência nestas circunstâncias apelaria a todas as forças políticas e sociais para uma união contra as ameaças sérias que pesam sobre o futuro do país”, criticou. Para ele, Dilma precisa reagir imediatamente. “Lamento também que até agora a presidente não tenha feito qualquer gesto efetivo de repúdio à podridão que invadiu os costumes políticos nacionais, onda que, eventualmente, pode engolfá-la, mesmo que sem sua culpa direta”, afirmou.
Leia a íntegra do texto publicado por FHC no Facebook:
“Na terça-feira, li opinião de um jurista, publicada na Folha de S. Paulo, sobre um possível processo de impeachment contra a presidente Dilma. No corpo do artigo, há a informação de que José de Oliveira Costa o havia inquirido sobre o tema.
Oliveira Costa é membro do IFHC e como advogado tem atendido, circunstancialmente, casos meus. Não é homem de vida política e muito menos partidária. Não me consultou antes de solicitar um parecer sobre o impedimento, até por descabido, pois está em pleno exercício de suas funções advocatícias.
Posteriormente articulistas, notadamente o blog de Ricardo Kotscho, buscaram atribuir-me ter dado um toque de clarim para por em marcha um chamado “golpe paraguaio”, deposição do governante pela Justiça, que estaria sendo urdido pelas forças antidemocráticas do nosso país.
Diante desse disparate, sou obrigado a reiterar o óbvio: sou e sempre fui intrinsecamente um democrata. Não será aos 83 anos que mudarei esta convicção.
No caso do mensalão (com razões suficientes para responsabilizar Lula), opus-me a qualquer impeachment por julgar que derrubar um presidente eleito (coisa que o PT tentou comigo; lembram-se do Fora FHC?) pode fazer mal para a formação da cultura democrática. Tal iniciativa só se justifica quando há razões políticas e criminais comprovadas. Por que mudaria agora o modo de pensar?
A suposição atribuída a mim tem mais a ver com a situação delicada em que se encontra o governo da presidente Dilma diante das vinculações entre governo, empreiteiras e o mundo político, arrastando de roldão a Petrobras. O descalabro é enorme e a perda de apoio político evidente.
Não foi, esclareço mais uma vez, no sentido de “golpe” ou de impeachment que argumentei no último artigo que escrevi. Pedi que a Justiça chegasse a quem devesse chegar, ressaltando sempre que punições deveriam haver, se culpados houvesse, nunca prejulgando. E repudiei qualquer hipótese de pressão militar, que de resto inexiste.
Mais ainda, acredito que, dada a gravidade da situação, mesmo que a Justiça exerça seu papel, como deve, a solução para sairmos da crise é política. Se eu estivesse na Presidência nestas circunstâncias apelaria a todas as forças políticas e sociais para uma união contra as ameaças sérias que pesam sobre o futuro do país.
Não há ameaças golpistas.
Lamento, como muitos brasileiros, inclusive os que votaram na presidente Dilma, ter ela organizado um ministério com mero propósito de obter “maioria” no Congresso, ou para calar a gritaria do mercado financeiro. O objetivo político aparentemente não funcionou, dada a fragorosa derrota na eleição da Mesa da Câmara dos Deputados. E lamento também que até agora a presidente não tenha feito qualquer gesto efetivo de repúdio à podridão que invadiu os costumes políticos nacionais, onda que, eventualmente, pode engolfá-la, mesmo que sem sua culpa direta.
Não há ameaças golpistas, a não ser na imaginação de partidários do governo que sentindo o descalabro procuram justificativas jogando a responsabilidade em ombros alheios”.
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