Freud e o mal-estar na política

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Em “O mal-estar na civilização” (1930), Freud trata do conflito entre a pulsão humana para sua própria felicidade e as restrições da civilização (cultura). O ser humano tem a tendência de expandir sua vontade na busca de sua própria felicidade. E isso pode destruir o outro. Com vistas a restringir esse ímpeto (“instinto de morte”), a cultura limita as pulsões agressivas.

Para Freud, existem três fontes de sofrimento: a natureza sobre o homem, a fragilidade do corpo e os problemas relativos à regulação dos vínculos entre os seres humanos. Os dois primeiros sofrimentos são inevitáveis. O ser humano tenta resolver o terceiro sofrimento por meio da cultura.

O ser humano tem um mal-estar na vida social. A cultura propõe proteção contra a natureza e regulação dos vínculos sociais. E pretende equilibrar beleza e ordem (utilidade). Mas, para isso, uma maioria mais forte restringe os indivíduos. A civilização enfraquece, desarma e vigia o indivíduo.

A restrição se dá nos âmbitos da vida sexual, moral e da violência bruta. O direito e a monopolização da violência surgem para regular o ímpeto humano. O poder do indivíduo é sobreposto pelo da comunidade. A cultura promete “justiça”: uma ordem social sob a qual todos sacrificam suas pulsões e deixam se ser vítimas da violência arbitrária.

O problema é: existe possibilidade de se equilibrar felicidade individual e a felicidade do todo civilizacional? Para Freud, como a cultura restringe a impetuosidade humana e sua sexualidade, é difícil ser feliz. A troca de felicidade individual por segurança na vivência civilizacional resulta em infelicidade.

Essa tese de Freud é muito importante. No século XX, especialmente a partir da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, surgiram várias oposições políticas e culturais que revolucionaram a sociedade: corpo/gênero; homem/mulher; branco/negro; hetero/homo; etc. A afirmação de um desses polos pela cultura é a negação do outro.

Para os críticos da civilização ocidental, a sociedade é um jogo de soma zero. A objetividade sexual do corpo restringe o gênero; a liberdade do homem oprime a mulher; brancos e heteros ameaçam negros e homossexuais. E assim vai.

Esse é o coração da guerra cultural e da polarização política: a existência ou bem-estar de um representa a anulação ou mal-estar do outro. Enquanto nossa sociedade pensar assim, não existe espaço para o bem comum e para uma vida social mais harmônica e boa para todos. E o resultado será mais relacionamentos e comunidades quebradas e fraturadas.

 

Anderson Paz

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