Estamos em fins de fevereiro. Daqui até outubro, da atual pré-campanha até a campanha de fato, muita lama ainda vai rolar sob a ponte da política paraibana. Senhores, tapem os narizes e tirem as crianças da frente das TV’s quando o guia começar! O espaço que, idealmente, deveria ser usado para o embate de ideias, propostas eficientes para as demandas estaduais, mais uma vez será palco da mais acirrada baixaria.
Programas de governo, saúde, emprego, educação, segurança pública, habitação, ficarão restritos ao papel de meros coadjuvantes. A questão será quem mentiu, quem traiu, quem desviou, quem prometeu e não cumpriu, quem roubou mais. O marketing milionário dos candidatos procurará transformá-los em heróis e fazer dos oponentes vilões, inimigos do povo. É a batalha por corações e mentes, tentando fazer a emoção produzida pelos novelescos guias eleitorais prevalecer sobre qualquer análise racional.
O negócio para cada lado é construir uma imagem o pior possível do inimigo, a fim de incutir no eleitor a mesma sensação de profunda repulsa que nutre para com o vilão da novela das oito. E, enquanto isso, transformar seu candidato-produto num mocinho, o salvador da pátria. E, nesse caminho, do pescoço para baixo tudo é canela, valendo usar quaisquer instrumentos, inclusive os mais sórdidos, como denegrir a não mais poder o adversário. A lógica em pauta é que quem conseguir sujar mais o outro, vence. É guerra de lama. Vence o menos pior, ou pelo menos aquele cujo marketing fizer parecer o menos pior.
O nivelamento por baixo das campanhas políticas não é coisa apenas da Paraíba, claro. E nem é de hoje. Olhando para um passado de até seis décadas, encontramos processos eleitorais sugíssimos, onde, na falta de melhor estrutura publicitária e sob uma legislação ainda mais permissiva, os termos mais extremos eram usados sem maiores escrúpulos.
Exemplos da campanha de 1950
Um forte exemplo do histórico baixo nível de nossas campanhas podemos ter a partir de um olhar sobre 1950. Naquele ano, ocorriam eleições para governador, vice-governador (os vices também eram eleitos pelo voto), senador, suplente de senador (também eleitos pelo voto), e deputados estaduais e federais.
O ministro José Pereira Lira, candidato a senador na chapa encabeçada por Argemiro de Figueiredo (candidato a governador), era arduamente atacado pelo grupo adversário, aliado ao candidato a governador José Américo de Almeida e Ruy Carneiro, que pleiteava o Senado. As fortíssimas agressões eram lançadas por meio de folhetos repercutidos em todo o Estado:
“Em 1946, quando era chefe de polícia no Rio (de Janeiro), (Pereira Lira) mandou metralhar os operários no Largo da Carioca, quando eles se uniram para pedir aumento de salários, porque estavam morrendo de fome. Eis aí, senhores, o sanguinário aliado do senhor Argemiro de Figueiredo. (…) José Américo, em 1932, salvou os pobres que estavam morrendo de fome. Pereira Lira, em época moderna, manda matá-los em praça pública (…)”.
Em outro folheto, atacavam:
“Para matador de crianças e operários no Largo da Carioca, votai no Professor Pereira Lira;
Para perseguidor dos humildes funcionários, votai no Professor Pereira Lira;
Para o suborno e a palhaçada com os dinheiros da Nação, votai no Professor Pereira Lira;
Para a mentira, a calúnia e a traição, votai no Professor Pereira Lira;
Para a vossa desgraça e vergonha da Paraíba, votai no Professor Pereira Lira (…)”
Exemplos inúmeros
Os casos acima apenas buscam fazer o remonte histórico da forte baixaria em campanhas paraibanas já há seis décadas. Mas existiu bem antes e, principalmente, continuou depois disso. Poderíamos ilustrar com exemplos inúmeros, inclusive recentes, como ocorreu em 2008 quando, em Campina Grande, a disputa entre Veneziano Vital e Rômulo Gouveia degringolou num processo de tal sordidez que a eleição caiu em uma onda de acusações, principalmente em torno de usos indevidos de cheques públicos.
Veneziano deixou de definir o pleito no primeiro turno pelo peso das denúncias de suposto desvio de um cheque do fundo de saúde para sua conta-campanha, e Rômulo perdeu quando, no segundo turno, o troco veio na acusação de que ele, enquanto presidente da Assembleia Legislativa, teria distribuído cheques-saúde a assessores, aliados políticos e pessoas de seu ciclo de amizades.
E assim foi decidida a eleição que, inclusive, poderia ter deixado para a história uma tragédia quando os dois oponentes, após um debate, resolveram partir para um tira-teima das acusações na sede da Associação Campinense de Imprensa, sendo seguidos por milhares de aliados, cabos e simpatizantes, e ali permanecendo teimosamente durante horas, em meio a um arriscado clima de animosidade.
São exemplos deploráveis de como não deveria ser uma campanha eleitoral. Tenho certeza que, infelizmente, passado outubro teremos outros muitos casos para anexar ao quadro das baixarias eleitoreiras.
Um esclarecimento
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