Os partidos políticos brasileiros são instituições que mais parecem serventias privadas do que propriamente canais onde devem ou deveriam transitar os legítimos interesses do povo, daí os grandes escândalos de corrupção que envolve seus membros e os desacreditam.
É comum a práxis partidária ser alheia e mesmo desrespeitar a democracia interna, vez que o diretório nacional pode intervir no estadual e este no diretório municipal, rotina essa que os enfraquecem.
Geralmente, não prestam contas do que fora possível realizar com base nos “programas” em benefício dos adeptos, simpatizantes e eleitores, enfim, da população, à qual cabe convencer das suas boas práticas políticas justificadoras da vitória e da assunção ao governo.
Assim, funcionam os partidos nas democracias maduras e esclarecidas – a nossa, infelizmente, ainda não foi alçada a esse patamar –, como a inglesa, a norte-americana, a francesa, a canadense, a alemã, a sueca, a dinamarquesa, etc.
Em qualquer delas o eleitor sabe qual o “programa político-partidário” e, portanto, como será a atuação do parlamentar ou do titular do cargo executivo que elegeu ou elegerá, sendo de se destacar que não existe, como no Brasil, a enorme quantidade de cargos comissionados no serviço público ocupados por indicação política e por pessoas estranhas aos quadros da administração pública.
Enquanto não chegarmos a esse almejado nível, o que veremos, lamentavelmente, é um “arremedo de partidos” compostos de muitos maus políticos que fazem da atividade parlamentar um trampolim para a obtenção de vantagens pessoais e enriquecimento ilícito, com as devidas exceções dos realmente vocacionados à vida pública e que a exercem como “múnus em proveito do povo”.
Cinquenta anos depois, ainda é de se lamentar o golpe militar de 1964 não só pela ruptura violenta da legalidade democrática pós-1946, das mortes, torturas e sofrimento dos idealistas que o enfrentaram, do forçado divórcio dos jovens da atividade política, mas, também, pela desintegração e esfacelamento dos partidos, principalmente do PSD – Partido Social Democrático e da UDN – União Democrática Nacional, consolidados em âmbito nacional com conteúdo ideológico definido, a exemplo dos partidos democrata e republicano nos Estados Unidos.
Acredito que os outros, com duas ou três exceções, tenderiam a ser incorporados àqueles dois partidos e, por conta disso, teríamos tido um presidencialismo vigoroso e mais apropriado ao modelo republicano instaurado em 1891 e não um amontoado de siglas (hoje 32) sem cara e propósitos – muitas de aluguel – que não sobreviveriam mesmo no competitivo ambiente parlamentarista.
Tal fenômeno é péssimo para a democracia brasileira, pois sua conseqüência ou é o surgimento de ditaduras como visto nos governos Vargas e Militar ou a repetição de longos ciclos de poder sob a batuta de um único partido, hoje, o PT.
O arguto Millor Fernandes escreveu certa vez no extinto periódico “Pasquim”, que “o poder é um camaleão ao contrário – todos cuidam de assumir sua cor”. O adesismo atual das forças políticas bem demonstra isso.
A verdadeira democracia é incompatível com a destruição da oposição, pois lhe é essencial à existência, o contraditório e o respeito às minorias para que sua luz radiante a todos igualmente ilumine e fortaleça. A ausência de contraponto às ações de governo pode conduzir ao serôdio totalitarismo do Estado em nome de políticas de bem estar social transformadas em instrumento de voto de cabresto.
Não é aceitável que a ditadura do Estado provedor leve à supressão da liberdade de crítica e a rotulagem dos que discordam do governo, de qualquer governo, como inimigos do povo e, pior ainda, quando se presta para esconder ou disfarçar a corrupção. Afinal de contas, o dinheiro para bancar àquelas políticas pertence a todos.
O que também é impróprio à democracia é que a oposição se cale quando deve falar, omita-se quando deve participar, consinta quando cabe divergir, pois “o silêncio” – como disse Sartre ao apoiar os protestos estudantis na conturbada Paris de 1968 – “é cúmplice e reacionário”.
Somente líderes de perfil autoritário almejam a unanimidade. E segundo o saudoso Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”.
O adesismo político-fisiológico dos partidos os enfraquece tanto em âmbito federal, como estadual e municipal, já que os eleitores dificilmente os perdoarão, o que só contribui para o seu declínio e aniquilação. É suicídio político certo.
Os verdadeiros líderes políticos se sobressaem na adversidade e não na bonança desde que se mantenham coerentes e conectados aos interesses da população, para assim permanecerem quando alcançar o poder e se provarem melhor preparados para realizar “o bom governo”.
Max Weber bem comprovou que “(…) o homem não teria obtido o possível, se não tivesse lutado, uma vez ou outra, para alcançar o impossível”.
Na luta política o que parece impossível hoje poderá não ser daqui a dois, quatro ou oito anos…
É comum, partidos ingleses passarem mais de uma década na oposição e nem por isso praticam o adesismo e definham de modo a não serem uma alternativa viável de governo.
Praticar corrupção, então, é algo inimaginável…!