Permitam os caros leitores e leitoras, nestes dias em que só se fala de copa do mundo e política, abordar tema diferente.
A Itália, como sabido, é um dos berços da cultura ocidental e substituiu com inegável sucesso a civilização grega da qual absorveu muito em termos de idéias, organização social e realizações materiais.
Do que sobrou de sua antiga história, parte ainda está de pé: Coliseu, Panteon, Círculo Máximo, Arquedutos, Pompéia, etc., só para citar alguns sítios arqueológicos.
Do etéreo que muito alegra o espírito, temos o excelente vinho italiano fabricado desde a antiguidade e que apreciadores podem comprar na tradicional ENOTECA LUCANTONI em Roma, situada no Largo Vigna Stelluti 33, tel. 063293743, diretamente com Stefano, neto do fundador, rapaz simpático e fluente em inglês.
Aqui vão alguns rótulos, inclusive de supertoscanos que adquiri e recomendo: TIGNANELLO, GUADO AL TASSO, GIRAMONTE, CEPPARELLO, FONTALLORO, GRATTAMACCO, OREMO, DESIDERIO, MORMORETO, LAMAIONE, GAJA CA’ MARCANDA, GAJA MAGARI, LE SERRE NUOVE, BRUNELLO DE MONTALCINO POGGIO ALLA MURA, SAN GUIDO GUIDALBERTO, CASTELLO DI AMA CHIANTI RISERVA e CASTELLO DI BROLIO BARONE RICASOLI.
No campo imaterial do direito, sua influência ainda hoje é notável e seu legado, notadamente o “jus civilis” ou “civil law”, na expressão inglesa, é a base remota do nosso ordenamento privado – o direito civil.
Ao visitar os monumentos históricos e museus em Veneza, Florença, Roma e a cidade do Vaticano em recente viagem, fui tomado por um sentimento valorativo fincado no binômio que dá título a estas linhas – o eterno e o etéreo.
O registro em pedras cuidadosamente cortadas de obras grandiosas e esculturas de importantes homens antigos que resistiram à destruição total decorrente de fenômenos naturais e ação humana, como terremotos e guerras, me traz à pergunta: seria isso eterno…!?
Ou, ao contrário, seria apenas etéreo, vez que “tudo que é sólido” e por mais sólido que seja, “desmancha no ar”?!
Por outro lado, não seria a palavra, o verbo, as idéias, os conceitos que perduram até hoje, o eterno? Ou, também seriam elas etéreas por poder ser sobrepujadas, substituídas por outras e mesmo esquecidas?!
Quem vê monumentos grandiosos feitos pela mão do homem a cerca de dois mil anos tende, num primeiro encantamento, a considerá-los como algo eterno, pelo fato de terem resistido tanto tempo. Mas, é de se indagar — estarão de pé ou sobrará alguma coisa deles daqui a dois ou três mil anos?!
Já as idéias, as concepções filosóficas da religião, da moral e do direito, a mim parecem mais eternas do que aqueles monumentos, pois tendem a acompanhar a existência da própria humanidade no planeta terra.
Ao caminhar sobre e tocar ruínas antigas, tento imaginar a vida e a sociedade que as habitou e daí descortinar como tudo é fugaz e etéreo nessa nossa tortuosa trajetória. O homem constrói e destrói obras grandiosas, assim como a natureza.
Aliás, tive essa sensação bem presente ao assistir em Nova Iorque uma exposição com corpos calcificados pela lavra vulcânica e objetos recuperados da antiga Pompéia e participar de tour virtual pela cidade nos momentos que antecederam sua destruição onde era possível sentir o som da erupção, as lavras se aproximando, gritos e os abalos da terra.
Simone de Beauvoir, companheira de Sartre, admoestava seus amigos materialistas lembrando-os: “você não tem uma vida, você passa pela vida”…!
A propósito de passagem, no segundo semestre de 2014, Roma será palco de grandioso espetáculo histórico encenado ao ar livre para comemorar os 2.000 mil anos da morte do Imperador Augusto. Apaixonado que sou pela civilização romana, se pudesse estaria lá.