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José Faustino de Almeida

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 Na coluna de hoje, presto tardia homenagem a um daqueles amigos de infância que admirava.

Via-o como exemplo de sucesso em tudo que fazia: era craque no futebol e, sem exagero, um talento verdadeiramente desperdiçado naquele sertão árido e sedutor; driblava maravilhosamente e chutava melhor ainda com os dois pés, sendo um meio atacante inspirado e artilheiro quando comparado aos pernas-de-pau que hoje vejo jogar em times grandes e até mesmo na seleção brasileira.

Nos relacionamentos amorosos, era um conquistador nato. Teve muitas namoradas e amores, inclusive que o ‘impediram’ ou, pelo menos, atrapalharam seu êxito nos estudos quando para isso veio residir em João Pessoa, pois costumava perder semestres inteiros apenas para reencontrar as belas sertanejas e viver temporadas de paixões.

Só muito depois é que concluiu um curso de licenciatura na cidade de Cajazeiras. Cordato, gostava de política e chegou a exercer mandato de vereador, mas não teve recursos para se manter na atividade já que baseava sua atuação na ajuda às pessoas.

Com ele participei de brincadeiras de rua, banhos em rios, açudes e cachoeiras quando o esperado inverno chegava. Naquele tempo, chovia mais e já nas primeiras trovoadas nossa turma saia a banhar-se pelas bicas generosas que desciam dos telhados da cidade, felizes e embriagados pelo cheiro da terra molhada e das cotas d’agua que escorriam sobre o corpo.

Poderia José Faustino ter jogado num grande time brasileiro, seu cunhado, Dr. Oséas Alves Mangueira, médico nascido no Recife e que jovem aportou na cidade, ainda tentou levá-lo para o Esporte.

Em vão. Nunca teve forças para realizar tal sonho, talvez mais dos outros que dele próprio.

Suas pernas pareciam pregadas naquele campo, depois batizado ‘Estádio Marcondes Cruz de Lacerda’ em homenagem a outro amigo de infância e também futebolista de São José de Piranhas, cuja vida foi prematura e covardemente ceifada numa emboscada noturna em cidade do Rio Grande do Norte, a mando, segundo se comentou, de um marido traído.

Ambos eram boêmios e com eles, embora ainda muito jovem, participei de algumas bebedeiras marcantes, lembrando-me bem do primeiro pileque movido a vodka com laranjada, refrigerante que hoje já não existe, durante uma passagem de ano novo, acompanhado das primeiras tragadas de cigarro da marca ‘cônsul’, mentolado, cujo vício larguei há mais de 20 anos.

Com o jovem Marcondes, comemorei ‘a passagem no vestibular’ do Curso de direito da UFPB com uma aventura digna do feito: pedi a um irmão para dar uma volta no seu automóvel novo e, de caso pensado, fomos atrás de paqueras que antes conhecêramos em João Pessoa e estavam de férias na cidade de Conceição, onde a festa rolou por dois dias até sermos resgatados por meu saudoso pai e irmão no meio de muitas repreensões, seguidas pelo alívio de ambos. Meu pai por seu futuro doutor e o amigo estarem fisicamente bem e meu irmão pelo carro inteiro. Enfim, estávamos perdoados.

Fazia quase dois anos que encontrara José Faustino. Seguíamos eu e minha esposa de automóvel por uma rua daquela cidade e de repente o vimos andando com aquele caminhar pesado e sintomas típicos de bebedeira.

Conversamos um pouco, mas o senti ausente e desejoso de seguir para casa onde provavelmente arriaria numa rede até que, à noite, de novo alguém fosse encontrá-lo para tomar alguns tragos antes do jantar, de regra, substituído pelos tira-gostos de boteco e por mais um retorno ébrio à residência.

Essa era a rotina de muitos dias do meu caro amigo José Faustino, de quem a vida distanciou-me fisicamente e de outros remanescentes que por lá ainda residem. No caso dele, havia um complicador realmente grave: era diabético e ultimamente fazia hemodiálise para manter-se vivo.

Desse último detalhe, soube quando de sua morte. Segundo os comentários, havia tomado ‘uma grande’ para comemorar seu aniversário, que seria o último, e isso ele mesmo sentira ao ser colocado numa ambulância que o trouxe para João Pessoa onde faleceu aos 63 anos de idade.

Outro craque e boêmio extremado de sua geração, o espera para formar dupla de ataque no céu: Francisco de Assis Lima, conhecido por “Diá”, reponsável por minha ida à Amazônia e que também apressou o relógio da partida final em razão do álcool quando capotou o veículo que conduzia em direção a Cajazeiras em pleno dia 31 de dezembro.

Deste espaço apresento aos familiares e amigos de José Faustino, os meus mais sinceros votos de pesar e de tristeza pela sua morte.

Fosse eu romancista, certamente seria um dos meus personagens, junto com os dois antes citados em romance com o título: “Nas Curvas do Tempo” .

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