Em visita a Londres nesta quinta-feira (14), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a posição de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que afirmou que a oposição deveria esquecer o "povão". "Sinceramente não sei como alguém estuda tanto e depois quer esquecer o povão. O povão é a razão de ser do Brasil. E do povão fazem parte a classe média, a classe rica, os mais pobres, porque todos são brasileiros."
Em um artigo publicado na revista "Interesse Nacional", FHC disse que enquanto o PSDB e seus aliados tentarem disputar com o PT influência sobre os "movimentos sociais" ou o "povão", eles falarão sozinhos.
Lula afirmou ainda que a oposição não pode ser "vingativa" ou "negativista". "O que o povo brasileiro quer é gente que pense continuísmo no Brasil. Afinal, nós conquistamos o estágio [atual] de auto-estima e a gente não pode voltar a trás. A oposição quer que tenha uma desgraça para ela ter razão e não vai ter".
Lula está na Europa a convite da Telefónica, que está arcando com as despesas. Na manhã desta quinta, ele fez uma palestra para executivos da empresa em que ressaltou as perspectivas de investimento no Brasil e o fortalecimento da democracia na América do Sul. "Toda vez que eu puder viajar e tentar convencer as pessoas de que o Brasil é o país da vez e merece investimento, que tem a democracia consolidada, eu faço isso." Foi a terceira palestra internacional desde que deixou o governo.
"Tenho que aproveitar o nome que o povo brasileiro me deu para levar para o Brasil o desenvolvimento. O Brasil vive um momento de ouro", afirmou.
Ao final do evento, ele entrou em uma churrascaria brasileira que fica no mesmo espaço do centro de conferência da palestra, conversou com os funcionários e tirou fotos. Perguntado sobre a Dilma, Lula respondeu: "Faz poucos meses alguns adversários diziam que a Dilma não tinha competência, não era preparada, que era um poste. E hoje todos eles começam a reconhecer que ela era competente, preparada e o maior orgulho é que é uma mulher."
Sobre a inflação, disse não há perigo de voltar. "Quando estabelecemos as metas de 4,5%, nós colocamos uma banda de 2,5% para mais ou para menos. Portanto, estamos dentro da meta. Quando baixamos da meta e fomos para 3,1% em 2006, ninguém fez um artigo me elogiando. Agora, quando sobe para 4,75% [reclamam]."
Lula criticou mais uma vez quem torce contra o governo e afirmou que a presidente Dilma já tomou as medidas necessárias para evitar a elevação da inflação. "Quando tem um estouro de preços de commodities no mercado internacional, não tem como controlar. O que precisamos nesse momento é de muita tranquilidade. Estou convicto que o governo brasileiro não abrirá mão da responsabilidade fiscal e do controle de gastos. E vai fazer na medida que tiver que fazer as coisas."
Em relação ao câmbio, Lula disse que depende menos das medidas do Brasil. "Enquanto o G20 não compreender que os Estados Unidos não podem fazer ajuste fiscal às custas dos outros, porque o que ele quer resolver com a redução do dólar na verdade é o seu problema fiscal interno." O ex-presidente afirmou ser favorável ao país não depender do dólar. "Pode-se criar uma cesta de moedas com os países com os quais o Brasil negocia. Por que Brasil e Argentina têm que usar dólar no nosso fluxo comercial e não utilizam o real e o peso?"
Ele ressaltou ainda que pretende levar experiências bem sucedidas no Brasil, como as relacionadas à agricultura familiar, ao micro-crédito, e o Bolsa Família, e apresentar para os países africanos. "[Mas] não posso chegar lá com o pacote pronto e achar que pode ser implantado. A gente só abre a geladeira da casa da casa dos outros depois que pedir para o dono para abrir e se for educado não abre. Então, não quero chegar com políticas prontas. Quero discutir com eles como é que nós fizemos para ver se há a possibilidade nesses países coisas que deram certo no Brasil, a começar pelos de língua portuguesa.
Lula chegou na Inglaterra na noite de terça-feira. Na quarta, ele se encontrou com o historiador britânico Eric Hobsbawm e a presidente da ONG inglesa Oxfam, Barbara Stocking. O tema das conversas girou em torno da África.
Na tarde desta quinta, ele embarca para Madri, onde fica até sábado (16), quando volta ao Brasil. Na Espanha, ele vai receber um prêmio da Prefeitura de Cádiz na sexta e, no sábado, se reúne com o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero. À tarde, assistirá ao jogo de futebol entre Barcelona e Real Madrid.
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