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Nem acidente de esposa afeta frieza e concentração de Cunha

 Preso em Curitiba há quase cinco meses – a serem completados no próximo dia 19 –, o deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB) exibe uma “frieza impressionante” em sua rotina no Complexo Médico Penal, em Pinhais, região metropolitana de Curitiba.

 

“Cunha é um homem impassível. Não mostra abatimento algum. Nunca sorriu, nunca chorou, nunca deu uma gargalhada. Ele é hoje igual à pessoa que conduziu a sessão do impeachment [da ex-presidente Dilma Rousseff]. A frieza dele é uma coisa que impressiona”, relata ao UOL um assistente da defesa do ex-deputado, que costuma acompanhar as audiências com o político na cadeia.

 

Nem mesmo uma má notícia sobre a mulher, a jornalista Claudia Cruz, abalou a aparente frieza de Cunha. Ao ser informado de que ela sofrera um acidente de bicicleta, em janeiro, e ver fotos do machucado, o ex-deputado limitou-se a dizer ao advogado que lhe mostrou as imagens: “Ok, obrigado”. E deu sequência a uma conversa sobre os processos que responde na Justiça. Claudia precisou ser submetida a uma cirurgia devido à fratura na perna.

 

Além de receber seus advogados, Cunha também tem visitas da filha, que é igualmente advogada e, por isso, tem a prerrogativa de solicitar audiências com o político fora de horários de visitas. Às sextas-feiras, como os demais presos, tem direito a receber os familiares para almoçar na cadeia, fora da cela.

 

“Troféu de Moro”

Mesmo preso, Cunha segue a se ver – e agir – como político. Contrariou advogados ao decidir publicar, no início de fevereiro, artigo na “Folha” em que afirma estar preso pela “necessidade [de Sergio Moro] de me manter como troféu”.

 

“Cunha acredita que é um ‘injustiçado’, um ‘troféu nas mãos de Sergio Moro'”, diz a fonte ouvida pela reportagem. Provavelmente por conta disso, sua postura ao tratar da defesa nos processos em que é acusado pela força-tarefa da operação Lava Jato é descrita como “beligerante”.

 

“Ele não deixa passar nenhuma chance de se defender no processo e celebra qualquer pequena vitória. Ficou satisfeito com dois dias a mais de prazo, dados por Moro, para entregar algumas alegações, ainda que seus advogados tenham dito que eles não eram necessários. É que ele queria ter o mesmo prazo dado à acusação”, descreve o assistente.

 

No Complexo Médico Penal, que abriga, além de detidos na Lava Jato – o ex-ministro José Dirceu, por exemplo –, também condenados pela Justiça federal paranaense com ensino superior e presos que cumprem pena por crimes como estupro, que precisam ficar separados dos demais, Cunha passa os dias trajando bermudas ou jeans, camisetas e agasalhos de moletom. As roupas são levadas por familiares e têm de ser obrigatoriamente brancas ou cinzas.

 

Mas, quando saiu para a primeira audiência com Sergio Moro, em fevereiro, esmerou-se: vestiu terno, levado por familiares, adornado com abotoaduras. Naquele dia, surpreendeu até mesmo o advogado Marlus Arns de Oliveira, que o defende no processo tocado por Moro, ao revelar ser portador de um aneurisma cerebral – confirmado em seguida por exames médicos.

 

Delação?

O UOL apurou que Cunha tinha “grande esperança” de ser solto após o fim da fase de instrução – ou seja, de coleta de provas – de um dos processos a que responde em Curitiba. Mas a liberdade foi negada por Moro, que afirmou que o “poder político” do deputado cassado põe em risco as investigações e a conclusão dos processos que ele responde.

 

A decisão foi ratificada, dias depois, pelo Tribunal Regional Federal da 4a. Região, em Porto Alegre. Em decisão sobre outro pedido, o Supremo Tribunal Federal (STF) também negou, no último dia 15, liberdade a Cunha.

 

Por conta disso, e por avaliarem como “remotas” as chances do político conseguir a liberdade em recursos ainda pendentes de julgamento, advogados dele consideram que uma delação premiada tem que ser considerada como estratégia de defesa.

 

Arns de Oliveira – que é especialista no tema –, porém, vê a possibilidade com ceticismo. “Só querer colaborar não basta. Com as 77 colaborações de executivos da Odebrecht, é preciso analisar o que Eduardo Cunha ainda poderia apresentar como fatos novos à Justiça”, avalia. “[Por conta disso] A colaboração pode ser, agora, menos atrativa”.

 

Cunha é lembrado frequentemente, por seus advogados, da possibilidade de uma delação. Já ouviu, também, que que, se condenado em Curitiba, pode ter de ficar até 12 anos preso, cumprindo pena em regime fechado. Até agora, porém, não sinalizou que deseja colaborar com a Lava Jato. Os defensores só acreditam que ele possa mudar de ideia caso as investigações alcancem a mulher ou os filhos.

 

Por ora, apenas Claudia Cruz é ré na Lava Jato – responde por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ela foi convocada por Moro para depoimento em novembro passado. À época, respondeu apenas às perguntas da defesa. Em ofício protocolado no processo nesta quinta-feira (2), o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça informa que Chiam Shu Xin Cindy, arrolada como testemunha de defesa pela mulher de Cunha, teve depoimento autorizado por autoridades de Singapura, onde vive.

 

No último dia 15, Moro anotou, em despacho, que “transcorreu o prazo de quatro meses fixado para o cumprimento dos pedidos de cooperação jurídica internacional [para o depoimento de Cindy]”, e que “é o caso de prosseguir para a fase final” sem que ele seja prestado. A defesa de Claudia Cruz pediu, uma semana depois, que Moro reconsidere a decisão, e disse que “a oitiva da testemunha será realizada entre o final do mês de março e início de abril”.

 

 

UOL

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