Natalie Lamour, personagem da novela "Insensato Coração", é só uma personagem de ficção. Suellem Aline Mendes Silva, a Mulher Pêra, não é. Três centímetros mais alta e bem mais curvilínea que a atriz Debora Secco, a Mulher Pêra também quer, como Natalie, desfilar nos corredores enormes do Congresso Nacional e, quem sabe, no antigo Banespinha, sede da prefeitura de São Paulo.
"Estou gostando deste negócio de política, do contato com os fãs nas ruas", diz Suellem. "O partido diz que se não pintar outro candidato mais bacana, eu posso até ser candidata à Prefeitura de São Paulo. Não sei quem são os outros candidatos, ainda é muito cedo, mas eu toparia numa boa ser candidata a prefeita. Se eu perder, vou continuar tentando", promete.
Na trama global, a personagem de Deborah Secco é uma pseudocelebridade carioca de 25 anos, casada com um banqueiro corrupto cinquentão vivido pelo ator Herson Capri. Obstinada pelo sucesso, Natalie filiou-se ao fictício Partido da Moralidade Pública (PMP) e candidatou-se a deputada federal, cargo que assumiu no último capítulo da novela.
Já a paulista Suellem Silva, uma mulher fruta de 24 anos que vive em São Paulo, escolheu o não-fictício Partido Trabalhista Nacional (PTN) e candidatou-se a deputada federal em 2010. Agora, quer uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo e sonha em disputar a Prefeitura. O mentor político da modelo e cantora de funkaxé é seu empresário, Edy Lopes, um simpático cearense ex-apresentador de TV de 59 anos e 1,62 metro de altura com quem mora há seis anos.
“(Em 2010) tive 3 mil votos, mais do que o Maguila", se orgulha. "Mas o partido não pagou uma multa de R$ 3,20 que tinha de pagar porque eu não tinha votado na eleição passada, não tinha justificado. Aí, anularam meus votos”, lamenta a Mulher Pêra.
Dizendo-se chateada com o que chama de falta de consideração do PTN, Suellem migrou para o também não-fictício Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB), sigla pela qual se candidatará em 2012. A diferença entre PTN e PTdoB? "Não vejo diferença nenhuma, não sei dizer", responde.
Se seu marqueteiro se inspirasse no dramaturgo Gilberto Braga, autor de "Insensato Coração", Suellem poderia muito bem soltar a pérola: "Vamos fazer uma drenagem linfática nessa corrupção, combater a celulite do governo!” Mas não é o caso. O slogan da Natalie da vida real foi bem menos engenhoso: “A comunidade diz: vote na Pêra para ser feliz”.
Efeito Tiririca
Como Natalie Lamour, a Mulher Pêra nunca foi uma aluna aplicada e largou os estudos após concluir a antiga 8ª série, último ano do ensino fundamental. Ambas também não são nem nunca foram politicamente engajadas. Menos ainda. Elas não sabem sequer o que fazem os parlamentares que ocupam os cargos que almejam. “O que faz um deputado, mesmo?”, perguntou Natalie na novela.
“Não sei o que faz um vereador, ainda não conversamos sobre isso”, admite a Mulher Pêra, divertindo-se com o arremedo de Tiririca (PR-SP), deputado federal mais bem votado do País em 2010.
A Mulher Pêra diz ainda não ter muitas propostas para apresentar aos eleitores da capital paulista. Com algum esforço, lembrou-se de duas. A redução da maioridade penal para 16 anos e tornar mais rigorosa a Lei Maria da Penha. Pela Constituição, legislar sobre esses assuntos cabe ao Congresso Nacional.
"Acho que hoje é muito pouco o homem que bate comprar algumas cestas básicas. Tem que ir preso", defende, embora a lei já preveja prisão para acusados de agressão. "Meu pai batia em mim e na minha mãe. Cresci com trauma", conta.
Suellem, que deixou Guaratinguetá, no interior de São Paulo, aos 18 anos, quando foi morar com Edy Lopes na capital, não vê o pai há muitos anos. "Fiquei sabendo que ele é delegado em São José (dos Campos, no Vale do Paraíba). Me contaram também que ele foi contra meu relacionamento com o Edy, acho que por causa da diferença de idade".
Mas Suellem não está "nem aí" para a opinião do pai e pretende seguir fielmente a orientação do companheiro, também pré-candidato, o maior incentivador da carreira política da mulher fruta.
IG
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