O Sintab passou dos limites?

É próprio de algumas pessoas evitar polemizar sobre determinados assuntos. Eu sou assim e por diversas vezes relutei em escrever sobre a atuação do Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais do Agreste da Borborema, o Sintab, sindicato criado para defender os interesses dos funcionários da Prefeitura de Campina Grande e de outras cidades da região. Aliás, para início de conversa, alguém viu o Sintab por aí defendendo outras cidades nos últimos dias?

Mas devido aos últimos fatos ocorridos em Campina eu não posso mais deixar de falar. Aos que não moram na cidade, é imperioso que eu possa historiar alguns acontecimentos, para que entendam o porquê deste comentário.

O sindicato está em meio a uma greve de servidores municipais em Campina Grande, que segundo a Prefeitura afeta poucas unidades educacionais e de Saúde e, segundo o Sindicato, é “a maior greve da história da cidade”, como bradou um carro de som em frente à Secretaria de Administração, dia desses. Neste caso, a análise só quem pode fazer é quem mora em Campina e sabe se há ou não funcionamento dos setores da Prefeitura.

A greve é feita com base em uma pauta que vive mudando. Mas, basicamente, a principal reivindicação é a salarial, para não fugir à característica dos movimentos paredistas. Em que pese vivermos em um país quase sem inflação, o Sintab reivindica um percentual de aproximados 40% de reajuste. Isso mesmo, 40%. Deixo aqui para os leitores a análise dessa informação também.

Outro dia escrevi que o presidente do Sintab é filiado ao PSB, partido do candidato a governador Ricardo Coutinho, ex-aliado de Veneziano que, ao mudar de lado político, virou adversário. Não é demais lembrar que Ricardo Coutinho e Veneziano Vital do Rego eram citados, há até bem pouco tempo, como as duas grandes lideranças políticas jovens da Paraíba, que surgiam em meio às feras de então como promessas alvissareiras para o futuro político do estado. Para alguns, poderia haver espaço político para ambos. Mas para outros, só um poderia permanecer. A saída? Um dos dois tentar desestabilizar a vida do outro…

Quando disse aqui que o presidente do Sintab era filiado ao PSB ele deu entrevista na Rádio Campina Grande FM e, ao ser questionado sobre o que eu havia divulgado, confirmou a filiação, mas disse que iria me processar, o que não ocorreu. Deixo essa para análise também.

Há alguns dias a prefeitura inaugurou a Creche Professora Alcide Cartaxo Loureiro, no Conjunto Cinza. Essa creche foi visitada pelo presidente Lula, quando de sua última passagem por Campina Grande, e elogiada por ele. Tanto que, uma semana depois, o próprio Lula autorizou a construção de outras quatro unidades, EU DISSE QUATRO, na cidade e, ao mesmo tempo, determinou que o MEC usasse a creche do Cinza como padrão para o país. Tudo em reconhecimento, segundo o próprio presidente “à qualidade da obra que Vené está fazendo, em nome da Educação brasileira”

A solenidade, festiva, tinha a presença dos familiares da homenageada. O Sintab estava lá, com apitos, gritos, etc. Os sindicalistas entraram na creche e passaram a fazer barulho, com seus apitos e gritos. Nem os apelos dos familiares, no momento em que a representante da família da homenageada queria falar sobre a Professora Alcide Cartaxo, foram atendidos. Achei aquilo, além de uma tremenda falta de respeito à memória da educadora, uma grande falta de educação.

O alvo do apitaço, dos gritos, etc, não era a família, não era a creche – também, se fosse, eu diria aqui que os membros do sindicato tinham enlouquecido de vez. Era, tão somente, a figura do prefeito Veneziano, porque a cada palavra que ele pronunciava, ouviam-se gritos, apitos, etc. Pensei na hora: claro, o alvo da greve não é o benefício da categoria, mas a figura do prefeito… essa para reflexão também.

Mas quando eu pensava que o Sintab já tinha feito de tudo, eis que me veio a chamada gota d’água e eu tive que escrever sobre. Há um médico, que eu não conheço, que o presidente do Sintab disse se chamar Dr. Aureliano e que está internado no Hospital Antônio Targino, por conta de um Acidente Vascular Cerebral – AVC. Na Câmara Municipal, durante sessão em que o Sintab esteve presente para discutir a greve, o presidente afirmou que o Dr. Aureliano tinha contraído infecção generalizada. Um quadro clínico grave, infelizmente.

Mas o que me deixou de queixo caído foram as palavras do presidente da entidade que, desta vez, na minha opinião, passou dos limites: “não poderíamos deixar de aproveitar esse momento pra responsabilizar, mais uma vez, publicamente, o prefeito Veneziano Vital do Rêgo Segundo Neto, pelo quadro de saúde de Dr. Aureliano e o que mais ou algo que daqui pra frente possa acontecer com Dr. Aureliano”.

Se existir no mundo expressões para classificar tamanho ato de irresponsabilidade, eu desconheço. É simplesmente o cúmulo do absurdo. Tentar jogar para alguém, quem quer que seja, a responsabilidade pelo estado de saúde de uma pessoa internada por conta de um AVC que contrai infecção generalizada, pelo fato de ser servidor municipal e de ter participado de uma manifestação… paciência.

Pois a família do Dr. Aureliano resolveu falar. Primeiro, desautorizou o presidente do Sintab, a quem classificou de “esse rapaz”, de dar qualquer declaração envolvendo o nome do médico. Depois, disse que Veneziano não tinha qualquer relação com o estado de Saúde do Dr. Aureliano. E, terceiro, que discorda completamente da opinião do Sintab em relação à administração municipal, pois teceu elogios ao prefeito e ao seu modo de tratar a cidade.

Eu sou daqueles que acreditam no poder da mobilização; e que as pessoas, unidas, podem conseguir melhorias em suas vidas pessoais e profissionais. É com base em pensamentos como este que surgiram, por exemplo, os sindicatos. Mas infelizmente, passo a acreditar, também, que a irresponsabilidade faz com que possamos nos deparar com tamanha falta de ética, de respeito, de decência. DECÊNCIA, esta é a palavra. Que pensassem, pelo menos, nos familiares do Dr. Aureliano…

É de se perguntar: será que a máxima de que ‘na vida há limites para tudo’ foi esquecida? Rogo para que Deus, do alto de sua onisciência e onipotência, possa abrir os corações destas pessoas e fazer com que elas repensem suas vidas… Ainda há tempo.