Sempre que dialogo com Rachel Sheherazade, inevitavelmente surge um tema recorrente. A disciplina optativa de Teatro, ministrada pelo mestre Everaldo Vasconcelos. Colegas de classe, decidimos nos matricular para cumprir a grade do curso de Jornalismo Impresso. Presumo que esse fato aconteceu em 1994, no falecido Departamento de Comunicação.
Na primeira aula, achávamos que a sala estava repleta de alunos e ficaríamos, apenas, na figuração da peça teatral, que fecharia a disciplina. Engano enorme. Só nos dois nos matriculamos. Pouca idade, lembro que a desenvoltura para se apresentar em público causava calafrios, mas seguimos em frente fazendo exercícios para respiração, dicção, relaxamento corporal e, claro, o estudo das falas.
E no dia da apresentação, na “sala preta” lotada – era uma espécie de local para festas no próprio departamento – resolvi não ir. Deixei Raquel sozinha. No outro dia ela estava furiosa. Everaldo Vasconcelos idem. Pedi perdão aos dois. Inventei uma desculpa (acho que “matei”) algum parente meu, e tudo ficou tranquilo.
E sobre esse episódio, sempre brinco com a colega de universidade e profissão. Quando a encontro digo: “Olha Raquel, tu és o que hoje és graças a mim. Imagine se estivesse aparecido no dia da peça? Poderia tomar gosto pelas artes cênicas e perderíamos uma jornalista acima da média”. Depois sonoras risadas surgem.
Mas a vida é assim. Há tempos não vejo Raquel Sheherazade. Entendo que ela foi bastante hostilizada pelos sensores da ditadura imposta no período que o PT esteve no poder. Foi até afastada do jornal SBT Brasil por alguns comentários infelizes, outros não, mas cutucava as feridas de um Brasil desigual, o que sempre irritou os senhores do poder.
Lançou um livro: “O Brasil Tem Cura (editora Mundo Cristão), publicado em 2015, quando ela tinha liberdade para dizer no SBT que compreendia os linchadores de um adolescente no Rio. A obra encalhou, foi exposto com preço de liquidação pela Amazon e, ainda assim, a venda foi um fiasco.
Raquel não apoiou Bolsonaro, como muitos pensam
Conhecida por seu posicionamento contrário a políticos ditos “de esquerda”, e apoio aos ditos “de direita”, a jornalista Rachel Sheherazade surpreendeu seus seguidores durante a campanha eleitoral para presidente. A âncora do SBT Brasil deixou clara sua posição sobre o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, do então PSL, e engrossou o coro da hashtag #EleNão.
“Sou mulher. Crio dois filhos sozinha. Fui criada por minha mãe e minha avó. Não. Não somos criminosas. Somos HEROÍNAS! #elenão”, escreveu a jornalista em sua conta do Twitter. Esse fato se deu no dia 18 de setembro de 2018, após um comentário desastroso do então candidato a vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão.
Disse ele: “A partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais. Atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai e avô, mas, sim, mãe e avó, por isso é fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narcoquadrilhas”.
E a perseguição injusta continua contra Raquel
O dono, presidente, deus do Olimpo do sistema de comunicação SBT, Silvio Santos, que nutre verdadeira adoração a Jair Bolsonaro, ao ponto de retirar do ar a edição do SBT Brasil no sábado (23) após receber uma ligação de seu genro, Fábio Faria (PSD), que é casado com Patrícia Abravanel.
Na ligação, Faria disse ao dono do SBT que teria recebido um telefonema do Secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, reclamando da abordagem sobre o vídeo da reunião ministerial em reportagem a edição do telejornal no dia anterior.
Para o Planalto, o SBT Brasil acabou concluindo, em cerca de cinco minutos de reportagem, que Sergio Moro estava certo em sua denúncia de que Bolsonaro teria tentado interferir na Polícia Federal, o que teria deixado o presidente irritado.
Ordens de Silvio: “Fique muda e nada comente, Raquel!”
Rachel Sheherazade desafiou o chefe Silvio Santos ao emitir opinião pela terceira vez em menos de um mês no Jornal do SBT. A jornalista havia sido punida e proibida pelo mandatário da emissora de comentar as notícias no programa.
Na edição dessa quarta-feira (27/05), Rachel criticou o assassinato de George Floyd por um policial dos Estados Unidos. A morte do jovem negro desencadeou diversos protestos contra o racismo. “Julgados e executados pela cor da pele. Lamentável”, desabafou Sheherazade após a exibição da reportagem.
Em outras ocasiões, a apresentadora questionou o caso do menino João Pedro, de 14 anos, que morreu em uma operação policial no Rio de Janeiro. “Foi erro ou crime?”, disse Rachel. E aplaudiu a ministra do STF Carmen Lúcia, após a magistrada falar sobre “igualdade” entre homens e mulheres ao presidente da Casa, Dias Toffoli.
E nesse caldeirão de pura censura, compreendo que muitos não aprovam os comentários e a linha ideológica de Raquel, mas tenho certeza que um “cale-se” ditatorial fere de morte a democracia. E democracia é exatamente isso: o choque de ideias, concordância ou discordância de linhas ideológicas diferentes, pois não fosse assim, viveríamos na padronização do pensamento dos estados autoritários.
Eliabe Castor
PB Agora
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