Como estamos habituados ao estilo bumerangue de governar – vai e volta -, adotado pelo presidente Jair Bolsonaro, não podemos afirmar que a mudança de postura do Governo no tocante ao enfrentamento do coronavírus é definitiva. O que vimos nas últimas 48 horas, entretanto, deixa evidente: na marra, o presidente Jair Bolsonaro deu uma guinada pra lá de radical na política de saúde oficial, para combater a pandemia.
Na verdade, as mudanças de postura do governo começaram mesmo imediatamente após o discurso proferido pelo ex-presidente Lula quando da decisão do ministro Fachin, que anulou os processos conta Lula julgados pelo ex-juiz Sérgio Moro. Naquela mesma noite, o próprio presidente Bolsonaro e toda a sua equipe já apareceram em rede nacional de TV usando máscaras e mantendo distanciamento social e até discursando favoravelmente ao uso de vacina, como precaução contra o coronavírus.
Crise
É indiscutível que o discurso do carismático Luiz Inácio Lula da Silva impactou o governo de Bolsonaro, sobretudo, pela grande repercussão que teve dentro e fora do Brasil.
Entretanto, o que fez o governo avançar ainda mais na mudança de postura e de providências foi o ápice da crise sanitária, com os alarmantes e cada vez mais crescentes índices de contaminação e mortes, estas passando de três mil a cada 24 horas. Encurralado, Bolsonaro reuniu-se às pressas com presidentes de outros Poderes e instituições, governadores e aliados para discutir a questão da pandemia. Abrandou o tom e cedeu ao bom senso. Saiu da reunião prometendo vacinação em massa, exatamente o contrário do que até então pregava.
De lá para cá, o presidente bolsonaro vem adotando uma série de medidas que mais parecem estar montadas no script traçado no discurso do ex-presidente Lula, com destaque para a criação de uma espécie de Comitê de Crise.
É bom lembrar que antes da reunião, às escondidas e de surpresa, Bolsonaro deu posse ao novo Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cardiologista paraibano. O fez por pressão, porque não tinha como chegar a tão importante evento com um Governo que tinha um ex-ministro da saúde que não saiu e um novo ministro anunciado que não entrou, ou seja: em plena pandemia, o Brasil tinha dois ministros da saúde e, ao mesmo tempo, não tinha nenhum.
Risco
Também é razoável supor que a nova postura de Bolsonaro com relação à pandemia seja fruto de pressões locais, do desabamento de sua popularidade e da repercussão mundial, extremamente negativa para o Brasil, dado que o país passa a ser visto pela comunidade internacional como o epicentro da covid-19 para o resto do mundo.
Nos bastidores de Brasília já se comentava a boca miúda que se Bolsonaro mantivesse a sua postura de antes, em meio a tantas mortes causadas pela covid, estimulando aglomerações e combatendo vacinação, poderia ser catapultado da Presidência da República, pela via de um impeachment.