Depois que o ex-governador Cássio Cunha Lima e o presidente Jair Bolsonaro trocaram toda aquela “rasgação” de sedas, em Campina Grande, uma pergunta já se faz oportuna, e tem lógica: Cássio e seus seguidores permanecerão no novo PSDB com João Dória, governador de São Paulo, ou tentarão a embarcar no novo projeto partidário capitaneado pelo presidente da República?
João Dória tem se movimentado com articulações visando à criação do que ele chama de “novo PSDB” – um tucanato depurado, livre de gente envolvida em lambanças jurídicas; de pessoas com tendências radicais, tanto para a direita, quanto para a esquerda. E não falta quem diga que o governador do mais poderoso Estado brasileiro também alimenta a pretensão de disputar a Presidência da República…
Por tais razões, o tal “novo PSDB” não comportaria, portanto, os tucanos alinhados com a extrema direita, ou com a esquerda mais radical, como também não com aqueles de outras legendas e que também tenham a pretensão de disputar a Presidência em 2022…
Num recente evento do PSDB nacional, João Dória chegou a declarar que a discordância é parte da democracia, mas disse que quem não concordar com o tal novo PSDB “peça para sair”…
Nada daquilo – por sinal, ampla e estrategicamente bem divulgado – foi em vão; nada foi obra do acaso; foi tudo muito bem calculado e pensado: Cássio não chegou à solenidade onde estava Jair Bolsonaro assim como quem não quer e querendo; não iria se não houvesse uma grande afinidade com o esquema do atual presidente do Brasil e uma empatia com o público que ali estava. Bolsonaro, muito provavelmente, não disparou em vão aquela segundo a qual “Cássio é um patrimônio do Brasil”…
Ali tem! Dirá qualquer político experiente.
Aquele teatro não foi armado à toa. E, se ambos não tivessem algum interesse político naquela peça bem montada, um tucano não teria aparecido assim tão de repente, roubando a cena numa festa que não lhe pertencia, e em que as figuras a naturalmente brilhar seriam o próprio Jair Bolsonaro, o prefeito da cidade, Romero Rodrigues, que foi totalmente apagado e reduzido a zero à esquerda, e até a senadora Daniela Ribeiro, que junto com Veneziano Vital, derrotou Cássio nas urnas.
Cuidado!
Apesar de toda experiência política, o ex-senador Cássio Cunha Lima não tem tido sorte na exploração de suas aparições públicas ao lado dos mais recentes presidentes do Brasil. Quem não se lembra de quando ele, na inauguração da transição do Rio São Francisco, na cidade de Monteiro, fez elogios rasgados ao então presidente Michel Temer, para quem pediu uma saraivada de palmas para, segundo ele, o presidente que estava conduzindo tão bem o Brasil? E a contrapartida de Temer, no mesmo evento, ponto Cássio nas nuvens?
Depois daquilo tudo, Cunha Lima sofreu a sua mais humilhante derrota, ficando em quarto lugar na disputa por uma vaga de senador.
Detalhe: ninguém, até então, jamais havia feito qualquer prognóstico de que Cássio perderia uma das duas vagas disputadas para o Senado. Pelo contrário, parecia que a sua vitória estaria mais garantida ainda depois que o então governador Ricardo Coutinho anunciou que não disputaria o mandato, para ficar no Governo e garantir a vitória do seu candidato João Azevedo.
Numa recente entrevista para esta coluna, o deputado federal Ruy Carneiro apontou como o maior erro do PSDB ter continuado apoiando o Governo de Michel Temer depois de provado que estava atolado na lama da corrupção.
Mas, tá muito cedo, muita água vai rolar e o PSDB ainda tem tempo de encontrar um rumo, pois está perdido no tempo e no espaço desde que foi um dos protagonistas do golpe que derrubou a presidenta Dilma.
Wellington Farias
PB Agora