A tarde já findava. Precisei ir à farmácia, mesmo com certo cansaço em decorrência do corpo debilitado pela Covid-19. Embora os sintomas tenham cessado, o corpo ainda está debilitado. Pois bem: fui ao meu destino. Resido muito próximo ao Comando do 1° Grupamento de Engenharia. E o caminho mais curto quando tenho que resolver algo próximo à minha residência passa pela vila dos oficiais e a própria unidade militar.
Como meu relógio biológico foi afetado amplamente pelo novo coronavírus e o processo de isolamento social, sem falar nas noites que não dormi em decorrência aos desconfortos da Covide-19 que atacou, de maneira quase extrema meu corpo, estou a trocar a noite pelo dia. E confesso: sempre que acordo tenho receio de acessar as notícias; e hoje o meu medo foi ao extremo. Temo por algo grave. Uma guerra civil.
Os militares de pijama que estão no governo Bolsonaro vêm dando respaldo ao presidente. Não é uma questão de hierarquia, mas de uma grupo, como a do general Augusto Heleno, cuja turma formada na Academia Militar das Agulhas Negras foi concebida em 1971. Ou seja: em plena ditadura militar. E assim não entendo como esses senhores são “legalistas”. Mas não são. Buscam proteger seus interesses e, não, a Nação.
Já os que estão nos quadros da ativa, têm que ficar calados, pois devem reverência institucional ao comandante em chefe das Forças Armadas, no caso em pauta o presidente da República, Jair Bolsonaro. E nessas idas e vindas no texto, não preciso falar sobre a conduta mais que equivocada do “mito” em mais um dia de protestos contra a democracia.
Sobre o lombo de um cavalo e adoradores do “mito” que mais pareciam gente vinda da Ku Klux Klan, recebeu o ex-capitão críticas nacionais e internacionais. O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Melo, comparou o Brasil à Alemanha de Hitler e, em mensagem reservada enviada a interlocutores no WhatsApp, disse que bolsonaristas “odeiam a democracia” e pretendem instaurar uma “desprezível e abjeta ditadura”.
A imprensa do exterior, em seus editoriais, vem mostrando certo grau de preocupação quanto o chefe da Nação brasileira atenta abertamente contra a democracia. E muito mais: a BBC, El País, Le Monde e outros vêm publicando longos artigos e reportagens com duras críticas à resposta do presidente Jair Bolsonaro à crise gerada pelo novo coronavírus e atos antidemocráticos.
O presidente brasileiro é descrito um líder vingativo, com atuação irresponsável e perigosa, que investe seu tempo em brigas com juízes, parlamentares e ‘até os próprios ministros enquanto governadores e prefeitos pedem ajuda ao governo central.
Noutra parte falam os veículos de imprensa, aqui transcrevendo a BBC: “Quebrar o Brasil e levar o país ao desastre são alguns dos prognósticos associados à atuação do presidente”, descrito como um dos raros negacionistas da gravidade da pandemia e tem sua atuação apresentada como uma das piores em todo o planeta.
O perigo de uma guerra civil no Brasil é real
As manifestações na Avenida Paulista entre manifestantes pró-democracia organizada por torcidas de futebol começaram de forma pacífica neste domingo 31, mas teve confusão com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e, depois, embate com policiais militares.
Esse é um péssimo sinal. Embates corporais já são realidade. O núcleo militar de pijama de Bolsonaro tem se afastado como interlocutor entre Executivo, Legislativo e Judiciário, dando margem a especulações que estão dispostos a apoiar o “mito” a qualquer custo.
Considerado agente do núcleo duro de Bolsonaro, o chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, disse que uma eventual apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) poderá ter “consequências imprevisíveis”.
Mas há um alento vindo do vice-presidente da República, general Hamilton Mourão: “Me poupe. Ele é deputado, ele fala o que quiser. Assim como um deputado do PT fala o que quiser e ninguém diz que é golpe. Ele não serviu ao Exército. Quem vai fechar Congresso? Fora de cogitação, não existe situação para isso”, afirmou, ao blog da jornalista Andreia Sadi, no portal G1.
O comentário de Mourão diz respeito a uma fala mais que infeliz do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disse, durante uma live na internet, ser inevitável uma “ruptura institucional” no país. Pelo sim, pelo não, é bom que o povo brasileiro fique atento.
Eu em frente à manifestação antidemocrática
O tal dever profissional e o próprio “faro” pela notícia aguçou meu ser. Após sair da farmácia – já falei sobre minha ida no início do texto- resolvi conversar com os manifestantes. Não entrevistei ninguém. Muito menos fotografei. Meu celular ficou no bolso.
Meu interesse era como aquelas pessoas entendiam o Brasil de hoje. E lá vi senhoras e senhores de cabelos brancos. Crianças, adolescentes. E digo: havia umas 70 pessoas em frente ao 1° Grupamento de Engenharia. Em atos anteriores não passavam de 20.
E nesse caminhar os medicamentos que estavam na sacola que conduzia caíram. Duas jovens vieram me ajudar. Ambas solícitas e vestidas de verde e amarelo, são brasileiras, como eu. Após esse episódio encontrei um amigo de longas datas. Suponho que ele pensava que estava ali apoiando o ato.
Deixei ele falar. Disse o amigo que José Dirceu e outros integrantes do Partido dos Trabalhadores haviam comprado armas de grosso calibre quando Lula e Dilma Rousseff comandavam a Nação para fins de uma revolução comunista. Fiquei calado e ele me chamou para fazer um curso de tiro e ter o consentimento de armar-me para defender o país. Atônito, só balancei a cabeça com um sinal positivo. Não ousei dizer não por razões óbvias.
E em rápido resumo do que já escrevi, fiquei e estou triste. Jamais imaginei um só povo dividido pelo ódio. Por “heróis” de direita e esquerda que nada mais são que seres que apenas buscam o poder e levam o povo a atos extremos.
Depois disso voltei para casa, refletindo sobre revoluções, guerras e o próprio ódio. Agora entendo como a fúria se sobrepõe à tolerância. Uma aula de história e filosofia numa caminhada simples à farmácia.
Eliabe Castor
PB Agora