Eu tive um sonho. Daqueles que Raul sonhou. Dizia para mim um tal de Shakespeare, trocando, inclusive, meu nome, tratando-me como Hamlet. Disse aquele ser com roupas da “moda” medieval: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
Acordei ofegante e o suor escorria pela minha testa até atingir pálpebras e olhos, em ardor intenso. Levantei, bebei água e fui fuçar a internet. O sono se foi rápido. Meus olhos passeavam nas letras “garrafais”.
“A direção nacional do PT determinou em documento publicado nesta quarta-feira (23) que o petista Antônio Barbosa seja candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PSB)”.
Lembrei, de imediato, do deputado estadual Anísio Maia (PT), que chegou a registrar a postulação à majoritária pela legenda na Capital tendo o PCdoB como vice. E nessa confusão partidária, observei que não estava a sonhar. Foi apenas um cochilo após o almoço. Nada mais que isso, além, claro, do que Shakespeare já falava há séculos.
O que o PT ganha em tal coligação?
O Partido dos Trabalhadores foi, sim, um divisor de águas nos tempos de Lula presidente, mesmo com todas as acusações de crime que pesam contra ele. Carismático, inteligente, gentil, articulador, conquistou o Céu e a Terra. Ambos com letras maiúsculas.
Projetos grandiosos voltados ao social, foco na educação e por aí foi. E foi longe. Após sua gestão, o PT cometeu seu haraquiri. Colocou uma burocrata no poder, que atende pelo nome de Dilma Rousseff. O avesso de Lula, nunca foi uma estadista, não dialogava com o Congresso e despachava em tom soberbo com seus ministros e outros chefes de Estado.
Muitos falam em golpe quando ela foi destituída do poder. Concordo, mas a vala foi ela quem cavou. E hoje o PT é um caco. Desmiolado, sem eira nem beira. O velho Luis Inácio Lula da Silva é apenas um fantasma que habita na nostalgia da Estrela Vermelha.
E o ex-governador Ricardo Coutinho?
Peço perdão pela expressão, mas ela não é depreciativa. Raposa velha, Coutinho inclusive já foi do PT. Digo: dos quadros partidários. E sabe ele que o Partido dos Trabalhadores, para não cair em total ocaso, precisa de um nome forte para, numa simbiose forçada, manter-se vivo.
E na sua eficiência, frieza e pragmatismo “ofereceu” seu nome ao PT numa troca de fundo partidário, eleitoral e tempo de mídia considerável. É claro que o ex-governador não precisaria, de forma ampla, do que muitos chamam de esmola, mas sabe ele que tem um adversário de peso; alguém chamado Cícero Lucena (PP).
Lucena tem em seu currículo o cargo de prefeito de João Pessoa por dois mandatos. Governador da Paraíba, como Ricardo Coutinho, foi ainda ministro do Planejamento, além de senador. Então o que Ricardo Coutinho trouxer de migalhas para si, contará no voto a voto.
O resto é fatos e fotos, como diriam os colunistas sociais. Há: ainda há outro componente. A amizade de Lula e Ricardo Coutinho. Isso pesa muito.
Eliabe Castor
PB Agora
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