Numa live com o autor da coluna e com a jornalista Eloise Elane, intitulada Dedim de Prosa, o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) chamou a atenção para o seguinte, ao comentar o processo da sucessão municipal na Capital: administrar João Pessoa, após uma pandemia, não é tarefa para qualquer prefeito.
A live transcorreu na noite da quarta-feira (24), Dia de São João. Na ocasião, Ricardo Coutinho acrescentou que o seu partido tem três nomes disponíveis para eventualmente disputar a sucessão do prefeito Luciano Cartaxo: o dele próprio, o da sua companheira, Amanda Rodrigues, e o do deputado federal Gervásio Maia.
Na mesma conversa virtual, que durou uma hora, pelo Instagram @w_farias, o ex-governador da Paraíba descartou, por completo, a possibilidade do Grupo Girassol se aliar politicamente ao governador João Azevêdo, a quem acusou de trair, “explicitamente”, o projeto político pelo qual se elegeu.
Hoje, a coluna publica a primeira parte da entrevista. Na segunda parte, amanhã, Ricardo Coutinho se manifesta sobre a Operação Calvário, que está lhe investigando. Também comenta a divulgação de áudios com suposta conversa entre ele e o Daniel Gomes, da Cruz Vermelha, e sobre a situação geral do Brasil sob a presidência de Jair Bolsonaro.
Eis, a primeira parte da entrevista:
Candidato à Prefeitura da Capital
Nós temos bastante tempo pela frente para analisar o quadro. Nós temos uma certeza: nós teremos uma candidatura. O quadro, por mais respeito que eu tenha, do ponto de vista administrado e das propostas para a cidade de João Pessoa é um quadro muito difícil. Se você fizer uma leitura das candidaturas postas, vai perceber que João Pessoa tem diante de si um desafio enorme, que é encarar essa pós-pandemia. Nós temos um município com um razoável orçamento, proporcionalmente, muito maior que o Estado.
Desde que eu deixei a Prefeitura de João Pessoa, o município perdeu a capacidade de investimento com recursos próprios; E isso é fundamental. Tem que ter capacidade para investimento com recursos próprios. Não se pode depender de um Governo Federal, principalmente numa época dessa. Então, essa reconstrução, essa transição do pós-pandemia requer projeto político. E me parece que o PSB, dos partidos que existem aqui na Paraíba, é um partido que já demonstrou ter capacidade de desenvolver projetos políticos.
Se você observar o que foi minha passagem pela Prefeitura de João Pessoa, o que foi a nossa passagem pelo Governo do Estado, você encontra coisas que são absolutamente iguais, você percebe claramente os traços de um projeto com democratização de gestão, investimento com recursos próprios, um olhar para os esquecidos. Então, o PSB vai lançar a sua candidatura. O partido tem nomes de diversos companheiros e coloca o meu dentro dessas alternativas.
E não sendo Ricardo, quem seria?
Se Amanda Rodrigues fosse candidata a alguma coisa, ela seria candidata, naturalmente, não por ser minha esposa. Vai ser candidata porque foi secretária de Finanças, inclusive, foi a segunda mulher secretária de Finanças na história da Paraíba. Pegou o Estado que não era boa naquele momento, no ápice da crise, e conseguiu fazer com que o Estado vivenciasse o seu melhor momento; todas as contas pagas, todas as folhas dos funcionários pagas. Um investimento num nível que chegava a R$ 10 milhões mensais, gerando retorno do ICMS; além de toda expertise que ela tem de comandar o Empreender, que foi uma invenção nossa desde a gestão da Prefeitura de João Pessoa que eu lei para o Governo do Estado. Portanto, ela seria candidata por ser alguém com a capacidade enorme de gestão pública e com condição de cumprir com um projeto do qual ela já fez parte.
E Gervásio?
Da mesma forma Gervásio Maia. Ele está realizando um grande mandato de deputado Federal. É porque aqui, muitas vezes, as pessoas não abrem espaço para a disputa de ideias; só se interessam pelo que é espetaculoso; ou então, só se interessam por perseguições. Mas Gervásio tá tendo um mandato excepcional e reconhecido. Então, como você percebe, o PSB tem aí três nomes posto na mesa. E nós vamos jogar de acordo com o jogo.
Balanço de gestão
O partido está fazendo reunião com os vereadores. Vamos lutar para ter uma representação importante na Câmara Municipal. Estamos compreendendo melhor o que é esta cidade de João Pessoa. Quais são os estágios que ela passou desde a minha saída em 30 de março de 2010 até hoje. Nós fizemos em cinco anos 10 escolas de grande porte com recursos próprios. Nós construímos um aporte de creches com recursos próprios também. Fizemos intervenções em mobilidade urbana que desde essa época não teve mais. Fizemos saneamento básico. Teve dois prefeitos aqui em João Pessoa que fizeram muito saneamento básico, Hermano Almeida, do qual eu sou fã, acho que foi um gestor extraordinário, e o nosso governo. No dia primeiro de janeiro de 2005, João Pessoa tinha 33% de área saneada. João Pessoa hoje, de 2005 para cá, durante a minha caminhada de gestor como prefeito e governador, tem 78% de área saneada. Toda essa diferença com o recurso de Ricardo na Prefeitura e do governo de Ricardo no Estado. Então, quem vai representar esse aporte de intervenções dentro do Município, vai representar um projeto e, portanto, não vai representar uma vontade própria. E não uma pantomima qualquer, que representa o aprofundamento da mediocridade que o Brasil vem enfrentando.
E com João Azevêdo?
Com o grupo, se é que se pode chamar de grupo, do atual governador (João Azevêdo) nós não queremos, por uma questão que eu não vou discutir agora por respeito às pessoas vítimas da Covid-19, mas efetivamente com este governante, é impossível; por uma questão de caráter, de postura. E não é divergência, porque divergência política sempre se tem. O que eu falo é uma coisa muito mais profunda e que para mim tem uma diferença enorme. Eu tenho uma postura, respeito o caráter dos outros para que respeitem o meu. Agora, tem coisas inaceitáveis na vida e na política. Eu não posso trabalhar com traições explícitas. Agora, o resto da política se discute porque se discute programa. Eu fiz aliança com todo mundo. Eu não saí um milímetro do programa e daquilo que eu representava. Pessoas gostando ou não gostando, mas eu preservei um caminho. Esse caminho foi o de, enfim, democratizar o poder. Foi um desfio enorme fazer isso num estado oligárquico; o estado da casa grande e da senzala, porque infelizmente é a nossa história. Num estado em que poucos têm muito mais direitos do que a grande maioria. E este, sem dúvida nenhuma, é um preço que eu, particularmente, pago. Mas sabia que ia pagar…Essa opção por esse modelo político, por essa ideia política é o que nos leva a conversar com qualquer força. E essa é fórmula que o povo aprovou, porque o povo passou a viver muito melhor com esse programa.
Traição ao projeto
Eu não considero João Azevêdo um adversário. Ele foi colocado, foi apresentado por um projeto político. E ele traiu esse projeto. E não construiu um outro projeto. Se você fizer uma pesquisa aqui em João Pessoa, como eu fiz, ele não é uma força política. E te digo mais: desses prefeitos que aderiram ao Cidadania, por baixo, hoje colocaria 90% votando com o compromisso com o nosso projeto. Não é uma questão de força política, porque força política não é só a caneta, é a ideia também. Força política é aquilo que você representa, porque a caneta faltando, três meses para uma eleição, ela desaparece. Então não é uma questão de considerar uma força política. Além dos erros que cometeu (João Azevêdo), de todo processo doloroso em relação a diversos companheiros. Não a mim, porque eu aguento pancada, amigo velho. Se tem alguém que aguenta pancada sou eu. Mas eu me refiro a diversas pessoas que construíram tudo isso, e que tiveram um tratamento escandaloso, anormal. Força política não é para quem quer ter força política, é para quem tem, para quem constrói, para quem é reconhecido. E para você ser reconhecido tem que tem uma caminhada longa a ser feita.
Wellington Farias
PB Agora
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