BRASÍLIA — Diversos movimentos ocorridos na segunda-feira entre os principais partidos da base aliada explicitaram o risco de debandada justamente daqueles sobre os quais o governo deposita as maiores expectativas para salvar a presidente Dilma Rousseff do impeachment. Na segunda-feira, dia em que a comissão do impeachment aprovou o relatório favorável ao afastamento, o PMDB liberou os deputados para a votação e decidiu convocar reunião esta semana para definir posição; o líder do PR deixou o cargo para votar pelo impedimento; o PDT se manteve indeciso; e o PP, que semana passada anunciou que ficaria com o governo, liberou a bancada e já admite, reservadamente, que a maioria votará pelo afastamento. O PSB, que já estava próximo à oposição, orientou formalmente o voto pelo impeachment.
No PMDB, que anunciou o desembarque do governo há duas semanas, o líder Leonardo Picciani (RJ) liberou a bancada para votar conforme o desejo de cada um e anunciou que os deputados do partido irão se reunir esta semana para discutir posição sobre o afastamento. A maioria dos deputados da bancada, hoje, é a favor do impeachment, o que pode resultar em posição majoritária oficial contrária ao governo.
— O PMDB tem posições divergentes. Alguns a favor, outros contra e outros indefinidos. E, por esta razão, não emitiremos nenhuma orientação. Estarão livres para votar de acordo com sua consciência — disse Picciani.
No PP, o segundo maior partido da base, o presidente, senador Ciro Nogueira (PI), já admite a interlocutores que será difícil segurar os deputados do partido para que votem a favor de Dilma. Semana passada, Nogueira anunciou que ao menos 40 dos 57 parlamentares, entre deputados e senadores, são contra o impeachment. Mas a conta é vista internamente como “otimista” e “frágil” diante das reuniões dos diretórios estaduais que ocorreram no fim de semana, onde muitos decidiram voto a favor do impeachment.
— No PP, a pressão de Ciro não está tendo resultado. Pelo contrário. Os indefinidos estão aos poucos definindo o voto contra Dilma — disse um parlamentar.
O líder do PR, Maurício Quintella (AL), trouxe mais uma má notícia para o Planalto na segunda-feira. Apesar das pressões da Executiva para que os deputados fechem questão a favor de Dilma, Quintella decidiu abdicar da liderança para poder votar pelo impeachment. O deputado disse que a maioria dos 40 deputados tem a mesma opinião que ele e relatou que sua base eleitoral não o perdoaria caso ajudasse Dilma. O deputado não compareceu à sessão da comissão e afirmou que não pode liderar a bancada para uma posição que, diz, levará o país ao colapso.
— Tomei minha decisão e sei que será acompanhada por grande parte da minha bancada, que é a favor do impeachment. Não só tenho absoluta certeza de que a presidente cometeu crime de responsabilidade, que ela atentou contra o Orçamento do país, como, do ponto de vista político, achamos que o governo não tem a menor condição de tirar o país da crise — afirmou.
No PDT, apesar de o presidente da legenda, Carlos Lupi, ter prometido a Dilma apoio integral de sua bancada, de 20 deputados, inclusive tendo fechado questão sobre o tema, parlamentares não querem cumprir a decisão partidária, e só metade da bancada pretende votar contra o afastamento de Dilma. Para pressionar os deputados, Lupi enviou uma carta a todos os parlamentares dizendo que quem não cumprir a decisão partidária poderá até ser expulso da legenda.
“Forças de direita ressurgem aglutinadas promovendo a derrubada política, sem base fática-legal, de um governo legitimamente eleito. Tomo a iniciativa de dirigir-me aos nossos parlamentares para cientificá-los do caráter vinculante da nossa decisão e das severas sanções previstas pelo estatuto para o membro que desatenda aquela deliberação coletiva”, diz trecho da carta.
A Executiva do PSB aprovou, na segunda-feira, documento recomendando suas bancadas a votar pelo impeachment, apesar dos apelos do ex-presidente Lula para que o partido se mantivesse neutro. Apesar de não fechar questão para os votos em plenário, foi feito um pacto para que os membros do partido votassem a favor da admissibilidade na comissão processante. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que o partido não tem tradição de fechar questão e, embora considere equivocada, respeita a decisão da minoria que é contra o impeachment.
REDE VAI RACHADA PARA A VOTAÇÃO NO PLENÁRIO
A Rede Sustentabilidade, partido liderado pela ex-senadora Marina Silva, irá rachada para a votação do processo de impeachment no plenário da Câmara. Apesar de Marina e o partido terem divulgado nos últimos dias posição favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, dois deputados do partido votarão a favor e dois contra.
O placar na legenda foi definido ontem com o posicionamento do deputado Aliel Machado (PR), que foi titular do partido na comissão que debateu o tema. Aliel disse que chegou à Câmara ontem ainda em dúvida, mas que decidiu votar contra por entender que uma posse de Michel Temer não seria solução, além de livrar o peemedebista de investigações na Operação Lava-Jato.
— Com muita honradez, eu pago pelo meu voto. Eu não tenho medo de enfrentar quando sei que estou com a razão do meu coração. Eu voto não — disse Aliel.
Também votará contra o impeachment o líder da legenda, Alessandro Molon (RJ). Miro Teixeira (RJ) e João Derly (RS), por sua vez, se posicionaram a favor do afastamento de Dilma.
O posicionamento da Rede a favor do impeachment foi oficializado com a divulgação de uma nota. O partido mantém a defesa de novas eleições e concluiu seu texto com “Nem Dilma — Nem Temer”. A legenda pede celeridade ao processo de cassação da chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A legenda ressalta que respeitará opiniões divergentes e cobra também o andamento do processo contra Temer, dizendo ainda ser “intolerável” a permanência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara e no comando destes processos.
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