Hoje é dias dos Pais, uma data normal que foi batizada pelo sistema mercantil para incrementar as vendas e aquecer o mercado. Coisas do capitalismo selvagem, tão combatido por Marx.
Como todo pai “coruja” tratei de planejar uma viagem especial com meus dois filhos, Marcos Neto e o irrequieto Izaquinho.
Viemos para Natal, fiz uma vasta programação, que ia de brincadeiras na piscina do hotel até assistir um filminho básico para ajudar a cansar a garotada.
No final da noite, preparei os herdeiros para dormir e fiquei olhando eles adormecerem.
Logo me lembrei de certo dia no veraneio da praia Camboinha, quando na minha adolescência chegava pela primeira vez ao alvorece dos raios, na Cidade onde o Sol nasce primeiro.
Encontrei meu velho pai na sala lendo os jornais do dia como de costumeiramente faz.
Cheguei rindo, alegre e cantando junto com alguns amigos, após a noitada entre shows e “assustados” da praia de Camboinha-PB, e disse:
_ E aí velho, acordado uma hora dessa?
Calmo e tranquilo respondeu:
_ Nada vou dormir agora, ler isso aí, cara!
Sem dar muita importância guardei um velho papel, com um poema escrito intitulado “Maçaneta” de autoria do poeta Gióia Júnior. Claro que não li, o cansaço da noitada não deixou, meses depois li e não entendi, absolutamente nada, achei uma grande bobagem.
Hoje entendo, e, vale pena ler:
MAÇANETA
Não há mais bela música
Que o ruído da maçaneta da porta
Quando meu filho volta para casa.
Volta da rua, da vasta noite,
Da madrugada de estranhas vozes,
E o ruído da maçaneta,
E o gemer do trinco,
O bater da porta que novamente se fecha,
O tilintar inconfundível do molho de chaves,
São um doce acalanto,
Uma suave cantiga de ninar.
Só assim fecho os olhos,
Posso afinal dormir e descansar.
Oh! A longa espera,
A negra ausência,
As histórias de acidentes e assaltos
Que só a noite como ninguém sabe contar!
Oh! os presságios e os pesadelos,
O eco dos passos nas calçadas,
A voz dos bêbados na rua
E o longo apito do guarda,
Medindo a madrugada,
E os cães uivando na distância,
E o grito lancinante da ambulância!
E o coração descompassado a pressentir
E a martelar
Na arritmia do relógio do meu quarto
Esquadrinhando a noite e seus mistérios.
Nisso, na sala que se cala, estala
A gargalhada jovem
Da maçaneta que canta
A festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole a noite imensa,
Com todos os ruídos secundários.
-Oh! Os címbalos do trinco
E os clarins da porta que se escancara,
E os guizos das muitas chaves que se abraçam,
E o festival dos passos que ganham a escada!
Nem as vozes da orquestra
E o tilintar de copos,
E a mansa canção da chuva no telhado
Podem sequer se comparar
Ao som da maçaneta que sorri,
Quando meu filho volta.
Que ele retorne sempre são e salvo,
Marinheiro depois da tempestade,
A sorrir e a cantar.
E que na porta a maçaneta cante
A festiva canção do seu retorno
Que soa para mim
Como suave cantiga de ninar.
Só assim, só assim meu coração se aquieta,
Posso afinal dormir e descansar.
Essa é a homenagem que faço a todos os pais, que hoje festejam o seu dia. Em verdade, mãe é mãe, mas pai também é pai, e nesse particular não há diferença alguma no amor que sentem pelos filhos.
Feliz dia dos pais.
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