Com dificuldade de fechar os nomes do PMDB em seu ministério, a presidente eleita, Dilma Rousseff, enfrentará agora mais um obstáculo: a sensação entre os peemedebistas de que o oferecimento do Ministério das Cidades ocorreu apenas para quebrar o blocão montado entre PMDB-PP-PTB-PR e PSC. O blocão tinha como premissa que nenhum dos partidos aceitaria cargos de outro do grupo. Hoje, Cidades está com o PP. “Não vou tratar disso sem discutir com o PP”, comentou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, que passou o dia tentando administrar a insatisfação da bancada com a perda de espaço no Executivo e a indicação de Sérgio Côrtes para a Saúde sem o crivo da legenda. “Ele não é da cota do partido”, afirmou o vice-presidente eleito, Michel Temer, que tem ajudado nos acertos.
A primeira reação contundente veio do ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso. “Na campanha, Dilma só faltava falar “uai”. Agora, sumiu de Minas e tirou os cinco ministérios do estado. No caso do PMDB, querem nos dar Previdência, que é encargo, e Minas e Energia, depenado”, comentou ele, na condição de deputado eleito. “Os bons são para o PT. O Planejamento ficou com um Zé Dirceu de saias”, emendou, referindo-se à ministra Miriam Belchior.
Até o momento, o PMDB garantiu dois ministérios: Minas e Energia, para onde voltará o senador Edison Lobão (MA), e Agricultura, com o atual titular, Wagner Rossi. O problema são os outros três que o partido deseja. A conta é simples: se o PT, com 80 deputados, tem 15 ministérios, e o PSB, com 33, ficou com três — Integração, Portos e Turismo — o PMDB, que tem 79, deveria ter, ao menos, cinco. E o partido não considera dentro do pacote Saúde e Defesa, onde a permanência de Nelson Jobim foi definida sem ouvir o PMDB.
Tudo isso foi dito por Temer e Henrique Eduardo Alves ao futuro ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, num jantar na terça-feira na casa do líder do PMDB. Ali, trataram do Ministério das Cidades, que ainda está em discussão, uma vez que Temer deseja indicar Moreira Franco — Dilma também quer levá-lo para a equipe — mas Moreira não representa a bancada, que deseja indicar um deputado. Também falou-se da Previdência, pasta que não agrada aos peemedebistas. Foi dito a Palocci que o partido prefere “trocar” Previdência por Comunicações, que continuaria na cota do Senado.
Cena
Ontem, durante a reunião da bancada, Henrique disse que o PMDB hoje era governo e que amanhã poderia não ser. Teve ainda seu nome lançado para concorrer à Presidência da Casa no ano que vem. Esse movimento soou como pressão sobre o PT e a presidente eleita. Dilma e a cúpula da transição têm agido como calma. Diante da insatisfação da bancada pela escolha do ministro da Saúde sem que fosse consultada, Dilma disse a fotógrafos e cinegrafistas que não havia escolhido o comandante da área. Tudo poderia ter sido resolvido se o governador do Rio, Sérgio Cabral, não tivesse anunciado que Côrtes seria ministro. Afinal, Palocci já havia acertado com Temer que o nome seria submetido à bancada.
O cardápio do PSB
» O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, fecha hoje com Dilma Rousseff a indicação de Fernando Bezerra Coelho para ministro da Integração Nacional. Vai discutir ainda Portos, onde há duas opções: ou o deputado Márcio França (SP) ou a permanência de Pedro Brito, como forma de amenizar a relação entre Campos e Cid Gomes, que não anda boa.
Correio Braziliense
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