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Por enquanto, Marina faz campanha apenas para os próprios fãs

Na quarta-feira, enquanto buscava notícias da filha caçula, internada por intoxicação alimentar, Marina Silva repartia-se. Tinha de atender o embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon, dar entrevista a uma rádio sergipana, tirar fotos com eleitores do Maranhão e conversar com um colega verde da Paraíba. Todos a aguardavam em seu gabinete.

Filipe Araújo/AEMarina se prepara para palestra no Tuca, teatro da PUC, em São PauloShannon estava empolgado em conhecer “a empregada que aprendeu a ler aos 16 anos e virou senadora”, conforme lhe descreveu um assessor.

O ritmo da pré-campanha presidencial da senadora do PV tem de alucinante o que tem de autoafirmativo: uma agenda tomada de encontros com simpatizantes (estudantes e empresários que se identificam com suas causas), correligionários (de partido ou fé) e ambientalistas. Mais do que por militantes, Marina Silva vive cercada por fãs.

“Nunca presenciei uma abordagem que expressasse insatisfação. E olha que estivemos em Mato Grosso”, conta Guilherme Leal, presidente do Conselho de Administração da Natura e mais do que provável vice de Marina.

Foi mesmo um ruralista, em um evento na terça-feira que discutia as mudanças no Código Florestal, que, para surpresa dos ecoativistas presentes, declarou que tenta convencer colegas da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso a votar na senadora, “para buscar uma nova narrativa no assunto”.

Embora pesquisas indiquem que até 44% dos eleitores desconhecem Marina Silva – e uma estudante na porta do teatro da PUC, em São Paulo, perguntando quem era essa tal que daria palestra naquele dia confirmava a tendência -, ninguém nega a reputação internacional da pré-candidata. Enquanto falava com o embaixador Shannon, Marina não sabia, mas dispensava a participação em um documentário de uma TV belga sobre carnes, que suas assistentes não conseguiram encaixar na agenda.

Repertório. Os “mantras” que Marina entoa nas palestras pelo Brasil, sempre depois de agradecer a Deus a oportunidade de estar ali, dividem-se entre conceitos de sustentabilidade, ética e políticas sociais. Os títulos variam entre “Brasil sustentável” (em cinco palestras entre quinta-feira e sábado) e “A transição para uma economia de baixo carbono” (em dois eventos de uma mesma semana). Ela evoca incessantemente um psicanalista argentino e sua “desadaptação criativa”, fala em “aliança intergeracional” e “desafio civilizatório”.

“Minha agenda sempre foi ligada também aos temas de direitos humanos, educação, sociais”, diz para defender-se da acusação de ser monotemática. Mas seu repertório em outros assuntos ainda não foi posto a prova.

Quando discursa para empresários, Marina dá uma conotação econômica a sua odisseia ambiental. Para estudantes, enfoca a importância de construir hoje um passado melhor para os que virão no futuro.

Aliás, ela prefere falar com empresários em almoços. Com a comoção que causa com sua presença, poucos reparam que ela quase não se alimenta nesses eventos. Frágil por causa das cinco malárias, três hepatites e várias alergias que tem no currículo, além da intoxicação por metais pesados, Marina precisa de cuidados redobrados com a alimentação.

Engana-se, porém, quem aposta que isso pode prejudicar sua campanha. Pelo menos até aqui, Marina Silva é quem cansa sua equipe com um pique surpreendente, fruto de alongamento e pilates. “Tenho pessoas que se revezam para me acompanhar”, ressalta. Seu leal escudeiro, Guilherme, confirma: “Ela sabe lidar com o tempo, com demandas diversas. A agenda hoje é muito puxada e o grupo mais próximo dela até se preocupa.”

Seja em entrevistas a rádios e TVs locais, cada vez mais frequentes como estratégia para aumentar sua popularidade, seja nas palestras e eventos, a senadora se autodefine como professora de ensino médio, acima de tudo. Usa, vez ou outra, termos como “sorumbática” ou “carrancuda” para falar de si, principalmente quando se compara a alguém mais carismático. Mas, sem querer, pode ser engraçada, contando causos de sua infância ou de suas andanças nos 16 anos de Senado, cinco dos quais como ministra do Meio Ambiente.

O passo leve, como o de quem vai ser arrebatado pelo vento a qualquer momento, lhe confere uma elegância que é complementada pelos vestidos longos e pelas pashminas. Mas, por vezes, suas dificuldades de pronúncia e a voz aguda afastam a atenção dos ouvintes. O discurso é mecânico no começo das palestras – quando se aquece, Marina se empolga e envolve a plateia.

Serenidade. Marina comemora sempre as conquistas dos últimos 16 anos, evitando se envolver no Fla-Flu instalado. Celebra a vitória da esperança sobre o medo enquanto roga para que não se instale uma guerra de currículos. Acena ora para Serra, com elogios à lei paulista de redução de emissão de carbono, ora para Dilma, mais indiretamente, quando louva o Bolsa-Família.

Enquanto os adversários se pautam por alfinetadas, Marina continua a defender a ideia de se defender ideias. E isso não deve atrair para ela a artilharia que os outros candidatos parecem dispostos a usar um no outro. Mesmo porque, embora Marina tenha selado uma promessa com Alfredo Sirkis, seu coordenador de campanha, de nem na solidão de uma ilha deserta falar em alianças de segundo turno, ela pode ser fundamental num cenário de PT versus PSDB em novembro. Assim, Serra é gentil com a senadora no limite do galanteio. E Dilma, orientada a abafar desafetos dos tempos em que elas se enfrentavam nos respectivos ministérios, quase a ignora.

Na internet, a guerrilha fica mais pesada e pessoas próximas a ela temem que boatos e fatos tomem proporções perigosas. “O episódio do vereador gay que entregou uma bandeira do movimento para ela virou uma corrente enorme, que não é normal”, analisou um correligionário. Comentários sobre o criacionismo, conservadorismo e radicalismo ambiental seriam os preferenciais para o ataque.

Ela segue confiante, porque tem sua base de fãs. “Fico feliz de estar nascendo de novo para a política, completamente renovada aos 52 anos.” Resta saber se isso será suficiente para tornar a sua campanha sustentável.

Como Ex-petista quero lamentar o que os companheiros de São Paulo estão fazendo como o PT.

Os líders da Executiva Nacional (São Paulo) acham que o PT é deles, com a proibição dos Diretórios Nacionais de laçarem candidaturas próprias para governo local e ao senado. Tudo isso em nome da candidatura da companheira Dilma.

É importante lembrar que quando a Dilma veio para o PT a militância já havia trabalhado em cada rua do Brasil exolicando DEMOCRACIA ao povo brasileiro!

 

 

Estadão

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