PREJUÍZO?: candidatos chegam a gastar R$ 3 mi para conseguir vaga no Congresso, mas soma de salários até final do mandato só alcança R$ 990 mil
O que é preciso para eleger um parlamentar? Com pouco espaço nos programas de rádio e televisão e sem os comícios milionários de eleições anteriores, candidatos a deputado federal e estadual investem maciçamente em material impresso, placas, estandartes e faixas, no esforço para fixar nome e número, sempre aliados à própria imagem. A contratação de pessoal, diretamente ou por intermédio de serviços terceirizados, é o segundo item mais dispendioso. Os gastos registrados no primeiro mês de campanha confirmam que essa estratégia é usada pela maioria dos candidatos em todo o país. Dos R$ 37 milhões já consumidos por candidatos à Câmara dos Deputados, mais da metade foram gastos com propaganda visual.
Os custos de uma campanha impressionam. Até agora, candidatos a deputado federal já arrecadaram R$ 73 milhões, enquanto os candidatos às assembleias legislativas receberam R$ 85,2 milhões em contribuições registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As campanhas mais caras, com despesas como fretamento de avião, podem ficar entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões(1). No primeiro mês, as 10 mais ricas somaram quase R$ 8 milhões. A maior arrecadação foi de Eduardo da Fonte (PP-PE), com R$ 1,5 milhão.
O candidato à Câmara que mais gastou com impressos foi Odílio Balbinotti (PMDB-PR). Ele imprimiu 400 mil revistas, com uma versão para cada um dos 60 municípios que compõem a sua base eleitoral. Também fez santinhos, cartazes e “colinha”, para ajudar o eleitor a decorar o seu nome. Gasto total: R$ 260 mil. E precisou contratar cerca de 250 cabos eleitorais para distribuir esse material todo. Também alugou carros para transportar tanta gente. O assessor Amarildo Torres estima que a campanha vai ficar em R$ 2 milhões, mas a metade já foi gasta no primeiro mês.
A contratação de cabos eleitorais incrementa o mercado de trabalho em todo o país, mas apenas o informal, sem carteira assinada. O gasto de todos os pretendentes a deputado com pessoal soma R$ 1,58 milhão. No espaço previsto pelo TSE para “encargos sociais”, estão registrados apenas R$ 4,9 mil, o que corresponde a apenas 0,3% das contratações.
Perfil único
O perfil de gastos é mantido em praticamente todos os estados, mas há pequenas variações de uma região para outra. Nos estados mais ricos, o investimento em placas fica próximo ou até supera o gasto com impressos. No Rio de Janeiro, por exemplo, os candidatos gastaram R$ 1,2 milhão com impressos e R$ 1,5 milhão com placas. Os recordistas foram os deputados Rodrigo Maia (DEM) e Nelson Bornier (PMDB). Juntos, aplicaram R$ 550 mil em placas, estandartes e faixas. Na maior parte da Região Norte, os gastos com aluguel de carro são insignificantes.
A campanha de Cândido Vaccarezza (PT-SP) está entre as 10 mais caras. Ele concentrou os gastos em gráfica, contratação de pessoal e visual. “É a melhor coisa: gráfica e gente. É isso que dá voto”, resumiu o deputado. Ele explicou o motivo da sua estratégia: “Tenho que divulgar o meu nome. Eu sou líder do governo Lula. Algumas pessoas me conhecem. Como nós não temos televisão… eu não tenho programa de televisão, os candidatos do PT não aparecem na televisão. Só aparece o meu número”.
O deputado ACM Neto (DEM-BA) também investiu muito em impressos, mas teve um gasto especial. “Eu tenho dois gastos muito pesados. Um é com material de propaganda. Impressos, confecção de placas, adesivos. São aqueles minidoors, de até quatro metros quadrados. Outro gasto pesado é com aeronaves. A Bahia é bem grande e é difícil fazer campanha. E tem outros itens importantes, como carro de som, mas os itens de divulgação são os mais onerosos”, relatou o candidato, que estima gastar R$ 3 milhões na campanha. Ele também justificou o gasto em divulgação pela falta de tempo na televisão. “O tempo de TV é pouco para os candidatos proporcionais. Gasto, mas não muito. Esse é o maior gasto nas majoritárias.” Ele repassou recursos para candidatos a deputados estaduais. “Eu estimulei várias candidaturas a estadual regionais. Então, é natural que distribua recursos a esses candidatos.”
No Rio Grande do Norte, Felipe Maia (DEM) aplicou R$ 371 mil em aluguel de carros. Foram locados 20 carros de passeio, três kombis, uma caminhonete Silverado e uma van Sprinter para transporte de funcionários da campanha, além de um trio elétrico. Ele disse que os 20 carros foram transformados em “baratinhas” (carros de pequeno porte com uma caixa de som em cima). “Quando faço caminhadas, o carro de som vai junto. O carro é para divulgar a mensagem, as realizações do mandato. Neste ano não existe comício, que era um momento em que você reunia um grande número de pessoas. A campanha é feita para pequenas concentrações de pessoas, em caminhadas. Com o carro de som, a gente atinge um número maior.” Ele já gastou R$ 531 mil, mas só arrecadou R$ 174 mil.
Interesses diversos
Se estivessem interessados apenas no salário e em R$ 16,5 mil, muitos deputados teriam prejuízo com os investimentos feitos na campanha eleitoral. Em quatro anos, com 15 salários anuais, eles recebem um total de R$ 990 mil. Muitos candidatos vão investir de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões nestas eleições, parte disso com recursos próprios. Mas deve ser considerado que a maior parte da campanha é financiada por doações de empresas e pessoas físicas. Além disso, há outros interesses em jogo no Congresso, sejam eles financeiros ou políticos.
Correio Brasilienze