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Psiquiatras dão dicas de como ter uma boa convivência política com seus adversários de campanha

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Discussões sobre o cenário político atual geram conflitos familiares, crises de relacionamentos e até, em casos raros, agressões físicas. Assim, a proximidade do pleito e a provável dualidade entre os candidatos do PT, Fernando Haddad, e do PSL, Jair Bolsonaro, aumentam o clima de intolerância a nível nacional como dos candidatos ao Governo da Paraíba e Senado a nível estadual. Para especialistas, as eleições têm gerado um questionamento importante: os brasileiros sabem debater?

 

 

Segundo o psiquiatra Jorge Rizk, a população tem projetado no pleito uma maneira de resolver problemas financeiros (gerados pela crise econômica), familiares e de emprego. Assim, o eleitor confia ao candidato a sua esperança de recuperar a qualidade de vida que tinha. “Boa parte das pessoas está com um quadro clínico abalado, então, qualquer risco diferente do da expectativa do eleitor gera um ato que não poderia ser considerado normal, caso ele estivesse bem”, explica.

 

Três aspectos contribuem para que o diálogo seja afetado. O primeiro, avalia Rizk, se dá quando o fator psicológico ou emocional do cidadão está abalado, o que eleva o “nível de fragilidade”. Outra condição tem como base o cenário político-econômico do país, que afetou a renda de parcela da população. Já o terceiro, tem relação com a intensificação do confronto político, representado por discursos mais duros.

 

Assim, a eleição se torna o epicentro da agitação e da expectativa popular. Para o especialista, o candidato escolhido reúne a perspectiva do cidadão de uma realidade mais vantajosa. Dessa forma, a reação é muito mais impulsiva e explosiva. “Os últimos anos foram muito difíceis para o povo e deixou muita gente no limite do desgaste. Isso fez com que as pessoas passassem a crer numa solução rápida. Elas acabam tendo essa fantasia, como se existisse salvador da pátria”, afirma.

 

De acordo com o psiquiatra, muitos acreditam que a vida voltará ao normal já no meio do próximo ano, só que não existe nenhuma evidência técnica de que isso ocorrerá. “As coisas levam anos, não é uma solução mágica, como muitos gostariam”, destaca.

 

Para o presidente da Comissão de Estudos sobre Direito e Psicologia da Rede Internacional de Excelência Jurídica, João Batista Bezerra de Sousa, as pessoas têm confundido o verdadeiro sentido da política. Ele lembra que Platão definiu a política como uma forma de diálogo e como um ato de aprendizagem. No entanto, o psicólogo e psicoterapeuta entende que o nível de intolerância está elevado. “Não se pode confundir política com partidarismo, hoje há essa confusão. É preciso resgatar a arte do diálogo aprofundado pela pesquisadora Chiara Lubich”, ressalta.

 

Sousa enfatiza a necessidade de o debate político buscar aprofundar a política cidadã, ou seja, as práticas baseadas no fortalecimento da cidadania. Segundo ele, a preocupação com as mudanças que possam vir a ocorrer, após o resultado das eleições, leva pessoas a terem uma ansiedade que inibe o diálogo, que é uma “linguagem de aproximação” entre as pessoas. “É como se um lado tivesse que perder, e outro, que se impor”, lamenta.

 

Jogo político

 

A psicóloga Daiana Rauber diz ser difícil classificar o verdadeiro motivo que tem deixado parte da população exaltada. Contudo, existem estudos que procuram mapear esse comportamento. “Quando falamos de pessoas, estamos trabalhando com seres complexos e que têm história. Só que o próprio jogo político, muitas vezes, da forma que ele existe hoje, acaba incitando que pessoas entrem nesse tipo de ‘briga de torcida’.”

 

Rauber afirma que a falta de habilidade e de recursos em saber lidar com as diferenças de opiniões e a polarização têm tomado o país. Segundo diz, essa concepção está marcada pelo “oito ou 80”, que é uma questão “muito primitiva”. Porém, ela esclarece que no estudo da psicologia a divisão do que é bom e ruim não necessariamente está claramente definida. “Eu acho que o que a gente pode tirar deste momento de exaltação é justamente a percepção de que nós, talvez, precisamos aprender a dialogar com o diferente e com o desconhecido”, frisa.

 

 

Redação

 

 


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