A ex-senadora Marina Silva não deve conseguir o registro do seu partido, o Rede Sustentabilidade, a tempo de concorrer por ele nas eleições de 2014. Mas o fracasso na ambição de ter um partido próprio, não vai impedir Marina de disputar a Presidência da República.
Essa é a analise da maioria dos cientistas políticos ouvidos pela reportagem R7. Os especialistas acreditam que a ex-senadora é presença garantida no pleito do ano que vem, mas apostam que ela vai precisar se articular com outro partido, porque o Rede não será criado antes do dia 5 de outubro deste ano – quando termina o prazo eleitoral.
O cientista político da UnB (Universidade de Brasília) Antônio Flávio Testa acha “muito difícil” a Rede sair do papel. Para ele, Marina começou a organizar a criação do partido muito tarde e a burocracia dos cartórios eleitorais atrasou ainda mais o processo.
No entanto, Testa avalia que isso não deve atrapalhar os planos que a ex-senadora tem para 2014.
— Só um milagre hoje daria a ela um partido que ela pudesse começar a trabalhar. Mas ela não precisa de partido. Ela quer ter um partido, mas não precisa, ela tem um capital político muito grande. Em política tudo é possível, mas acho muito difícil ela deixar de competir.
O professor de ciências políticas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Ricardo Ismael também não vê chance da Rede conseguir o registro antes de expirar o prazo eleitoral. Para o especialista, Marina não admite essa possibilidade, mas com certeza estuda alternativas de filiação.
— Parece que o Rede ainda não quer discutir isso de público porque tem uma esperança de que o TSE possa considerar as assinaturas que foram rejeitadas pelos cartórios. Mas depois que vier o veredicto, eles vão ter uma discussão interna para tentar deliberar sobre isso.
Foco no plano A
Marina Silva disse repetidas vezes que não pensa em plano B, caso o Rede não consiga o registro. Uma semana antes do fim do prazo eleitoral, ela continuava afirmando não pensar em se lançar candidata por nenhum outro partido.
— Vocês já conhecem a metáfora de que ninguém vai para o altar com o noivo imaginando que se ele enfartar já está de olho no vizinho. Nós estamos focados 100% no plano A, porque compreendemos que temos todos os requisitos legais atendidos [para criação da Rede].
Mas, o professor Antônio Testa avalia que as declarações são políticas. Segundo ele, Marina não pode admitir que estuda possibilidades para não desanimar os apoiadores do Rede.
— Não podemos esquecer que ela teve dois mandatos como senadora. Ela é política, ela é movida pelo voto. É tudo político, se ela fala que tem um plano B vai desanimar os apoiadores do partido.
O cientista político da UnB acredita que após sair a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ela vai começar a estudar alianças. Ele avalia que, além da candidatura à Presidência da República por outro partido, ela pode receber propostas para ser vice-presidente em alguma chapa da oposição, ou até mesmo senadora pelo Distrito Federal.
Já o pesquisador da UFRJ não acredita que ela vá abrir mão do cargo majoritário.
— Ela não pode perder a possibilidade de disputar as eleições de 2014. A Marina está em segundo lugar nas pesquisas. Há uma expectativa até do eleitorado. Se ela ficar de fora vai ser uma perda muito grande e quem vai soltar fogos é a Dilma.
TSE pressionado
Há apenas mais uma semana de trabalho no TSE antes do fim do prazo eleitoral. Se não conseguir o registro até a próxima quinta-feira (3), o Rede estará enterrado para 2014.
Marina Silva luta para que o tribunal reconheça 95 mil assinaturas que os cartórios eleitorais consideraram inválidas. Sem elas, o partido não alcança as 492 mil assinaturas necessárias para conseguir o registro.
Mas, como na última terça-feira (24) o TSE aprovou a criação de dois novos partidos — o Pros (Partido Republicano da Ordem Social) e o Partido Solidariedade — mesmo com denúncias de irregularidade na validação das assinaturas, Marina ainda pode ter uma chance.
O cientista político da UnB David Fleischer acredita que a ex-senadora pode usar esse argumento para pressionar o tribunal a também aceitar as assinaturas do Rede.
— O plano B é de aproveitar a aprovação das novas siglas, que têm seus pecadinhos e seus problemas, e demandar, exigir, tratamento igual. O problema é que nenhum dos dois [partidos recém-criados] é uma ameaça direta à presidente Dilma. Já Marina Silva é. E ela vai provocar o segundo turno como ajudou a provocar em 2010.
R7