Esta semana estava mexendo nos arquivos do meu escritório e encontrei edições antigas do Jornal “O Norte” dos Diários Associados com duas crônicas que me chamaram atenção sob os vibrantes temas dos “Sofistas” e da “Monarquia Inglesa”.
Após lê-las lembrei das aulas do trepidante Professor Karamu, sobre a História da República de Cromwell ocorrida na Inglaterra.
O tempo era o Século XVII, e o palco da Inglaterra envolta numa série de revoltas decorrentes da instabilidade política emergida com a morte da Rainha Elizabeth I, nos idos de 1603, complicado porque não havia deixado herdeiro direto para sucedê-la.
O continente britânico passou então a ser governado pelo primo da Rainha Elizabeth I e Rei da Escócia, Jaime Stuart I, que praticou inúmeras arbitrariedades e ataques aos direitos humanos, terminando por reduzir a força do Parlamento Inglês.
Com a morte de Jaime I, sucedeu o reinado do seu filho Carlos I, que foi tanto ou mais arbitrário que seu pai, levando a guerra entre Puritanos e Cavaleiros.
Foi aí que surgiu a figura vibrante de Oliver Cromwell, radicalizando a guerra civil com os Puritanos e tornaram-se hegemônicos no Parlamento.
Com a superioridade cada vez maior de Cromwell na Câmara dos Comuns na Inglaterra, conseguiu a derrota nas urnas de muitos Conservadores, criando maioria esmagadora e imbatível para seu grupo.
Neste momento a Inglaterra já era um verdadeiro barril de pólvora, chegando ao ponto do Parlamento, conduzir o Rei Carlos I a julgamento para condená-lo como traidor, proclamado-se a 1ª República Inglesa.
Se já não fosse poderoso Cromwell, conta a história, passou a se exceder no poder, tornando-se verdadeiro ditador travestido de republicano-democrata.
E como todo tirano não conhece limites, Cromwell tratou logo de exterminar e subjugar todos que se mostrassem contra o seu “regime republicano”, culminando pela arbitrária e violenta dissolução do Parlamento, órgão que o levou ao Poder.
Na louca onda de violência, Oliver Cromwell ordenou a decapitação do Rei Carlos I, mas a luta e o trabalho continuou pela restauração da Monarquia, diante da insustentável sede ilimitada de poder criada pelos Puritanos, proporcionando a ascensão de Carlos II, como rei soberano da Escócia e Inglaterra.
Sem medir as consequências, após inúmeras revoluções, chegou-se a efêmera República de Cromwell, que não durou muito diante dos arbítrios e escândalos da época, sendo sufocada pela luta restauradora dos limites do poder, culminando com a queda de reis absolutistas e prepotentes, para culminar com a Revolução Gloriosa, que deu ao Parlamentarismo inglês mais força e prestígio enfraquecendo a Monarquia, alijando à categoria de peça decorativa.
Na Inglaterra quem passou a mandar foi o Parlamento e o povo teve o direito assegurado de escolher seus representantes pelo sistema representativo proporcional. Já o Rei reduzido a um cargo meramente figurativo.
Nesse ponto, alguns na América Latina esquecem a lição sofrida na pele por Carlos I e pelo grupo “republicano” de Oliver Cromwell, olvidando a decisão da maioria parlamentar, aviltam a segurança jurídica, e, como déspotas matam a lei.
Os caminhos do poder e da glória pelo poder assumido a qualquer preço, deixa a ilusão de serem eternos. Mesmo os poderosos não querendo ver, as pedras do caminho existem sim. Para estes nunca seria demais lembrar as lições do poeta Carlos Drummond de Andrade com um dos seus intrigantes poemas, que para bom entendedor basta:
“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”