Presidente do Conselho Regional de Saúde de Campina Grande revela existência de ‘quadrilha’ que cobra por realização de cirurgias do SUS na PB
Depois da repercussão de matéria veiculada por uma TV do Estado, a respeito de denúncias sobre o pagamento irregular de cirurgias a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), o presidente do Conselho de Saúde de Campina Grande, Silvio Alves dos Santos declarou na tarde desta quinta-feira, (10), que os profissionais arrolados no caso apresentado pela reportagem fazem parte de uma quadrilha que há anos vem se utilizando dessa prática nos hospitais.
“Há uma quadrilha muito bem organizada, orquestrada, para trazer o paciente para outra área, para fazer uma cobrança e realizar as cirurgias, os procedimentos, na maioria das vezes isso ocorre com pessoas carentes, sensibilizadas, às vezes essas pessoas comercializam o único bem que tem. Isso é um absurdo, uma desmoralização e desrespeito com o cidadão”, disse.
Segundo Silvio só hoje pela manhã ele recebeu mais de 12 ligações de pessoas que se submeteram a cirurgias pelo SUS e tiveram que pagar por fora aos médicos que a atenderam na unidade hospitalar. “Não são apenas um ou dois profissionais, mas centenas que se aproveitam das deficiências do Sistema. O que a reportagem apresentou ontem, foi um ato de cidadania e estão de parabéns, porque agora dispomos de provas”, revelou.
Além da falta de consciência, Silvio disse que tudo isso ocorre devido às deficiências existentes no SUS. “O SUS é deficiente, insuficiente, mal financiado, tem problemas graves e que se acentuam no momento que algumas pessoas passam a se aproveitar dessas deficiências para lucrar em cima e pior, lucram muito”, declarou.
O presidente revelou ainda, em entrevista, que todos os hospitais públicos, filantrópicos e privados costumam fazer três tipos de cobranças para quem utiliza o SUS, são elas: externa, SUS e Dpvat, ou seja, os médicos fazem cobranças indevidas aos usuários do Sistema, recebem pelo SUS e, em caso de acidente, recebem o valor do seguro no lugar da vítima.
“Todos eles cobram de alguma forma dos pacientes do SUS e cobra depois do próprio SUS. Em relação ao Dpvat que é um seguro que qualquer pessoa que sofra um acidente de moto ou de carro tem direito, mas não recebe porque existem profissionais especializados em resolver o problema do seguro para que possa ser pago aos médicos. Deveria haver mais rigor para liberar esse dinheiro, mas em alguns casos que foram apurados, havia sim, essa tripla cobrança”, frisou.
Silvio revelou também que em alguns casos, mesmo os médicos sabendo que o paciente está em fase terminal, que possivelmente irá morrer, vão até a casa dessas pessoas in loco averiguar os bens que ela tem e faz a negociação. “Teve gente que faleceu e a família me procurou para delatar o caso, porque tiveram que pagar com o sítio em que moravam e o familiar acabou morrendo do mesmo jeito”, disse.
Conselho Regional de Medicina
Para Sílvio Alves a solução agora é que todas as pessoas que passaram por isso, procurem os órgãos competentes para fazer denúncias, entre eles o Ministério Público ou a Polícia Federal. Segundo o presidente, não adianta denunciar ao Conselho Regional de Medicina porque eles não fazem nada.
“Sabe o que vai acontecer com esses profissionais que estão metidos nessa quadrilha? Nada. Se for depender do Conselho Regional de Medicina, breve, breve eles estarão em suas clínicas atendendo como se nada tivesse acontecido e isso foge ao Código de Ética Médico que eles parecem que fazem questão de desconhecer. O CEM é tão severo que se uma prescrição médica estiver ilegível, há punição para os profissionais de saúde, mas repito: não vai acontecer nada com esse profissionais, infelizmente”, finalizou.
Simone Duarte
PB Agora