PB Agora – O Congresso Nacional, pelo menos em tese, representa o povo. O Sr acha que esta reforma passa?
Ricardo Coutinho – O Congresso vai aprovar como já aprovou de maneira espantosa, através do balcão de negócios que essa nova política implantou. Em emendas liberadas foram R$ 2,4 bilhões; isso é algo escandaloso e dialoga muito com a anestesia em que, temporariamente, a população se encontra. Estamos na fase da normalização dos absurdos. Isto significa que a pós-verdade é mais importante que os fatos; que estamos numa era em a Justiça, o Legislativo, que é um tribunal curto, de 140 a 280 caracteres e que, quem ganhar a população, implementará o que quiser. E a população está de saco cheio de tudo isso, mas não consegue recuperar a sobriedade e a organicidade para pensar enquanto coletivo.
PB Agora – Circularam notícias em portais nacionais de que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B) poderia migrar para o PSB. Existe essa possiblidade?
Ricardo Coutinho – O PSB está aberto para qualquer pessoa com a qualidade do governador Flávio Dino e outros governadores. Acho que o PSB fez um movimento, nos últimos anos, que chamo de reencontro com a sua história passada e com a sua obrigação futura. Partido tem que se modernizar, porque a modernização é inerente à história. O mundo do trabalho está sempre mudando, tudo está mudando e é preciso perceber isso na prática da gestão socialista. E tem muita gente que talvez queira mudar de espaço. E Flávio Dino é uma pessoa perfeitamente compatível com o PSB. Todos aqueles que quiserem vir vão vir para compor e o partido vai poder escolher quem melhor possa representar de acordo com determinada conjuntura. Eu admiro muito o trabalho de Flávio Dino.
PB Agora – Os governadores da Região Nordeste têm se unido em grupo, como um bloco de defesa da Região. O Sr mesmo, quando governador da Paraíba foi protagonista, ou pelo menos uma espécie de porta-voz dos colegas nordestinos. Qual é a sua visão de Nordeste no atual contexto brasileiro?
Ricardo Coutinho – Em relação ao Nordeste, eu tenho uma visão, diferentemente de alguns cronistas nacionais. Pouco inteligentes, disseram durante a eleição passada, que o Nordeste era o atraso, porque derrotou Bolsonaro, de forma uniforme. E é impressionante a uniformidade do Nordeste. Na eleição foi, diferentemente do que esses analistas disseram, foi o voto mais pensado e mais politizado que houve. Porque o discurso raso de Bolsonaro, da violência, do antissistema, em tese ele pegaria exatamente uma grande parcela da população do Nordeste que, de acordo com eles, era quem dependia dos programas sociais. E foi exatamente o inverso: os mais ricos, os setores médios e altos votaram em Bolsonaro, influenciaram uma parte dessa população pobre, mas o conjunto do Nordeste votou na oposição a Bolsonaro, mais do que em Fernando Haddad. Votou na oposição a Bolsonaro.
PB Agora – A propósito de Nordeste, o que o Sr. achou daquele episódio entre o governador da Bahia, Rui Costa, e o presidente Bolsonaro, sobre a inauguração do Aeroporto Glauber Rocha?
Ricardo Coutinho – Eu ontem (terça-feira, dia 23/07) liguei para o governador Rui Costa para fazer-lhe uma sugestão. Eu disse: “Rui, você estava presente à inauguração popular das obras da transposição do Rio São Francisco em Monteiro. Faça uma inauguração popular do Aeroporto; chame lideranças do Brasil inteiro. Faça isso. Porque não é possível que alguém pegue uma obra que o Estado fez, e fez com dinheiro federal mandado nas gestões de Lula e Dilma e só a última parcela mandada por Temer, e esta pessoa se aproprie da inauguração, destrua a participação do Estado. Isso não existe”. Aquela inauguração popular de Monteiro foi a Woodstock da política nacional. E Lula me disse: “Aquilo ali foi a minha carta de alforria, a minha libertação; eu só estava falando para quem era nosso; eu não estava falando para o geral; eu estava falando para sem-teto, para Movimento dos Sem-Terra, para metalúrgico”. E eu fui indo sem saber o que é que iria encontrar. Aquilo foi uma mudança, e foi também um corte muito grande na perseguição contra mim; naquela época e de hoje. Existe uma perseguição contra a minha pessoa. Tudo bem, não posso fazer nada em relação à perseguição. Mas tenho a consciência absolutamente tranquila. Tão tranquila que eu nunca quis saber de foro privilegiado. Porque se quisesse estaria lá no Senado. Mas eu sei que aquelas ousadias que foram feitas, e eu faria novamente hoje, me custou e ainda vai me custar por algum tempo. Pois é: eu disse a Rui que fizesse a inauguração popular e, se quisesse me mandar um teco-teco eu iria.
PB Agora – O seu nome hoje é citado como aquele que, em se candidato, voltaria à Prefeitura de João Pessoa, com absoluta tranquilidade, já nas próximas eleições municipais. Há também quem veja o Sr. com potencial suficiente até para disputar a Presidência da República, sobretudo em função da atenção que o Sr desperta as atenções nos círculos políticos nacionais. Qual o futuro político que o Sr projeta para si? Pensa em voltar a ser prefeito de João Pessoa? Se for convocado a disputar a Presidência estaria disposto ao desafio?
Ricardo Coutinho – Na contramão até da sensatez, eu sou uma pessoa que nunca fiz planos longos. Eu decidi disputar o Governo do Estado faltando oito meses para as eleições. E saí (da Prefeitura de João Pessoa) faltando seis meses. Naquela época, deixei R$ 200 milhões nos cofres da Prefeitura. Qualquer pessoa com o senso da política local, pegaria R$ 200 milhões e torraria. Eu preferi fazer de outra forma. Da mesma forma, quanto à disputa para o Senado (em 2018), decidi muito em cima (não disputar). Eu também não sou idiota pra não saber que existe uma expectativa sobre mim em relação ao Governo Municipal. Mas eu não tenho uma decisão ainda sobre se disputarei, ou não.
PB Agora – Depende do quê?
Ricardo Coutinho – Depende de uma análise que irei fazer no futuro sobre o meu papel na política nacional. Porque a política nacional passa por uma crise muito grande. Há 20 anos tínhamos um leque de gente de tudo que era lado, de direita, de esquerda, mas que compunha um certo staf que dialogava. Você tinha um Ulysses Guimarães, um Tancredo Neves, Lula, Jarbas Passarinho, Marcos Maciel. Você tinha gente de uma elite da política que conseguia não deixar o Brasil. Hoje você não tem isso. Temos um presidente nessa condição, pensando nos absurdos todos que ele pensa; você tem um Congresso ávido por interesses localizados, em sua grande maioria. E você tem Lula como o último dos moicanos, mas atingido duramente. Por melhor que ele tenha sido o melhor presidente da República que esse País já teve não passa, aos 73 anos, um ano e meio numa prisão, e sai igual. Claro que não. Há um vácuo muito grande, e isso tem que ser do interesse das mais variadas correntes políticas. E eu estou tentando contribuir com os meus limites nacionalmente, em nome do meu partido, o PSB. Por outro lado, eu sou uma pessoa que tem uma paixão muito grande por João Pessoa. Eu fui prefeito por cinco anos e três meses e essa cidade muito mudou a mobilidade urbana, na cultura, nas artes, nos espaços de convivência, na iluminação. Eu sei como foi possível fazer isso com R$ 600 milhões, imagina com R$ 2,8 bilhões. Hoje, não há na Prefeitura capacidade nenhuma de investimento, e tudo do Governo Federal. É uma coisa inexplicável. O terceiro aspecto: eu tenho tarefas na política, sendo a principal delas estimular e abrir espaços para que pessoas novas ocupem o espaço, porque eu não posso ser eterno. Do contrário, seria uma péssima contribuição da minha parte, um desserviço. Eu tenho que facilitar a ascensão de lideranças de gente que possa fazer até melhor do que eu, para que a coisa continue andando, mesmo com outras visões.
PB Agora – Quais são os possíveis novos quadros em que o Sr. calcula que pode apostar?
Ricardo Coutinho – Pelo PSB, em João Pessoa, você tem Estela (Bezerra), Cida (Ramos), que são pessoas que amadureceram muito e têm muito poder e muito reconhecimento da população. A votação das duas foi muito importante, porque foi uma votação construída em cima de políticas públicas. Tem gente que, nesta eleição, teve voto, mas dizendo que tudo se resolve na bala, tudo é bala; que vai acabar a violência com bala. Essa estupidez não tem muito terreno pra frente. Estela e Cida, não. São duas referências construtivas. Gervásio Maia (deputado federal) é a melhor novidade que a política da Paraíba tem. Aonde eu chego, inclusive em outros Estados, as pessoas falam sobre Gervásio. Atua sem tergiversar, com posições duras, equilibradas, mas duras, fazendo o debate que é preciso fazer. Tem sido uma boa referência que a Paraíba conseguiu. Ele foi presidente da Assembleia Legislativa, e a Assembleia nunca teve tanta modificação de obras lá dentro: instalou um centro administrativo no antigo Paraíba Palace Hotel; fez investimentos na saúde. Ele tem um tino administrativo que me surpreendeu. E com redução de duodécimo. Eu reduzi o duodécimo, combinando com ele, mas era preciso reduzir.
PB Agora – Quanto a Campina Grande?
Ricardo Coutinho – Eu acho que o PSB tem que, em Campina Grande, apresentar uma alternativa que expresse esse pensamento. Eu não vou dizer nomes agora. Se olhar aquela pesquisa mesmo, ela tem um dado que parece importante (fita pelo Instituo Opinião). Ela bota 700 formulários em João Pessoa e 500 em Campina. Você não tem essa proporção. Mas ela aponta, mesmo assim, na estratificação de Campina Grande, em segundo lugar a minha pessoa, o que é uma surpresa. Sempre disseram que era um bombardeio e Campina Grande, como é que pode? Os embates lá dentro. Você para botar água pra povo, eu tive que quebrar o pau lá dentro e dizer: rapaz eu vou botar nem que seja desrespeitando, mas eu vou botar. Porque é um absurdo, você como gestor não poder acabar com o racionamento porque alguém não queria. Então, o nível da política em Campina Grande sempre foi esse. Os setores que comandam a política local pensam dessa forma. Eles são muito cruéis para com o povo e o povo talvez não tenha percebido, em sua plenitude, isso. Mas em Campina Grande eu acho que o PSB precisa afirmar uma alternativa qualitativa nessa disputa e ver aonde nós temos como apoiar os nossos companheiros e aliados. Eu acho que essa eleição vai seguir muito 2018. É preciso, naturalmente, que a gente retome o investimento no Estado, porque nós temos um ano cheio de inaugurações, mas elas são obras que foram todas elas iniciadas, em boa parte, semiconcluídas no meu Governo. Então temos ai um gap (lacuna) que é novembro, dezembro com a finalização dessas mais de 120 obras que eu deixei. É preciso ter a condição de “estartar” novas obras antes de novembro, e eu acho que o governador João Azevêdo tem essa noção. Eu fazia o seguinte, terminava uma obra e não botava o dinheiro na caixa, eu começa outra, para não inchar o Estado. A ideia é acabar um a obra e já começar a outra e outra, porque isso movimenta a economia. O Estado da Paraíba vai ter que fazer isso e ir dialogando com os nossos parceiros, com a população desses municípios todos para não perder essa lógica de ter a presença do Estado em todas as regiões.
PB Agora – Nós queremos agradecer pelo privilégio desta entrevista exclusiva e demorada. Se porventura deixamos de perguntar algo que o Sr queria dizer, fique a vontade.
Ricardo Coutinho – Eu quero agradecer. Eu não tenho dado muitas entrevistas, até para não atrapalhar a administração (de João Azevêdo) e dizer uma coisa que é muito importante para mim: eu tenho a minha consciência absolutamente tranquila. Eu fiz o que era preciso fazer na Paraíba. Fiz enfrentando muita coisa. Tentei fazer o que estava ao meu alcance. Ninguém irá empanar esse período, que foi o melhor período da Paraíba. Ninguém ache que vai jogar pedra, criminalizar pessoas com antecedência.
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