O deputado federal Romário e o filho do jornalista Vladimir Herzog, Ivo, entregaram na tarde desta segunda-feira a petição "Fora Marin" na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O documento, assinado por 54 mil pessoas, pede a saída do presidente da entidade, José Maria Marin, acusado de envolvimento na morte de Herzog durante a ditadura.
O documento foi entregue no dia que o Golpe de 1964 completa 49 anos. A ditadura militar no Brasil se prolongou até 1985, e Marin era deputado estadual por São Paulo na época em que Herzog foi preso. O presidente da CBF chegou a ocupar o cargo de governador de São Paulo entre 1982 e 1983. Mas não estava na sede da entidade, na Barra da Tijuca, para receber a petição.
Romário gostaria que o presidente da CBF se manifestasse e Ivo mostrou intenção até de conversar com Marin. "Gostaria de estar aqui me candidatando a voluntário da Copa das Confederações ou da Copa do Mundo e não vir aqui para ser recebido por ninguém. Estou disposto a conversar com ele. Tenho cinco perguntas que vão ajudar a saber qual o papel de Marin naquele tempo. Pelas informações que a gente tem, foi o pior dos papéis", disse Herzog, que não quis dizer quais são as perguntas porque Marin poderia respondê-las pela imprensa.
"A gente espera, no mínimo, uma manifestação do Marin. Esta petição, assim como dois discursos proferidos pelo Marin elogiando os métodos da ditadura, foram enviados para os presidentes dos principais clubes de futebol do país, assim como para as federações estaduais. É importante que haja uma decisão de quem tem poder de voto para definir o presidente da CBF. Se eles forem contra isso, estão demonstrando que são contra o futebol que o Brasil merece", afirmou Romário.
O deputado federal gostaria que a pressão política sobre Marin apressasse a abertura de uma CPI da CBF. "Foi colhida a assinatura de mais de 185 deputados para a abertura de uma CPI. Mas ela está parada na fila. Acredito que pelo momento do Brasil, seja de suma importância a abertura dessa CPI para o País ter noção do que faz a CBF e quem está à frente dela. Fizeram grandes coisas negativas pelo nosso futebol em pouco mais de um ano de mandato. E o presidente ainda participou de uma época obscura da nossa história", explicou Romário.
Ivo Herzog disse que tem informações de que Marin será convocado em breve para depor na Comissão Nacional da Verdade. E pontuou que o problema de sua permanência no cargo também implica uma resposta da CBF.
"Recentemente a CBF usou seu site para fazer contraponto à petiçao e a partir deste momento isso se torno um problema da entidade também e não apenas de José Maria Marin. Há pouco mais de um ano a Fundação Armstrong demitiu o próprio Lance Armstrong da fundacao porque um atleta que se dopou não podia ter um papel importante na entidade. É a mesma posição que quem assinou a petição está tendo. Tem gente mais interessante para estar à frente da CBF. É um problema da empresa CBF também. Ela é uma entidade privada, mas o povo brasileiro é acionista", afirmou Ivo Herzog.
A deputada Jandira Feghali, presidente da comissão de cultura da Câmara dos Deputados, também esteve presente na entrega da petição. "É um ato simbólico, de pressão política. Só a entrega da petição já demarca nossa posição de não permitir que, em pleno século 21, o presidente de uma entidade tão importante tenha sido ligado tão diretamente à ditadura militar e tenha ordenado a prisão de jornalistas, o que está ficando cada vez mais cristalino", afirmou ela.
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