O presidente do Senado, José Sarney (PMDB), rebateu neste domingo as críticas feitas à estatização da Fundação José Sarney, no Maranhão, nesta semana.
Em artigo intitulado "A burrice e a política", publicado no jornal O Estado do Maranhão, de propriedade da família Sarney, o presidente do Senado disse que as reações contrárias à estatização da Fundação reúnem todos “aqueles defeitos que movem o ódio político: a inveja, a burrice e a ingratidão”.
“Mais de cem mil pessoas, com presença registrada no livro de visitas, passaram na Fundação José Sarney, ponto de turismo e estudo da História do Brasil. Vejo nessa reação, reunidos, todos aqueles defeitos que movem o ódio político: a inveja, a burrice e a ingratidão”, escreveu Sarney.
No texto, que cita conversas do presidente do senado com Tancredo Neves e Jânio Quadros e faz reflexões sobre as obras de Santo Agostinho, Paul Valéry e William Shakespeare e as dificuldades da vida política no Brasil, Sarney afirmou ainda que a reação contrária à criação da Fundação da Memória Republicada foi um “injusto debate de idiotas”.
“Porque estas reflexões (sobre o ódio e a burrice na política)? É assistir o injusto debate de alguns idiotas sobre uma das maiores obras de amor e benemerência ao Maranhão que eu fiz: doar ao povo do Maranhão um patrimônio, que os outros presidentes venderam, do meu valioso arquivo de mais de um milhão de documentos, três mil peças de museu de obras de arte e uma biblioteca de mais de 30.000 livros, muitos raríssimos que acumulei ao longo de minha vida. E o fiz com grandeza, amor e desprendimento”, alfinetou.
Para defender a estatização da Fundação José Sarney, o presidente do Senado fez umas considerações nada habituais sobre a “burrice” e o “ódio e a ingratidão” na política brasileira.
“Políticos encontramos de todos os tipos. Uns são bons, outros são maus. Mas não devemos julgar os políticos somente por estes, numa generalização deformada. Em geral, os maus políticos começam pela burrice e a burrice embota. Talvez este seja o menor defeito de um mau político”, descreveu.
“Este não depende do caráter nem de qualquer formação moral. Podemos dizer ser um defeito físico de nascença, assim como um pescoço torto. São burros e pronto! E não há nenhum milagre que cure a burrice. Eu sempre brinco que Jesus fez todos os milagres: fez cego ver, morto ressuscitar, aleijado andar, mas em nenhuma passagem do Evangelho há uma de que Cristo tenha transformado um burro em inteligente”, complementou.
Sobre o ódio, o presidente do senado escreveu. “Piores são os defeitos do ódio, da inveja, da maldade, da indignidade, da mentira, da desonestidade e o maior de todos, aquele que Santo Agostinho dizia ser o mais abjeto: a traição”.
OAB
Na quarta-feira, a Assembleia Legislativa aprovou a incorporação do patrimônio da entidade para o Estado. Na sexta-feira, o projeto foi sancionado pela governadora Roseana Sarney (PMDB), filha do pemedebista.
A seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA) espera apenas a publicação da lei que estatizou a Fundação José Sarney, no Diário Oficial do Maranhão, para ingressar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a medida. A informação é do presidente da comissão de estudos constitucionais da OAB, Rodrigo Lago.
Lago disse que a lei aprovada na Assembleia do Maranhão na semana passada é inconstitucional porque não se pode fazer um culto às pessoas com dinheiro público. Ele ainda descreveu que pelo projeto de lei o Estado não teria autonomia sobre a fundação. Pelo projeto de lei, o patrono da Fundação da Memória Republicana é o presidente do Senado, José Sarney. Ele também tem direito de indicar dois dos onze membros que farão parte do conselho curador da nova entidade.
A Fundação da Memória Republicana, a partir de agora, está vinculada à Secretaria Estadual de Educação (Seduc) do Maranhão. Ela deve custar aos cofres públicos cerca de R$ 1 milhão ao ano, com base nos gastos da entidade durante o ano de 2009.
A Fundação da Memória Republicana abrigará 1,1 milhão de textos, manuscritos ou impressos, cartas, agendas de despachos, autógrafos de leis, entre outros documentos do ex-presidente da república. Os projetos sociais da antiga fundação como a banda de música do Bom Menino das Mercês também será incorporada.
IG