O jornalista Edmilson Edson dos Santos, conhecido como Sombra, disse nesta sexta-feira (5) ao G1 que gostaria de ficar cara a cara com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM). Sombra foi alvo nesta quinta (4) de uma tentativa de suborno por parte de Antonio Bento da Silva, suposto emissário de Arruda. O jornalista gravou as tentativas de negociação e denunciou o plano à Polícia Federal, que flagrou a entrega do dinheiro e prendeu Bento.
Sombra é uma das principais peças do quebra-cabeça da Operação Caixa de Pandora, que desmantelou o esquema de corrupção no Distrito Federal em novembro de 2009. Teria sido ele o responsável por convencer o ex-secretário de Relações Institucionais e pivô do escândalo, Durval Barbosa, a delatar o esquema à polícia.
Em depoimento à Polícia Federal, Bento confirmou que entregou dinheiro a Sombra. Ele afirmou, no entanto, que a articulação foi feita por Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular do governador. Já Sombra disse à PF que foi procurado para dar “uma ajuda” ao governador. Em troca do dinheiro, ele atrapalharia “a investigação da Operação Caixa de Pandora, arranjaria fitas que tivessem Valério Neves, ex-chefe de gabinete da Casa Civil do ex-governador Joaquim Roriz (PSC), recebendo dinheiro de Durval Barbosa, e fitas do próprio Roriz”.
Eu quero vê-lo [Arruda] frente a frente, cara a cara. Quero ver, quero que ele desminta na cara as conversas todas do Bento e do Wellington, que em momentos separados falam a mesma coisa”
Sombra, na entrevista ao G1, chamou de “mentirosas” as explicações de Arruda sobre a suposta tentativa de subornar o jornalista. Por meio de notas, o governador disse que Sombra é aliado de Durval Barbosa e o suposto suborno foi uma “armação” contra ele.
“Eu quero vê-lo [Arruda] frente a frente, cara a cara. Quero ver, quero que ele desminta na cara as conversas todas do Bento e do Wellington, que em momentos separados falam a mesma coisa”, disse Sombra. Wellington Moraes, secretário de Comunicação do DF, seria um dos interlocutores das negociações de suborno. Segundo depoimento de Sombra à Polícia Federal, a mando do governador, Wellington foi substituído por Antonio Bento como o intermediário.
“É bom que Arruda faça várias notinhas dessas para que a cada uma, ele se enrole mais e mais das pernas”, disse. “É uma vergonha, uma mentira atrás da outra. Esse sujeito tem que ser preso”, disse.
O advogado de Arruda, José Gerardo Grossi, disse que o governador não vai se reunir com Sombra. “O tempo do duelo já passou. A Justiça é que vai definir quem está com a razão”, disse Grossi, por meio da assessoria do governador.
‘Sem medo’
Apesar de ser considerado uma das peças-chave do escândalo de corrupção que envolve o governador, Sombra disse não ter medo de morrer. “Se eu tivesse não faria a denúncia,” disse. Ele afirmou que não pretende pedir à polícia o serviço de proteção à testemunha, como fez Durval Barbosa.
O jornalista reafirmou que Antonio Bento da Silva é amigo há “mais de 20 anos” de Arruda e foi enviado pelo governador para intermediar o suborno. Segundo ele, pela proposta final, receberia R$ 1 milhão, mais verba publicitária para o jornal do qual é dono e uma conta garantida no Banco de Brasília. Em troca, deveria assinar um documento dizendo serem falsos os vídeos divulgados por Durval Barbosa.
Sombra mostrou cópia do bilhete entregue a ele pelo deputado Geraldo Naves (DEM), que teria sido escrito por Arruda. Naves, segundo o jornalista, foi indicado pelo governador para ser o primeiro intermediário do suborno. Ainda de acordo com Sombra, no bilhete, Arruda pede ajuda e diz que o parlamentar está autorizado a fazer a intermediação.
Posteriomente, o papel de interlocutor passou para Wellington Moraes e, em seguida, para Antonio Bento, segundo depoimento de Sombra. Naves confirmou que o bilhete foi escrito pelo governador, mas negou que se tratava de suborno. Sombra classificou a explicação do deputado de “mentira cabeluda”. ‘
Armação
Na entrevista, o jornalista afirmou ainda ter “previsto” que a tentativa de suborno seria uma armação do governador do DF contra ele para “desacreditar” as denúncias de Barbosa.
“Conhecendo Arruda como eu conheço, sabia que era uma tentativa de armação contra mim”, afirmou. Para se resguardar, fez gravações nas últimas etapas da negociação. Um pequeno relógio
contendo uma câmera era utilizado para filmar os encontros com Antonio Bento, que normalmente aconteciam na própria residência de Sombra.
O jornalista depôs pela primeira vez sobre a tentativa de suborno no dia 21 de janeiro. Sombra comunicou o encontro desta quinta-feira à Polícia Federal. No entanto, segundo ele, a PF não informou que haveria flagrante e prisão. “Tomei um susto. Fiquei estático e ele [Antonio Bento], estático. Bento ainda vai saindo, ele me deixou só, mas a polícia gritou ‘parado! você está preso’. Foi aí que vi que era a [Polícia] Federal. Quando cheguei na superintendência é que me tranquilizei”, disse.
Sombra mostrou no celular registro de uma ligação de Wellington Moraes às 22h32 de quinta-feira, algumas horas depois do flagrante de suborno. Ele disse não ter atendido a ligação. Na entrevista, o jornalista afirmou ter mais provas contra Arruda, que só poderiam ser divulgadas no futuro para não “atrapalhar o andamento das investigações da PF”. “Se ele não cair agora, cai depois”, afirmou.
Outro lado
A assessoria do governo do Distrito Federal afirma que os depoimentos reforçam a suspeita de “armação”. É negado que o governador tenha mandado qualquer emissário até Sombra para negociar um possível suborno. A defesa do governador afirma que a data que aparece nos vídeos não confere com a denúncia de tentativa de suborno.
O deputado distrital Geraldo Naves disse ao G1 que “nega veemente” ter feito qualquer proposta de suborno a Sombra. “Nunca fui portador de qualquer proposta deste tipo”.
O secretário de comunicação do DF, Wellington Moraes, também negou ao G1 ter participado de qualquer negociação sobre o tema.
G1