Em depoimento enviado por escrito ao juiz federal Sérgio Moro – que é responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância –, o presidente da República, Michel Temer, afirmou ter sido procurado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, na época em que ainda era deputado federal e presidia o PMDB, para ajudar a manter Nestor Cerveró no comando da área internacional da Petrobras.
Arrolado pelos advogados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como testemunha de defesa do deputado cassado, Temer enviou na última quinta (8) oficio à Justiça Federal do Paraná com respostas aos questionamentos apresentados pelos defensores do colega de partido.
Cunha, que está preso desde outubro na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba, é réu em uma das ações penais da Lava Jato.
O G1 teve acesso a cópia do depoimento prestado pelo presidente da República. A assessoria do Palácio do Planalto confirmou a autenticidade do documento.
Temer respondeu 20 das 41 perguntas formuladas pelos advogados do ex-presidente da Câmara. Do total de questionamentos, 21 haviam sido barrados por Moro, que considerou parte das perguntas inapropriadas ou sem pertinência com o objeto da ação penal. Todas as respostas do presidente da República foram elaboradas de forma sucinta e sem maiores explicações.
Encontro com Bumlai
O presidente afirmou a Moro que conheceu Cerveró em um encontro realizado em seu escritório, em São Paulo, no qual também participou Bumlai. Temer disse ao juiz federal que não se lembra a data da reunião.
Na pergunta número 9, os advogados de Cunha indagam se o atual presidente da República foi procurado por Bumlai para tentar manter Cerveró na diretoria da estatal do petróleo.
“Sim. Como era presidente do partido, fui procurado pelo sr. José Carlos Bumlai para tratar dessa questão”, respondeu Temer.
Na sequência, a defesa do deputado cassado questiona se Temer já conhecia Bumlai e de onde. O peemedebista, então, relata que o conheceu quando o pecuarista o procurou na presidência do PMDB para discutir a situação de Cerveró na petroleira.
Temer também afirmou ao juiz federal, respondendo a uma pergunta dos defensores de Cunha, que também recebeu o próprio Cerveró para tratar da permanência do então diretor na cúpula da Petrobras.
“Sim, fui procurado por ele para tratar desse assunto”, enfatizou.
“Quando Vossa Excelência o recebeu [Cerveró]? Onde e quem estava presente?”, questionaram os advogados do ex-deputado na pergunta número 12.
“Não recordo a data precisa. Foi quando o conheci. O local foi no meu escritório em São Paulo, acompanhado do sr. Bumlai”, escreveu Temer.
Contradição
Em um dos depoimentos de sua delação premiada na Lava Jato, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou que, na tentativa de manter Cerveró na diretoria da área internacional da Petrobras – entre 2007 e 2008 –, ele pediu que Bumlai “intercedesse junto à Presidência da República”.
O pecuarista também é reú na Lava Jato, acusado de fazer tráfico de influência. Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai tinha acesso livre ao Palácio do Planalto durante os oito anos em que o petista comandou o país.
Segundo o colunista do G1 Matheus Leitão, Baiano contou aos investigadores que o pecuarista relatou ter conversado com Lula para tratar da permanência de Cerveró na cúpula da petroleira.
Ainda de acordo com o lobista, Bumlai teria lhe dito que, na conversa, o ex-presidente informou que não poderia interferir no assunto porque tinha prometido a diretoria internacional da Petrobras à bancada mineira do PMDB na Câmara dos Deputados.
Baiano disse ainda que, “seguindo a orientação fornecida por Lula”, Bumlai procurou Temer para tratar da situação de Cerveró.
Segundo o lobista, o pecuarista chegou a fazer uma reunião com Temer e Cerveró para tratar do assunto, mas disse que, na ocasião, o peemedebsita ressaltou que “não poderia contrariar a bancada mineira do PMDB”.
No entanto, em depoimento à Polícia Federal no ano passado, Bumlai afirmou que não interveio junto a Temer para ajudar a manter Cerveró na diretoria internacional da Petrobras.
Inicialmente, o PMDB negou a reunião com a presença de Bumlai, mas confirmou o encontro com Cerveró. Agora, no depoimento a Moro, Temer confirmou que recebeu o pecuarista e o ex-diretor da Petrobras em seu escritório na capital paulista.
Temer e Cunha
Michel Temer negou no depoimento enviado a Moro por escrito que tivesse conhecimento do envolvimento de Eduardo Cunha em assuntos da Petrobras e na compra do campo de petróleo de Benin, na África.
O ex-presidente da Câmara é acusado de ter recebido propina de contrato da estatal para explorar petróleo no país africano e de ter usado contas na Suíça para lavar o dinheiro desviado da petroleira.
Questionado sobre se Cunha teve alguma participação na nomeação de Jorge Luiz Zelada para a Diretoria Internacional da Petrobrás, Temer também se limitou a dizer que não tem conhecimento sobre o assunto.
G1.com.br