Categorias: Política

Traição é doutrina política na Paraíba

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Por Ytalo Kubitschek – Num dos diálogos mais cínicos do cinema, no filme A Rainha Margot (1994), Catarina de Médici diz ao genro e futuro rei da França, Henrique de Navarra: “Que é a traição? A habilidade de se adaptar aos acontecimentos”.

O ardil tinha por intenção transformar o erro em virtude para justificar a falta de princípios no ambiente sórdido da corte francesa no ano de 1572, quando as disputas sem limites pelo poder e a desmesurada ambição da nobreza fizeram dessa trama, baseada em fatos reais, símbolo perfeito do vale tudo para se dar bem.

Deixando o século XVI e voltando ao XXI, viajando da França monarquista para a República brasileira, e mais precisamente para as eleições na Paraíba, recordo também de Karl Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

Apesar da distância e guardadas devidas as proporções históricas, os principais candidatos em evidência na Paraíba preservam esse elemento clássico das relações de poder: o signo da traição na política.

Conveniências da hora

Não vou citar nomes, pois esta reflexão diz respeito a uma forma generalizada, embora a cada época, possua seus protagonistas de sucesso. Pense um pouco, amigo leitor, quantos candidatos que agora posam de críticos convictos da gestão Ricardo Coutinho estavam, num passado não muito distante, com seus partidos controlando secretarias e órgãos estaduais, administrando verbas públicas e principalmente, caladinhos, sem nada verem de errado na administração da qual eram sócios menores.

Quantos não foram fiadores do governo que agora repudiam, colocando a própria credibilidade a serviço do socialista, garantindo aos eleitores que era esse o melhor caminho, apesar das fragilidades que já se faziam sentir naquele momento.

A gestão atual, evidentemente, não é vítima passiva. No jogo do toma lá, dá cá, distribuiu cargos justamente na intenção de angariar apoio fisiológico. O que fazem todos estes senhores e senhoras? Nada mais do que aquilo que Catarina de Médici aconselhava a Henrique de Navarra: adaptação segundo as conveniências da hora. Cabe lembrar que os motivos eram os mais elevados: manter a paz entre católicos e protestantes (o que não aconteceu, terminando na fatídica Noite de São Bartolomeu).

Exceções

Sim, há algo de perene e universal no deslumbre causado pelo desejo de comandar as forças do Estado, na capacidade de converter supostos compromissos em meros joguetes de palavras. A regra, em geral, nunca foi outra que não a de “se adaptar aos acontecimentos”. Às favas com as convicções e tudo de acordo com as circunstâncias, essa é a lei para tais criaturas.

No entanto, apesar de longeva, essa regra da desfaçatez não é universal. Não foram os poucos os que romperam com essa tradição. E sempre há um preço a se pagar por desagradar aos demais.

O próprio Henrique de Navarra não deu ouvidos ao canto insinuante da rainha. Foi alvo de atentados e depois obrigado a fugir da França, para depois voltar e refazer a história, sem abrir mão das próprias convicções. Não era santo, mas era firme.

Moral

Toda batalha eleitoral pelo poder tem as Catarinas do momento.

 

Ytalo Kubitschek
Imagem: Casamento de Catarina e Henrique, pintado por Giorgio Vasar

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