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Tudo por Dilma: PT barra filiados historicos

A caminhada do PT rumo ao pragmatismo político, com alianças firmadas com partidos de centro-direita, pode ser vista sob duas óticas. Por um lado, possibilitou à legenda alcançar o maior posto eleitoral do país, a Presidência da República, em 2003. O outro ângulo revela uma diáspora petista, a partir do rearranjo de prioridades dentro da sigla. Mais do que isso, faz crescer uma lista de aliados antes preferenciais, e até de membros do próprio partido relegados no plano eleitoral, em prol da aliança com partidos como PMDB e PR.

Somente no atual xadrez eleitoral, pelo menos cinco candidatos petistas, ou de aliados históricos, ficaram pelo caminho para não por em risco os planos da legenda de renovar a estadia no Palácio do Planalto, com Dilma Rousseff (PT). Nomes com forte potencial eleitoral, Fernando Pimentel (PT-MG), João Paulo (PT-PE), Lindberg Farias (PT-RJ), Antônio José (PT-PI) e Flávio Dino (PCdoB-MA) tiveram os planos políticos prejudicados em razão das alianças nacionais do PT, em especial o acordo fechado com o PMDB. “O PT decidiu adotar o pragmatismo para conseguir chegar ao poder e isso, naturalmente, produziu uma mudança de espírito do partido”, resume a deputada federal, e ex-petista, Luíza Erundina (PSB-SP).

Com planos políticos de virarem governadores, Pimentel, Lindberg e Antônio José tiveram de limitar o horizonte eleitoral. Os dois primeiros ganharam do partido a legenda para o Senado Federal. O último ainda não tem o futuro garantido e pode acabar tentando a reeleição à Câmara dos Deputados. Dentro do Maranhão, Flávio Dino até conseguiu garantir o apoio petista. Mas o pragmatismo eleitoral fez o diretório nacional do PT retirar o apoio em nome da candidatura de Roseana Sarney (PMDB). Dino teve de se contentar em virar candidato nanico, com o apoio do próprio partido e do PSB.

Greve de fome

Em protesto contra a decisão, o deputado federal Domingos Dutra (PT-MA) chegou a fazer greve de fome de uma semana no plenário da Câmara e praticamente abandonou a disputa pela reeleição. “O José Sarney fez questão de dobrar o PT do Maranhão por uma questão pessoal. Só que nós, internamente, decidimos ficar com o Dino. A eleição da Dilma está praticamente garantida, mas o diretório nacional, por medo do Sarney, praticou uma violência contra a militância e contra a própria democracia”, reclama Dutra.

Para o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, a mudança na política de alianças da legenda foi necessária para que o partido se consolidasse em plano nacional, com reais chances de dirigir o país. Um dos reflexos dessa nova realidade é o número de candidatos do partido a governador, nos estados e no Distrito Federal. Em outubro, apenas 11 petistas disputarão o controle dos governos. A média histórica era de 20, por eleição, até 2002. “A partir do momento em que você alcança a Presidência, não há mais necessidade de se marcar posição, o trabalho é manter o projeto. Para isso, precisamos de alianças. Em política não dá para fugir da realidade. Antes, lançávamos candidatos somente para marcar posição, mas elegíamos poucos. Agora, serão 11 com boas chances de vitória”, justifica Dutra.

Aliados ficam pelo caminho

Os aliados deixados pelo caminho na atual pré-campanha estão bem distantes do número de políticos ligados ao PT que, nos últimos anos, decidiram trocar de legenda em protesto contra o pragmatismo adotado pelo partido. Desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, as alianças com siglas de centro-direita, de forma direta ou indireta, causaram a desfiliação de, à época, deputados federais, como Chico Alencar (PSol-RJ), Babá (PSol-RJ), Ivan Valente (PSol-SP), Luciano Zica (PV-SP) e Maninha (PSol-DF). Entre os senadores, a lista inclui José Nery (PSol-PA), Flávio Arns (PSDB-PR), Cristovam Buarque (PDT-DF), Heloísa Helena (PSol-AL), que terminou o mandato em 2006, e Marina Silva (PV-AC).

A primeira leva saiu do partido depois do escândalo do Mensalão. A maior parte dos insatisfeitos optou por criar o PSOL. Dos parlamentares que desembarcaram na nova legenda, apenas Valente e Alencar conseguiram se reeleger para a Câmara dos Deputados. Helena tentou a Presidência, sem sucesso. Nery tem mandato no Senado até o fim do ano. Maninha e Babá não conseguiram alcançar cargos eletivos. Para analistas políticos, a diáspora petista provocada pela nova ordem política do partido levou à perda de parte do eleitorado de classe média, intelectualizado, que tradicionalmente votava na legenda.

Por essa tese, em um hipotético segundo turno acirrado envolvendo José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), os dois candidatos teriam de investir pesado para atrair essa fatia do eleitorado. “O problema é que para conquistar esse perfil de eleitor, o PT teria de retomar o discurso ético, perdido no primeiro mandato de Lula. Só que as alianças programáticas tornaram essa tarefa quase impossível”, pondera o cientista político da Universidade de Brasília, Ricardo Caldas.

De acordo com especialistas, o próprio candidato a vice de Dilma, Michel Temer, pode se colocar como obstáculo para essa tarefa. O peemedebista foi citado no fim do ano passado em duas operações da Polícia Federal — na Caixa de Pandora, que investigava o mensalão no Distrito Federal e na Castelo de Areia, que apurou contribuições ilegais de campanha pela empreiteira Camargo Corrêa. Temer negou as suspeitas.(II)

À deriva

Em nome da aliança com o PMDB, o PT se viu forçado a acabar com as pretensões eleitorais de membros do próprio partido. Conheça alguns nomes que precisaram mudar os planos para disputar o pleito deste ano:

Fernando Pimentel (PT-MG)

Postulante ao governo de Minas Gerais, teve de abandonar a disputa em função da aliança nacional com o PMDB. Recebeu como consolação um lugar na disputa pelo Senado e a coordenação da campanha de Dilma Rousseff à Presidência.

Antônio José (PT-PI)

O deputado federal era o escolhido pelo governador Wellington Dias para a sucessão no governo do Piauí. Acabou preterido por Wilson Dias (PSB). Ficaria, então com a vice. Em seguida, foi atropelado pelo PMDB, que abocanhou a vaga. Sobrou uma cadeira não confirmada ao Senado. Em resposta às expectativas iniciais, pode acabar candidato à reeleição na Câmara dos Deputados.

João Paulo (PT-PE)

O ex-prefeito do Recife era o nome forte do partido para o Senado em Pernambuco. Para o governo, os petistas já estavam fechados em torno da reeleição de Eduardo Campos (PSB). Para fechar aliança com o PTB, que lançou Armando Monteiro ao Senado, o partido teve de escolher entre o ex-ministro da Saúde Humberto Costa e João Paulo. Mesmo liderando as pesquisas de intenção de voto, João Paulo tinha pouco apoio entre os militantes pernambucanos. Acabou desistindo da candidatura para tentar uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Lindberg Farias (PT-RJ)

O ex-prefeito de Nova Iguaçu é um nome emergente no PT fluminense, tradicionalmente fraco no estado. Iniciou uma briga de nervos com o governador Sérgio Cabral (PMDB), de olho na sucessão ao Palácio das Laranjeiras. O confronto se estendeu por meses, até o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, intervir e jogar Lindberg para escanteio — no caso, a candidatura ao Senado. Em nome da aliança nacional com o PMDB, o PT fluminense comporá o palanque de Cabral, candidato à reeleição.

Flávio Dino (PCdoB-MA)

O deputado federal lançou-se candidato ao governo do Maranhão e conseguiu o apoio do PT no estado, além do PSB. O plano estava fechado, mas havia ainda uma pedra, chamada Roseana Sarney (PMDB). A governadora bateu o pé pelo apoio dos petistas. Como a decisão do diretório regional do partido havia se dado por uma diferença de apenas dois votos, a direção nacional do PT decidiu anular a decisão e forçou o apoio a Roseana. A manobra transformou Dino em candidato nanico, com apenas o PSB no palanque. O deputado ainda tenta recuperar parte da musculatura eleitoral, atraindo o PDT.

 

 

CB

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