Hoje em dia, a corrupção no Brasil é tanta que chegamos a duvidar se é possível debelá-la ou pelo menos mantê-la sob controle para que não impregne a sociedade e as instituições de tal forma que as pessoas passem a achar normal a sua existência e dela participem em maior ou menor grau.
Este é o risco que corremos. O Estado brasileiro é literalmente um caso de polícia. Mas, não temos polícia para o trabalho de investigar, além do que, por estar, em parte, contaminada pela corrupção, precisar também a polícia de outra polícia para investigá-la.
Caros leitores, os gastos dos contribuintes para manutenção – o custo-benefício – do aparelho de estado encarregado do combate à corrupção são elevados e têm alcançado resultados pífios, sendo a impunidade regra, fomentada por uma legislação leniente e inapta para conduzir os meliantes à cadeia e consequente recomposição do patrimônio público desfalcado pela roubalheira.
Quando jovem e sonhador, o cenário que afigurava-se no horizonte dos meus maduros anos, era a de um Brasil desenvolvido e respeitado no cenário das nações por termos construído uma sociedade plural, democrática, justa, ordeira, solidária e sem miséria, onde imperava a lei e diante da qual todos eram tratados igualmente.
Sonhava com paz, educação, saúde, trabalho, segurança e prosperidade não só para mim, meus familiares e amigos, mas para todos os brasileiros.
Tais objetivos seriam alcançados num ambiente onde floreceria, pela primeira vez, nos tempos modernos e em grande escala neste ensolarado pedaço tropical do mundo, um Estado de Leis, um Estado de Direito com instituições fortes e respeitadas e quando ocorresse fato contrário à lei, o responsável seria julgado e se culpado, punido.
– Pergunto-me para onde foi esse Brasil? – Quando saiu dos trilhos que deveriam tê-lo conduzido ao patamar de excelência referido?
As respostas, caros leitores, podem até parecer óbvias, mas não são. Sou daqueles que acreditam que cada um de nós tem a sua parcela de responsabilidade, assim como cada governo instaurado durante a fase republicana.
Entretanto, podemos queimar algumas décadas, retroagir meio século e chegar ao início dos conturbados anos 60, com a tresloucada renúncia do presidente Jânio Quadros – que objetivava voltar com poderes imperiais -, seguida da tentativa frustrada de socialização de João Goulart, da sua deposição pelos militares e da repressão violenta levada a cabo pela chamada “Revolução de 1964”, a qual cooptou a maioria da população com a promessa de um “Brasil Grande” e de “extirpar a corrupção”. Esta, infelizmente, continuou a vicejar mesmo debaixo das fardas e dos coturnos dos militares inebriados pelo poder com que sempre sonharam depois de Floriano.
O poder tem essa força que inebria os egos e flexibiliza conceitos e valores ético-morais de muitos homens.
Depois de 1985, vieram os regimes civis, onde, aos poucos, as sementes do maltrato e apropriação da coisa pública, antes até comedidas, se multiplicaram no solo fértil da corrupção ampla, geral e irrestrita, dando origem a formidável cultura que hoje contamina o tecido social, político e econômico da nação.
Estou convicto, da existência de um operoso método, bem brasileiro, de plantar e colher os frutos da corrupção que ataca órgãos do governo gestores de dinheiro público, ciente de contar com amplas possibilidades de sucesso e o beneplácito da impunidade.
No Brasil, o difícil é prender criminosos de colarinho branco, os engravatados, as crias e os afilhados do sistema, os maus políticos (ainda existem os bons), que usufruem de uma rede de proteção que conduz à ineficácia da aplicação das leis vencidas pelo formalismo do ordenamento legal, pela lerdeza da máquina judiciária, pelos benefícios de responder aos crimes em liberdade, liberdade essa que pode durar mais de uma década, até que sejam julgados – quando são – e que culmina, geralmente, na impunidade absoluta.
Há um pacto de silêncio (?) – lembremos Sartre: “o silêncio é cúmplice e reacionário” — e se este é rompido, como vimos no “Escândalo do Mensalão” após o ex-deputado Roberto Jefferson revelá-lo, aí surge, aos poucos, a imensa rede de proteção aberta sobre beneficiados e sócios da corrupção. Os protetores, no afã de desqualificar os crimes e a acusação dizem até que tudo não passou de um simples Caixa 2, que isso sempre existiu no Brasil e, enfim, não aconteceu o que amplamente provado.
A propósito, quando deixará de ser atual a indagação do famoso verso de Renato Russo, filho ilustre de Brasília: — Que país é esseee?
Na certa, não é o país que ele, eu e muitos da minha e de outras gerações sonharam…!
Acredito, pelo seu passado de lutas, que também não é o Brasil sonhado pela presidente Dilma Rousseff, herdeira de um sistema corrupto organizado e operante em níveis “nunca antes visto na história deste país”.
A presidente, contra a sua vontade, é refém da corrupção, pois praticamente toda governança pública está contaminada, salva-se pouco. Os partidos políticos de sustentação do governo ou parcelas que os integram, têm se mostrado incapazes de funcionar sem o benefício dos seus frutos malditos, essa é a triste verdade.
A nação sangra, caros leitores, rios de sangue fluem de suas veias abertas para matar a fome dos sanguessugas que se alimentam dos parcos dinheiros públicos. A briga política, quase sempre, não é travada para beneficiar o povo e sim o contingente formado por políticos e afilhados que exercem parcelas significativas de poder na Administração Pública.
Tal sangue é derramado pela violência urbana e rural, por pessoas covardemente mortas nos campos, nos assaltos das ruas e nos estúpidos crimes de trânsito, pelos que falecem sem atendimento médico nos hospitais públicos, pelos que sucumbem a doenças causadas ou potencializadas pela desnutrição e pela fome, pelas crianças que não comem os lanches da merenda roubados das escolas, pela falta ou péssima educação fornecida pelo estado que condena gerações à ignorância, ao subemprego e à criminalidade.
A corrupção, para ser vencida, precisa despertar a indignação geral da nação. Muitos outros povos já teriam saído às ruas e lotado praças exigindo o seu fim. Neste ponto, a passividade do brasileiro é irritante e prejudicial, pois mais de 80 anos depois do ínclito Ruy Barbosa ter dito: ”Tudo envidei por inculcar ao povo os costumes da liberdade e à república as leis do bom governo, que prosperam os Estados, moralizam as sociedades, e honram as nações (…)", comprova-se que o respeito às leis no Brasil continua sendo apenas uma miragem.
Poderíamos, parodiando o poeta Castro Alves, repugnar à corrupção como fez em relação à escravidão e indagar: “Será loucura, será verdade, tanto abuso perante os céus?!”
Quando eleito o presidente Lula, uma das nossas esperanças era que trabalhasse com afinco, como um legítimo filho do povo, se não para vencer, ao menos para diminuir a corrupção que grassa no país. Pelo visto, a realidade mostra que a roubalheira só cresceu, pois, ao que se avalia, o ex-presidente sequer sinalizou para o seu combate efetivo.
Já agora, a utopia é que Dilma Rousseff escreva seu nome na história brasileira como a presidente que rompeu com o sistema carcomido e podre que suga o país e o libere da peste que devora os tecidos sociais da nação com desvios e apropriação de recursos que pertencem ao povo.
A hora é de indignar-se e apoiar a presidente, mas falta o povo nas ruas, nas praças, nas escolas, nas universidades, nos clubes, nas igrejas, nos estádios, nos lares, a exigir o fim da corrupção. A propósito, disse Martin Luther King: “Não me preocupa o grito dos corruptos, mas o silêncio dos inocentes”.
Diante das pressões intramuros e intragoverno que sofre a presidente, cercada que está pela corrupção por todos os lados e direção em que caminhe, há fundados temores pela sua saúde frágil se decidir realmente enfrentar tão grande embate, mas se isso ocorrer, que Deus e o apoio do povo a segure e fortaleça.
A presidente, ao contrário do antecessor, é decidida, como deu exemplo mandando demitir os responsáveis por corrupção no Ministério dos Transportes, DNIT, VALEC, INCRA, Ministério do Turismo, Ministério da Agricultura e o reincidente Chefe da Casa Civil, ex-ministro Antonio Palocci enrolado com portentoso enriquecimento.
Ultimamente, fala-se até em desvios no Ministério do Exército e alguns oficiais superiores estão sob suspeita de envolvimento em fraudes em licitações de obras do PAC, conforme noticiou o jornal “Folha de São Paulo”. Sinceramente, torço para não seja verdade, pois é importante que o estamento militar não seja contaminado como o foi o político.
Portanto, ao que parece, no governo, poucos se salvam, pois há um Brasil realmente grande de corrupção.
Se pudesse dar um conselho à presidente, seria na linha do resgate de sua luta política da juventude: – rompa com o sistema que mantém e alimenta a corrupção; convoque os homens e mulheres de bem para governar o país, independente do partido ao qual pertençam e os que não integram partido algum e faça um governo de resgate e de salvação nacional.
– Contrate empresas privadas de auditoria, inclusive internacionais, para sob a coordenação do Tribunal de Contas da União e dos Estados e com participação do Ministério Público, auditar contas e contratos do governo federal e os que tenham verbas da União celebrados por Estados e Municípios. Quem for ladrão, que seja desmascarado e entregue à Justiça a fim de ser julgado e punido como manda a lei.
Aí senhora presidente, seu legado jamais seria esquecido, seu nome estaria para sempre inscrito no panteão dos heróis da Pátria e nossos sonhos poderiam, enfim, ser retomados, não com base em simples esperança, mas com a certeza da construção de uma Pátria amada e salva da corrupção.